03/11/2004 - 8:00
Como muitos dos costumes modernos, ele deixou o nicho dos especialistas para cair na boca do povo por meio do badalado seriado Sex and The City. Bastou que as quatro moças da TV entrassem num restaurante de raw-food (comida crua, em inglês) para virar tendência. Em português o nome é um pouco mais exótico ? crudivorismo ?, mas o sabor é o mesmo. Versão radical da alimentação vegetariana, essa nova onda gastronômica proíbe carne, mesmo que ela passe a anos- luz de distância do fogo. As especialidades são variadas. Aveia germinada liqüefeita com abóbora, alho e gengibre, palmito fresco em cubos e coentro picado. Ou então abóbora com couve-flor moída, amendoim germinado, alho e cebolinha, tudo temperado com curry, limão e sal marinho. ?É um tipo de dieta capaz de curar doenças?, diz o gastroenterologista carioca Alberto Gonzalez, dono de um bistrô, no Rio, especializado neste estilo à mesa. Ali ele acompanha 55 famílias, freqüentadoras contumazes, que depois de dois meses demonstraram melhora nos distúrbios gastrointestinais.
Há trabalhos nos EUA que demonstram, ainda, bons resultados no tratamento de diabetes, doenças degenerativas neurológicas, depressão e câncer. ?Uma dieta orgânica e crua induz à revitalização de funções celulares latentes pela extrema aridez da dieta urbana?, afirma Gonzalez. Ele aponta outros benefícios à saúde. ?As carnes perdem aproximadamente 96% da vitamina após o cozimento?, diz. ?Além disso, nos alimentos crus há bactérias que melhoram a função intestinal, aumentam a imunidade.?
Não é opinião unânime. Nutricionistas acreditam que o crudivorismo causa deficiência em vitamina B12, fundamental na formação do sangue. A discussão médica não atrapalha o avanço dos adeptos da culinária totalmente verde. No dia 8 de novembro, em Florianópolis (SC), será aberto o 36º Congresso Vegetariano Mundial, que reunirá no País os grandes chefs do ramo. Também no próximo mês será inaugurado em São Paulo o primeiro restaurante brasileiro de raw-food. O proprietário, Flávio Hernandez, diz que a proposta é agradar vegetarianos e atrair curiosos. ?Todos poderão experimentar uma comida gostosa e saudável?, diz. ?Não é preciso alimentar preconceito, porque nossa cozinha é contemporânea, temos até pizza.? A batalha, agora, é conquistar o paladar dos brasileiros. ?Há ainda muita rejeição diante da comida vegetariana?, diz Gilberto Angelo, chef e proprietário do restaurante Sattva, um dos mais tradicionais de São Paulo.
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