A política monetária deve entrar em novo curso, especialmente depois de aprovada a PEC do Teto de Gastos. O ponto de inflexão mais esperado é a redução gradual dos juros, que atingiram patamares inviáveis para a atividade econômica. O setor produtivo privado conta os dias para a virada de rumo das taxas. A inflação já iniciou um ciclo de redução. O consumo está em baixa. Nesse contexto a Selic na casa de 14,25% ao ano está completamente fora da realidade. Os analistas apostam em cortes consecutivos de 0,25 a 0,5 ponto percentual até que o número volte à faixa de um dígito já em 2017. Muitos apontam que o Governo Federal – também ele! – pode ganhar muito nesse sentido, deixando de desembolsar algo em torno de R$ 18 bilhões em serviço da dívida pública ao longo dos próximos 12 meses.

O estoque dos compromissos sob essa rubrica já alcança a assombrosa cifra de R$ 3,6 trilhões, constituindo-se em um dos mais escabrosos papagaios deixados pela gestão de Dilma Rousseff no poder. Para se ter uma ideia, os R$ 18 bilhões em economia de juros, só no plano federal, equivaleriam quase à totalidade do que se espera arrecadar com o programa de repatriação de recursos mantidos ilegalmente no exterior e que teriam incentivos para o retorno ao País. O alívio dos juros é também a medida mais sensata e eficaz quando se pensa em retomada dos investimentos – que estavam parados tanto pelo cenário de incertezas como pelo alto custo cobrado nos empréstimos.

As atuais taxas constituem, definitivamente, o grande peso existente nos dias de hoje no caixa das empresas. O financiamento com preços exorbitantes inviabilizou muitas atividades e cerrou as portas de inúmeras companhias, independente do porte e ramo de atuação. No varejo, na indústria e nos serviços o impacto dos juros altos foi sentido, indiscriminadamente, de maneira aguda e levou ao quadro de recessão nacional que já dura ao menos dois anos. Em paralelo, a escalada dos juros não cessou. A última alteração feita na taxa básica Selic data do fim de julho do ano passado e, mesmo assim, foi para pior, numa rota ascendente. Passou de 13,75% para os atuais 14,25%.

Na direção contrária, a taxa não cai desde outubro de 2012, quando recuou de 7,5% para 7,25% ao ano, no menor patamar da série histórica. No Banco Central, presidido por Ilan Goldfajn, a intenção de uma diminuição gradual e consecutiva prevalece. A próxima reunião do comitê que analisa o índice será nessa semana e ninguém duvida que sairá dali um valor menor de juros. Só não se sabe de quanto. Imaginando-se que o ritmo de redução varie na casa de 0,5 ponto percentual, juro da ordem de um dígito só será mesmo alcançado no segundo semestre do próximo ano. Muito tempo ainda na visão daqueles que querem trabalhar o quanto antes com taxas enxutas e realistas.

(Nota publicada na Edição 989 da Revista Dinheiro)