Ciência e política se uniram na década de 1980 para evitar destruição de “protetor solar” da Terra. Rápida ação evitou desastre e também contribuiu para conter emissões que causam o aquecimento global.Nos anos 1980, a camada de ozônio mexeu com a imaginação do público, enquanto os cientistas alertavam que sua contínua destruição poderia ter consequências catastróficas para a humanidade e para o planeta.

Esses alertas impulsionar os acordos ambientais de maior sucesso da história criados para reverter os danos na cama de ozônio. Mas, apesar do avanço alcançado naquela época, os buracos na ozonosfera ainda continuam aparecendo, nessa camada que funciona como um protetor solar da Terra.

Localizada na estratosfera, entre 15 e 30 quilômetros acima da superfície terrestre, essa camada é composta de ozônio, um gás altamente reativo. Apesar de possuir, em média, apenas três milímetros de espessura, ela protege a vida na Terra ao absorver e dispersar dois tipos de radiação UV gerados pelo Sol.

Sem ela, os humanos sofreriam mais casos de câncer de pele, problemas nos olhos e enfraquecimento do sistema imunológico. A produtividade agrícola seria prejudicada devido aos danos causados ao crescimento das plantas, e as cadeias marítimas de alimentação seriam interrompidas.

Nos anos 1980, os cientistas descobriram que clorofluorcarbonetos (CFCs) – gases sintéticos utilizado em aerossóis de sprays de cabelo, em geladeiras, aparelhos de ar-condicionado e espumas isolantes – causavam enormes danos à camada de ozônio.

O CFC flutua até a estratosfera, onde a exposição à radiação UV o desintegra em substâncias como o cloro, que, por sua vez, separa as moléculas de ozônio. Esse processo afina a camada de ozônio, o que é normalmente descrito, equivocadamente, como o “buraco de ozônio”. Isso ocorre acima da Antártida em razão das baixas temperaturas, que aceleram esse processo químico.

Como a camada de ozônio foi salva

Em meio a uma enormidade de histórias ambientais com finais tristes, a da camada de ozônio oferece um lampejo de otimismo.

O Protocolo de Montreal, concluído em 1987, foi um acordo global criado para eliminar da atmosfera as chamadas substâncias destruidoras da camada ozônio. Até hoje, 99% dessas substâncias foram eliminadas de maneira escalonada, o que, segundo estimativas, pode ter evitado o surgimento de dois milhões de casos de câncer de pele, graças ao Protocolo.

“Graças a um acordo global, a humanidade evitou uma enorme catástrofe de saúde em razão da radiação ultravioleta que jorraria através de um gigantesco buraco na camada de ozônio”, comemorou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em 2022.

Isso, porém, não quer dizer que o problema esteja no passado. O afinamento na camada de ozônio ainda aparece anualmente sobre a Antártida, variando em forma e tamanho devido a mudanças na temperatura e circulação estratosféricas.

Nos últimos anos, o fenômeno tem aparecido em dimensões consideravelmente grandes. Um buraco que apareceu em setembro de 2023 foi um dos maiores já registrado, chegando a 26 milhões de quilômetros quadrados – uma área aproximadamente três vezes maior do que o território brasileiro.

Apesar de os cientistas não conseguirem explicar completamente o fenômeno, eles acreditam que pode ter ocorrido em consequência do aerossol liberado por erupções vulcânicas massivas no sul do Pacífico, em 2022, e do esfriamento da camada superior da estratosfera causado pelas mudanças climáticas.

O que se sabe, contudo, é que estas são anomalias em meio a uma tendência geral de recuperação. Espera-se que nas próximas duas décadas a camada de ozônio possa se recuperar até atingir a média global de 1980; até 2066 na Antártida e 2045 no Ártico.

Camada de ozônio e mudanças climáticas

Sem o Protocolo de Montreal, o aquecimento extra da Terra poderia chegar a 2,5º C até o final do século, afirma um estudo de 2021 publicado na revista científica Nature.

Os esforços para salvar a camada de ozônio ajudaram a desacelerar as mudanças climáticas, pois muitas substâncias destruidoras da camada ozônio podem provocar o efeito estufa. Segundo estimativas, o Protocolo de Montreal evitou emissões equivalentes a 135 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera entre 1990 e 2010.

Sem a proteção da camada de ozônio, as florestas, a vegetação e o solo armazenariam 580 bilhões de toneladas de carbono a menos.

O protocolo foi mais tarde reforçado pela Emenda Kigali de 2016, que possibilitou a eliminação escalonada dos hidrofluorcarbonetos, que causam o efeito estufa, em geladeiras e aparelhos de ar-condicionado.

A escala e a rapidez da ação internacional para salvar a camada de ozônio é vista por muitos como uma evidência inspiradora de como é possível lidar com a crise climática. Entretanto, um relatório da ONU de 2023 alertou que tecnologias inovadoras de combate às mudanças climáticas, como a geoengenharia, podem ter impactos negativos sobre a camada de ozônio.

Um tipo de geoengenharia conhecida como injeção de aerossol ne estratosfera – que injeta gases que refletem a luz solar na atmosfera para reduzir o aquecimento global – pode modificar a temperatura, circulação e a produção de ozônio na estratosfera, contribuindo para aumentar os índices de destruição.