23/11/2005 - 8:00
O mercado de artigos de luxo é regido por uma aritmética peculiar, onde muitas vezes menos quer dizer mais. E é exatamente essa lógica que está guiando a reestruturação da grife suíça de relógios Breitling por aqui. Em menos de três meses a empresa reduziu de 45 para 30 o número de revendas. Foram descredenciadas redes de Goiânia (GO) e Maceió (AL), por exemplo, cidades consideradas pouco atrativas para o perfil sofisticado da marca. À frente desse processo está David Szpiro, diretor-geral da Breitling do Brasil. Segundo ele, o encolhimento foi a forma encontrada para garantir a retomada do negócio em bases mais sólidas. ?Queremos multiplicar as vendas por quatro, chegando ao patamar de 2,5 mil unidades por ano até 2010, quando estaremos em 50 revendas?, conta Szpiro. Para atingir essa meta prá lá de ambiciosa (afinal, atualmente são vendidos somente 600 relógios a cada ano), Szpiro recebeu carta-branca para comandar a divisão, aberta em setembro último. Além de redimensionar a rede, ele já investiu R$ 150 mil na instalação de uma oficina própria, situada no Rio de Janeiro. Os relojoeiros fizeram curso de aperfeiçoamento na fábrica de Granges, na Suíça. O executivo também retomou os investimentos em marketing, cujo orçamento foi definido em R$ 1 milhão por ano. A decisão da Breitling de montar a subsidiária deveu-se à percepção de que o trabalho da joalheria Natan ? responsável pela importação dos relógios nos últimos 15 anos ? havia ?batido no teto?. Além disso, indica que o mercado brasileiro assumiu um papel mais relevante aos olhos da corporação suíça, que mantém filiais apenas em outros três países: Estados Unidos, Inglaterra e França. ?O divórcio foi amigável?, diz Sergio Kimelblat, diretor-presidente da Natan. ?Prova disso é que vamos continuar exibindo os relógios Breitling na vitrine de nossas lojas?.
O sucesso de Szpiro, recrutado na parceira Natan, dependerá de algo mais que boa vontade e investimentos. De acordo com Liberato Chiovitti, especialista em relógios clássicos, os modelos da Breitling têm a vantagem de serem robustos, o que chama a atenção dos marmanjos. Mas a marca ainda não conseguiu ser percebida como ?sinônimo de luxo? no Brasil, com a mesma força das rivais Rolex e Cartier, por exemplo. E essa batalha o diretor Szpiro espera vencer no ponto de venda. Para isso, ele pretende treinar as equipes que atuam em todas as revendas da marca suíça. O objetivo é mostrar-lhes o verdadeiro espírito Breitling. ?Trata-se de um relógio desenhado para o homem que gosta de aventura, valoriza acessórios sofisticados e com elevado grau tecnológico?, destaca.
Criada em 1884 por Léon Breitling, a grife tornou-se rapidamente um objeto de desejo de amantes da aviação. Seus cronógrafos de precisão adornam o braço de pilotos das forças aéreas de diversos países (Inglaterra, Itália e Suíça, por exemplo). A produção passa por um rígido controle de qualidade. Cada relógio possui cerca de 600 peças e demora até quatro semanas para ser montado. Tudo é feito à mão. Apenas para efeito de comparação, um modelo convencional tem 80 itens. Tamanha sofisticação se reflete no preço, que varia de R$ 4 mil a R$ 11 mil. No caso das edições limitadas, como o recém lançado Breitling for Bentley Turbillion, é preciso desembolsar US$ 150 mil (cerca de R$ 330 mil). ?São usados aço cirúrgico, ouro branco e platina na composição desse modelo?, destaca o diretor da filial brasileira. Apesar de todo otimismo, Szpiro não acredita que exista mercado para uma peça desse calibre por aqui. Ao menos por enquanto