11/06/2003 - 7:00
O empresário Artur Azevedo marcou suas férias entre os dias 20 e 31 de maio. O período escolhido coincidiu com a ausência de jogos do Cruzeiro em Belo Horizonte, onde Azevedo mora e comanda o grupo Seculus, controlado por sua família. Fanático pelo time de camisa azul, ele recita sem vacilar escalações do passado e, claro, adora gozar os torcedores do Atlético Mineiro, o eterno rival. São seus poucos momentos de exaltação. Fora isso, Azevedo assume o ar simplório, mineiro por excelência, de poucas e calculadas palavras, sobretudo na hora de falar de seus negócios. ?Somos um grupo de empresas pequenas, médias e um pouquinho maiores, porque empresas grandes mesmo, não temos nenhuma?, afirma ele. Excesso de mineirice. Vamos às apresentações. O Seculus
reúne 14 companhias em setores diversos como previdência
privada e imobiliário. Trata-se do maior fabricante de jóias
do País. No setor de relógios, é o terceiro no mercado brasileiro e exporta para mais de 15 países. O faturamento declarado atinge
R$ 230 milhões ? mas há quem ache uma cifra modesta, diante do porte dos negócios da Seculus.
Se depender do próprio clã esse valor será maior. Este ano, a Seculus pretende faturar 40% a mais do que em 2002 com relógios, atualmente seu principal negócio. Para isso, prepara o lançamento de 80 novos modelos e uma investida sobre o Estado de São Paulo, onde se concentram 26% das vendas do País. Com forte presença em Minas Gerais e em outros Estados, a Seculus é pouco conhecida pelos paulistas. O mesmo ocorre com suas duas outras marcas, a Flash, de perfil mais esportivo, e a Lexus, para o público jovem. ?Vamos lançar uma terceira marca, mais sofisticada?, diz o diretor Alexandre Azevedo, filho de Artur. O número de pontos-de-venda, hoje em 7 mil, deve atingir 12 mil. ?Queremos brigar pela liderança?, diz ele. Aos 31 anos, formado em Direito, Alexandre comanda a área de relógios. Os principais postos de comando da Seculus estão nas mãos de familiares. É um quadro em mutação. Os planos de expansão incluem a profissionalização do organograma. Até mesmo por uma questão aritmética. As três gerações dos Azevedo reúnem 75 pessoas. ?Famílias crescem mais rápido do que empresas?, diz Artur. ?Não há companhia capaz de carregar todos os descendentes.?
Só acionista. Há três anos, um discreto programa de sucessão é realizado na Seculus. Oito holdings foram criadas para abrigar as diversas alas familiares. São elas as acionistas da Seculus, não as pessoas físicas. Os Azevedo com cargos na empresa foram avaliados por uma consultoria independente. Vários deles partiram para outras atividades. Hoje o organograma abriga 20 familiares.
Já foi o dobro. A vida está mais difícil
para um Azevedo que queira trabalhar em
sua própria companhia. O candidato terá de apresentar pelo menos um ano de experiência em outra empresa. Antes de ganhar uma promoção, o conselho de administração
deve dar o aval. ?O ideal é que, em alguns anos, a família assumisse apenas o papel de acionista?, diz Artur.
Seria a retirada em alto estilo para uma família que entrou no mundo dos negócios por baixo. O pai de Artur, pequeno comerciante, perdeu o negócio. Nos oito anos seguintes, trabalhou exclusivamente para pagar os credores. A sobrevivência da família foi transferida para os irmãos mais velhos. Dos 21 irmãos de Artur apenas 11 sobreviveram. O primogênito, Jairo, começou a emoldurar figuras de santos e, com eles debaixo do braço, saía de casa em casa oferecendo os quadros. As vendas cresceram, e Jairo colocou os irmãos na estrada. Dos santos, os clientes passaram a pedir terços. Quem faz terços, produz correntinhas e colares. Daí para a fabricação de jóias foi um salto.
Da dolorosa história do pai, o grupo guarda uma lição: nunca
conviver com endividamento. Hoje, garante Artur, o Seculus
é um grupo líquido.