27/08/2003 - 7:00
De fora parece um shopping. O nome também é de shopping. Mas esqueça. O título mais apropriado para definir o Shopping Leste Aricanduva seria cidade, uma cidade do consumo. Pense em tudo que existe em qualquer aglomeração urbana e, por mais improvável que seja, você encontrará no Aricanduva, transformando-o em um efervescente núcleo de geração de negócios. Agências bancárias? Sim, há nove. Hipermercados?
São três: um Extra, um Wal-Mart e um Makro. Laboratório de análises clínicas? O Lavoisier mantém ali uma unidade. Concessionárias de veículos? São 15 de diferentes marcas. Posto do Detran? Pista de test drive? Estão ali acessíveis ao consumidor. Universidade? Ah, isso não existe, mas em 2004 uma grande faculdade paulista vai inaugurar cursos de administração de empresas e de direito. Centro de convenções? Você também não encontrará. Em breve, contudo, os primeiros tijolos serão assentados para erguer o centro e um hotel de três ou quatro estrelas. Todos os números referentes a este gigantesco complexo comercial, fincado em uma área de um milhão de metros quadrados em São Paulo, são grandiosos. Por seus corredores, circulam a cada mês 4 milhões de pessoas. É um Uruguai inteiro. Ou como se toda a população da Irlanda saísse para fazer compras no espaço de trinta dias. Essa multidão desembolsa anualmente R$ 1,2 bilhão, dinheirama equivalente ao faturamento da Coteminas, a empresa do vice-presidente da República. Ao longo de quatro quilômetros de corredores, existem mais de 500 lojas. Entre elas, as concessionárias de automóveis, que, juntas, são responsáveis pela venda de 1% dos carros fabricados no País.
Essa pujança faz do Aricanduva o maior shopping da América Latina. O shopping, na verdade, não é um, são três. Um é um centro de compras tradicional. Há o Interlar Aricanduva, especializado em decoração. O terceiro é o Auto Shopping, que reúne as concessionárias. O título veio na carona de um investimento de R$ 26 milhões, que agregou mais 40 mil metros quadrados à sua área construída. Para entender a arrancada rumo ao topo do pódio, é bom conhecer a Zona Leste, onde se localiza o complexo Aricanduva em São Paulo. Até a década de 90 o local era um bairro dormitório. Isso mudou. ?Hoje, eles moram, trabalham, estudam e se divertem na Zona Leste?, diz Marcos Sérgio Novaes, superintendente do Aricanduva. Os quatro milhões de moradores possuem renda per capita de R$ 2,5 mil, e 70% deles são donos da casa onde moram. Mas o raio de atração do shopping vai além. Consumidores de Guarulhos e do ABC paulista costumam fazer compras no complexo. Com eles, a população sobe para sete milhões. Há outras explicações para o bom desempenho do Aricanduva, lembra Novaes: os moradores têm um apego à região que não é comum em outros bairros de São Paulo. ?É um sentimento comum no interior, mas não nas grandes capitais?, afirma ele. ?Conseguimos mostrar que somos um pedaço desse mundo.?
A massa de dinheiro que circula nos corredores atraiu grandes empresas. O McDonald?s colocou ali sua maior concentração de pontos-de-venda na América Latina. São 16 no total, distribuídos pelas quatro praças de alimentação do complexo, que geram faturamento de R$ 15 milhões para a rede de fast-food por ano. ?O shopping atrai todo tipo de consumidores?, afirma David Lasevitch, diretor regional do McDonald?s. A diversidade do público transformou o Aricanduva numa espécie de laboratório de novos negócios. A Colombo, rede de eletrodomésticos, elegeu o shopping como porto de chegada na cidade de São Paulo. Depois de dominar o varejo no Sul e fincar sua bandeira no interior de São Paulo, a companhia investirá R$ 600 mil para abrir, em setembro, a primeira loja na capital paulista, onde empregará 80 funcionários. ?É mais fácil construir uma marca dentro de um shopping, pois as pessoas são mais receptivas. E o Aricanduva nos dá acesso a clientes de diversas classes sociais?, diz Eldo Moreno, superintendente da Colombo. Uma caminhada pelas alamedas do shopping pode revelar os planos futuros de outras corporações. A C&A, dona de imensas lojas nos grandes shoppings do País, instalou em um dos corredores o primeiro quiosque da marca no Brasil. Ali são vendidos acessórios como óculos, bijuterias e relógios, além de celulares.
Potencial sem fim. Foram mais ou menos essas palavras que o empresário Roger Penske, um mito do setor automotivo nos EUA, utilizou durante uma visita ao Aricanduva há quatro anos. Na ocasião, ele e seu sócio brasileiro, o ex-piloto de Fórmula Indy André Ribeiro, passaram um dia inteiro a bordo de carros e helicóptero conhecendo São Paulo. A última parada foi o Aricanduva. ?Isto tem um potencial sem fim?, declarou Penske no meio da visita. Pronto. Estava definido o local onde a dupla investiria R$ 6 milhões para abrir suas três primeiras concessionárias no País. Juntas, elas faturam R$ 100 milhões por ano. ?A segurança e o ar-condicionado fazem a diferença em relação a lojas de rua?, diz Ribeiro.
É provável que o empresário paulistano Hugo Salomone tenha enxergado esses benefícios há dez anos, quando resolveu erguer o shopping, em parceria com a Previ. Salomone, controlador do grupo Savoy, é um homem de negócios tão poderoso quanto misterioso. Avesso a qualquer tipo de exposição pública, ele é dono de 30 mil imóveis, entre eles alguns cartões postais da cidade, como o Conjunto Nacional. Isso o torna o maior contribuinte de IPTU do município e, por tabela, do Brasil. A continuar nesse ritmo é possível que também se transforme no maior investidor imobiliário da América Latina, colocando-se no mesmo patamar de sua mais bem-sucedida criação, o Shopping Aricanduva.