30/06/2001 - 7:00
Crise? Onde? Descontado o inconveniente dos elevadores desligados por conta do programa de racionamento de energia, crise é uma palavra que não se pronuncia na sede da Oracle do Brasil, em São Paulo. A subsidiária da segunda maior empresa de software do mundo foi aquela que registrou o maior crescimento no último ano. Sob a direção do executivo Luiz Meisler, a filial elevou suas vendas em 58% e atingiu um faturamento recorde de R$ 444 milhões. Já o lucro, não divulgado, aumentou 32%. Por conta de tamanhos resultados, a subsidiária foi poupada de um programa mundial de redução de custos anunciado em março e que inclui o corte de 2% do total de 43,3 mil funcionários. Os resultados também promoveram uma dança (para cima) de cadeiras. O vice-presidente para América Latina, Sebastian Gunningham, passou a ser o novo responsável pelas operações da Oracle Americas, e Meisler agora acumula a presidência brasileira e a vice-presidência na América Latina.
Workaholic assumido, Meisler tem um plano de metas não menos ambicioso que os resultados obtidos neste seu primeiro ano de gestão. Nos próximos 12 meses, pretende dobrar o número de parceiros ? revendedores e consultores que oferecem soluções baseadas em seus softwares e que incluem a PricewaterhouseCoopers, KPMG, Accenture, Delloitte e Ernst & Young. O objetivo é atingir um faturamento de R$ 1 bilhão até 2005. Mas, afinal, como conseguir tamanho crescimento? O foco será os aplicativos, que inclui softwares de gestão (ERP) e relacionamento com cliente (CRM), e também de e-business. ?Em maio do próximo ano devemos chegar ao segundo lugar no ranking do setor e em três anos alcançaremos a liderança em aplicativos?, afirma Meisler. Atualmente a Oracle está em quarto lugar, atrás da alemã SAP e das nacionais Datasul e Microsiga. ?Não temos nenhum concorrente que atue em todos os segmentos.? A empresa é a única que fornece a família completa de aplicativos de e-business. Sua estratégia será reforçar os canais de venda. ?Não acreditamos na aquisição de empresas. Tecnologia se desenvolve internamente?, diz o executivo. Considerando a altíssima taxa de mortalidade das empresas de software para e-business ? das 1.200 empresas criadas nos últimos dois anos no Vale do Silício, nos Estados Unidos, apenas 800 estão de pé e, segundo estimativa da consultoria McKinsey, apenas 200 sobreviverão ? somente as gigantes, com escala e capacidade para investir em tecnologia, estarão vivas nos próximos anos.
A ênfase em aplicativos não significa que a Oracle está abandonando a área de banco de dados, segmento em que é líder mundial, ocupando posição semelhante no Brasil, com quase 40% do mercado. ?Nossa vaca leiteira continuará sendo banco de dados, que responde por dois terços de nosso faturamento. Mas o potencial de crescimento dos aplicativos é muito maior?, declara. Uma vez que o mercado de aplicativos para grandes corporações caminha para a saturação, a meta é expandir o negócio para pequenas e médias empresas. ?Queremos estar em toda parte, conquistar até mesmo padarias.? Não se trata apenas de palavras de efeito, garante Meisler. Os softwares da empresa já fazem parte da rotina de uma panificadora de Curitiba. Se crer é o primeiro passo para fazer acontecer, Meisler mantém o mantra bastante afinado: ?Acreditamos que temos os melhores produtos e que nossos parceiros irão ganhar mais dinheiro vendendo nossos softwares.? Com sua recente promoção, Meisler ficará responsável por 21 países e 2 mil funcionários na América Latina. A região é uma das que mais
cresce no mundo e hoje representa 6% do faturamento de
US$ 10,7 bilhões da companhia.
Apesar de ter registrado queda nas taxas de crescimento nos últimos trimestres em vários países, a Oracle tem surpreendido investidores pela capacidade de absorver a turbulência que tem afetado a indústria de tecnologia como um todo. A redução de 2% da força de trabalho foi menor do que os cortes de outros gigantes do setor, como Cisco Systems, Motorola e Intel. A expectativa é de que a empresa recupere as margens de lucro de 40% até o início do ano que vem. ?Temos um produto que é bom até para momentos de recessão, pois permite aumentar a eficiência das empresas?. Sem dúvida, uma vantagem e tanto na atual época de vacas magras.