01/12/2014 - 10:00
O mercado brasileiro de mobiliário corporativo não vai se esquecer de 2014. As boas lembranças ficarão por conta dos contratos milionários com os estádios da Copa do Mundo, que somaram mais de R$ 200 milhões em receitas. Pelo lado negativo, o ano ficou marcado pela falência da principal empresa do setor, a Giroflex, que chegou a fornecer cadeiras para o Maracanã, no Rio de Janeiro, e para o Beira Rio, em Porto Alegre, mas fechou as portas em junho, vergada por dívidas de mais de R$ 80 milhões. Nesse cenário, quem se deu bem foi a paulista Flexform, com sede em Guarulhos, que correu para conquistar os espaços deixados pela antiga concorrente, assumindo parte dos clientes e dos fornecedores. E conseguiu.
Uma das maiores fabricantes mundiais de cadeiras para estádios, a americana Irwin migrou seu contrato de fornecimentos de assentos, que havia celebrado com a Giroflex, para a Flexform, assim como o fizeram a japonesa Okamura e a canadense, especializada em móveis para aeroportos, Arconas. No varejo, a Flexform tratou de negociar rapidamente, em menos de 30 dias, com grandes lojas do setor, como a carioca Móbile e a mineira Mobília, que antes representavam a Giroflex. E mais: a Flexform e a Irwin irão disputar as licitações para o fornecimento dos assentos dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
“Não teve jogo da Copa por aqui”, afirma Pascoal Iannoni, presidente da Flexform. “Enquanto as pessoas assistiam às partidas, nós corríamos de uma reunião para outra para ampliar nossas operações.” Além de herdar parte dos negócios da Giroflex, a empresa de Iannoni, que está às vésperas de comemorar 50 anos de operações, incorporou o know-how da antiga concorrente ao contratar executivos que haviam perdido o emprego após sua falência. Os profissionais vieram para reforçar as equipes dos departamentos comerciais, de marketing e de novos produtos.
“Até meus filhos participaram desse intenso processo de negociações”, diz Iannoni, filho do fundador da Flexform. “Mandei minha filha para o Japão discutir com fornecedores de lá.” A ofensiva da Flexform, em um primeiro momento, não representará aumento do faturamento. Segundo Iannoni, as despesas para ampliar suas operações e o baixo crescimento da economia neste ano farão com que, na melhor das hipóteses, se repita o faturamento de R$ 160 milhões registrados em 2013 (em seu auge, no início dos anos 2000, a falida Giroflex chegou a registrar vendas de R$ 200 milhões).
No entanto, o presidente da Flexform acredita que os novos parceiros darão condições para a empresa crescer 25% ao ano, a partir de 2017, com receitas superiores a R$ 300 milhões. “Toda a mudança de gestão, com profissionalização, está sendo feita para isso”, diz Iannoni. Para o coordenador do curso de design de interiores da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Milton Francisco Júnior, a Flexform tem condições de substituir a Giroflex no mercado, sem prejuízo aos clientes e aos fornecedores. “A Flexform tem uma indústria de qualidade e gestores capazes de fazer a empresa despontar nessa corrida”, afirma Francisco Júnior.
Parte da estratégia da Flexform passa pela verticalização da produção. De pequenas peças metálicas até a espuma utilizada, 98% dos componentes das cadeiras são produzidos internamente. “Só não fazemos o tecido”, diz Iannoni. Para ele, a terceirização enfraquece a qualidade do produto, além de comprometer o controle de custos. Basta ver o que aconteceu com a Giroflex, que na maior parte de sua existência era uma empresa verticalizada. A substituição desse sistema, em seus últimos anos, pela produção terceirizada teria sido um dos principais motivos que a levaram à quebra. Iannoni também descarta outra experiência da Giroflex, a de se transformar numa fabricante de móveis para escritório. “Preferimos manter a especialização, pois os maiores avanços em tecnologia nesse mercado estão nas cadeiras”, afirma.