O grupo Votorantim é um dos maiores e mais tradicionais conglomerados empresariais do País, com um faturamento na casa dos R$ 30 bilhões e atuação em setores que vão desde cimento até siderurgia, alumínio e celulose, passando pelo agronegócio. Fundado em 1918, na cidade de Votorantim, no interior paulista, o grupo sempre teve sua imagem fortemente ligada à família Ermírio de Moraes, em especial à figura de Antônio Ermírio de Moraes, filho do seu fundador, o empresário pernambucano José Ermírio de Moraes, que esteve à frente dos negócios até 2001. O estilo de gestão conservador era a maior a marca do doutor Antônio, como é conhecido o empresário, que preferia investir do próprio bolso a endividar-se. 

 

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Braço direito: Raul Calfat, o novo presidente do conselho da VPAR, está

no grupo desde 1992 e conta com a confiança da família Ermírio de Moraes 

 

Após sua saída, o comando da empresa passou para as mãos do seu filho Carlos Ermírio, falecido em 2011. No lugar de Carlos entrou seu primo José Roberto. No início deste ano, no entanto, o clã tomou uma decisão inédita e surpreendente. Pela primeira vez, em seus 95 anos de existência, o posto mais alto de comando do grupo será ocupado por um executivo de sobrenome diferente: o paulistano Raul Calfat. O executivo, que até então respondia pelas operações da Votorantim Industrial (VID), assumiu a presidência do conselho de administração da Votorantim Participações (VPAR), holding que controla todos os negócios do grupo, no lugar de José Roberto Ermírio de Moraes, que seguirá no conselho.

 

Além de representar um marco na história quase centenária da Votorantim, a decisão de trazer um ?forasteiro? para dirigir os negócios sinaliza que os Ermírio de Moraes estão dispostos a mudar o perfil da Votorantim. A promoção de Calfat faz parte de um projeto maior de modernização da gestão corporativa do grupo, que inclui a formação de quatro novos conselhos, um para cada empresa, sob o guarda-chuva da VID: Votorantim Cimentos, Votorantim Metais, Votorantim Energia e Votorantim Siderurgia. Até o ano passado, as decisões passavam por um conselho central, formado por oito membros da família. 

 

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O objetivo da medida é descentralizar o processo de decisão e torná-lo mais profissional. A chegada de um novo presidente, no entanto, não significa que a família vá se afastar do dia a dia da empresa e seus integrantes tenham decidido dedicar-se ao dolce far niente. A escolha de Calfat para a presidência do conselho é um indicativo disso. O executivo está na companhia desde 1992. Ele entrou para o time quando a Votorantim Papel e Celulose (hoje Fibria) comprou a Papel Simão, empresa na qual começou sua carreira como estagiário e que presidia na época da aquisição. Ele permaneceu no comando da divisão papeleira da Votorantim até 2001, quando entrou para a diretoria da VID. Em 2004, assumiu o comando da companhia. 

 

Formado em administração pela Fundação Getulio Vargas, com pós-graduação no IMD, de Lausanne, na Suíça, Calfat é homem de confiança dos Ermírio de Moraes. Ele é tido como um executivo discreto, avesso a badalações e humilde, características que foram cultivadas pelo doutor Antônio e moldou o estilo da família. Ele é apontado como o grande responsável pelo processo de internacionalização do grupo, iniciado em 2001 com a compra de uma fábrica de cimento no Canadá. Hoje, o Votorantim atua em 14 países. Quando assumiram a gestão do grupo, os herdeiros da terceira geração traçaram um plano para triplicar as suas receitas, na época na casa dos R$ 7 bilhões, em dez anos. 

 

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Nova geração: Antônio Ermírio de Moraes (ao centro) e seus sucessores, o sobrinho

José Roberto (à dir.) e o executivo Raul Calfat

 

O objetivo foi alcançado com folga. Como efeito colateral dessa rápida expansão, eles acumularam uma dívida equivalente a 3,6 vezes sua geração de caixa: R$ 18,4 bilhões. Trata-se de algo que seria impensável na época de Antônio e José Ermírio. José Roberto, o antecessor de Calfat, também iniciou planos que fugiam do perfil dos seus pais. Um exemplo é a abertura de capital da Votorantim Cimentos, a maior e mais lucrativa empresa do grupo. O IPO chegou a ser agendado para o dia 20 de junho, mas foi adiado. A expectativa é de que ele aconteça neste ano. Essa mudança no perfil gerencial e corporativo da Votorantim tem como pano de fundo o momento delicado atravessado pelo grupo. 

 

Nos últimos anos, o Votorantim passou por uma crise inédita em sua história. Em 2012, por exemplo, o balanço da holding Vepar fechou no vermelho, pela primeira vez, desde que começou a ser publicado, há seis anos, contabilizando um prejuízo de R$ 650 milhões, incluído o resultado do banco Votorantim, tocado em sociedade com o Banco do Brasil, que perdeu R$ 270 milhões. Das quatro divisões de negócio, apenas a de cimento ficou no azul. No ano passado, a boa notícia para os acionistas foi que o braço industrial do grupo voltou a respirar melhor, acumulando nos nove primeiros meses um lucro de R$ 273 milhões. A má notícia vem do braço financeiro, que no mesmo período teve uma perda de R$ 911,4 milhões.

 

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