11/11/2009 - 8:00
A evolução do capitalismo nas últimas décadas colocou em processo de extinção a figura clássica do banqueiro, aquele empresário que arrisca o capital próprio e de terceiros para financiar empresas e consumidores.
Os executivos profissionais ascenderam ao topo das casas bancárias e, como se viu desde outubro de 2008, com a quebra de dezenas de bancos nos Estados Unidos e na Europa, faltou estirpe aos financistas yuppies que estavam no comando em Wall Street e na City londrina.
Um dos últimos remanescentes da banca tradicional é o espanhol Emilio Botín, do Santander. Patrocinador da Ferrari no campeonato de Fórmula 1 de 2010, ele espera sair na frente dos concorrentes no ano que vem. Como?
Fazendo o que seus antepassados fizeram nos últimos 200 anos: emprestando dinheiro. Onde? No Brasil, a bola da vez dos países emergentes. Dinheiro não é problema. Disposição, também não.
Em outubro, o Santander fez o maior lançamento de ações do mundo na Bovespa e em Nova York. “Vamos usar os R$ 12 bilhões da abertura de capital para uma importante expansão dos negócios no Brasil”, afirmou Botín à DINHEIRO, na quinta-feira 5, em Londres.
O banqueiro foi ao Reino Unido participar de um seminário dos jornais Financial Times e Valor Econômico sobre o País. Avesso a entrevistas, falou com a DINHEIRO (leia ao lado) antes de subir ao púlpito. Dois de seus maiores concorrentes brasileiros também deram seu recado aos investidores presentes:
Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, e Luiz Carlos Trabucco Cappi, do Bradesco. Os três apostam pesado na retomada da economia brasileira em 2010, quando o PIB, segundo suas projeções, deve crescer mais de 5%. A ordem é expandir o crédito para as pessoas físicas e as empresas – coisa que o BB e a Caixa Econômica Federal fizeram na frente, já em 2009 – e participar mais ativamente da onde de investimentos pós-crise.
“Os bancos privados pisaram no freio do crédito e, agora que estão conseguindo enxergar um cenário mais promissor, estão voltando com tudo”, diz o gestor de renda variável da Leme Investimentos, Januário Hostin. Ele tem razão. O Bradesco espera expandir os empréstimos em pelo menos 20% no ano que vem.
O Itaú fala em 20% a 25%. A soma dos dois significa despejar mais de R$ 100 bilhões na economia, se houver a demanda esperada. Em setembro, a carteira do Bradesco atingiu R$ 215,5 bilhões, um crescimento de 10% sobre o terceiro trimestre de 2008. Na divulgação do balanço do terceiro trimestre, na quarta-feira, Trabuco anunciou sua estratégia de aumentar a “acessibilidade do crédito”. O crediário passou de 36 para 48 meses, o crédito pessoal com garantias saiu de 36 para 60 meses e o capital de giro foi ampliado de 24 para 36 meses, entre outras medidas.
“Esse maior conforto que estamos dando para a clientela é para aproveitar o fechamento de 2009 e nos preparar para a grande perspectiva da economia para 2010”, afirmou Trabuco. “As pessoas físicas e as empresas estão voltando a investir.” Também otimista, o Itaú Unibanco está enviando cartas aos clientes Personnalité com ofertas generosas.
Uma cliente de São Paulo recebeu uma delas na semana passada, com proposta total de R$ 1,2 milhão. Seriam R$ 800 mil para comprar um imóvel, R$ 300 mil para financiar um veículo, R$ 100 mil de crédito pessoal e R$ 10 mil de cheque especial.
“É um crédito para alcançar tudo aquilo que você sonha, precisa ou quer”, diz a correspondência do banco das famílias Setúbal, Vilella e Moreira Salles. Sejam banqueiros, como eles, ou bancários como Bendine e Trabuco, todos terão de seguir o estilo clássico de Botín: emprestar a quem precisa.
R$ 12 bilhões foi o aumento do capital do Santander Brasil, após o IPO em outubro
Colaborou Juliana Schincariol
“Estamos encantados com o Brasil”
O presidente do conselho de administração do Santander, Emilio Botín, está mais otimista do que nunca com o Brasil. Em entrevista a Denize Bacoccina, em Londres, ele deixou claro que sua estratégia pode incluir a compra de concorrentes, se preciso for. “Não descartamos nada”, afirmou. Seu otimismo se estende a São Paulo, onde fica a sede do banco. “Não tenho dúvida de que São Paulo logo será um centro financeiro tão importante quanto Londres ou Nova York”, afirmou.
DINHEIRO – Quais são os planos do Santander para o País?
Emilio BOTÍN – Temos planos de expansão importante no Brasil. Vamos abrir 600 agências. Vamos usar R$ 12 bilhões da abertura de capital para uma importante expansão dos negócios. Estamos encantados de estar no Brasil.
DINHEIRO – O sr. está otimista com as perspectivas da economia brasileira para o próximo ano?
BOTÍN – O Brasil foi muito bem em 2009, um ano muito difícil para a economia mundial. No ano que vem, a expectativa é de que o Brasil cresça 4%, 5%. São dados muito positivos.
DINHEIRO – O Santander busca a liderança do mercado brasileiro?
BOTÍN – Esperamos ser o melhor banco do Brasil. Há outros bancos brasileiros muito bons, que eu admiro. Que todos tenham muito sucesso
DINHEIRO – Há planos de aquisição de outros bancos?
BOTÍN – No Brasil, não descartamos nada.
DINHEIRO – Algum negócio em especial, já em andamento?
BOTÍN – Não comento.