07/06/2016 - 0:00
A combinação da desvalorização cambial e a melhora da qualidade da bebida, está fazendo a festa nas vinícolas brasileiras, transformada num dos raros segmentos de negócios com desempenho positivo no País.
De patinho feio, preterido pelos consumidores, que passaram a ter acesso a vinhos importados de excelência e preços competitivo, nas duas últimas décadas e meia, com a abertura da economia, a produção nacional, talvez não tenha ainda virado um cisne, mas está se dando muito bem.
“O novo cenário macroeconômico está promovendo mudanças nos hábitos e preferências dos consumidores, valorizando o nosso vinho”, afirma Franco Perini, herdeiro e diretor comercial da gaúcha Casa Perini, comandada por seu pai, o empresário Benildo Perini.
Segundo ele, o setor está ainda longe dos tempos, entre as décadas de 1970 e 1990, em que a produção local, a despeito da baixa qualidade de suas marcas à época, respondia por 80% das garrafas comercializadas no País, fatia que foi caindo até os atuais 20%.
Mas a certeza de que o jogo está virando vem do movimento das prateleiras do varejo, iniciada já no ano passado, quando o faturamento da Perini cresceu, batendo na casa dos R$ 85 milhões. “No primeiro trimestre de 2016, as receitas aumentaram 18% e os números do segundo estão no mesmo patamar”, diz Perini, que espera ultrapassar a barreira dos R$ 100 milhões até dezembro.
Baseada em Farroupilha, município do Vale Trentino, na região Serrana do Rio Grande do Sul, a Casa Perini, fundada em 1970, é uma das cinco integrantes do dream team da vinicultura brasileira, ao lado de conterrâneas como Miolo, Salton, Valduga e Aurora. Esse grupo, segundo Perini, além de beneficiar-se com a desvalorização do real, que encareceu os importados (nos últimos 12 meses, enquanto os preços dos vinhos nacionais cresceram 30%, os dos concorrentes estrangeiros aumentaram 70%) está colhendo os frutos de um longo processo melhoria na produção.
“As vinícolas investiram pesadamente no aprimoramento dos vinhedos, com a introdução de castas nobres de uva, na modernização do parque industrial e na contratação de consultores internacionais”, diz. “O resultado foi um enorme salto na qualidade do vinho fino nacional, que hoje já consegue atender os paladares mais exigentes.”
A Perini, que detém uma fatia de 3 % da produção interna (442 milhões de litros de vinhos finos, espumantes, de mesa e sucos, em 2015), com os vinhos Casa Perini e Arbo, que custam entre R$ 50 e R$ 30, respectivamente, no varejo de São Paulo, está investindo na internacionalização.
Nos Estados Unidos, por exemplo, seus vinhos vendidos com a marca Macaw (arara, em inglês) são comercializados em grandes redes de supermercados, como a Whole Foods, do Texas, e Walgreens, de Illinois. Nesse caso, o real desvalorizado, que reduz a competitividade dos importados, funciona como trunfo nas exportações da vinícola brasileira. “Nossa meta é de que as vendas externas representem 10% de nossas receitas, em 10 anos”, afirma Perini.