Onde foi parar a indústria brasileira? Reflexo de uma débâcle assombrosa, a atividade acaba de registrar um revés de proporções históricas: alcançou a menor participação no PIB em 70 anos. Desde a década de 40 não se via nada igual. É surpreendente, para dizer o mínimo, que um parque fabril tão diversificado e pulsante, que inclui siderúrgicas, montadoras, fabricantes têxteis, de calçados, moveleiro e por aí afora represente atualmente uma fatia de apenas 11,3% do cômputo geral da riqueza nacional. O parque produtivo ficou miúdo e não há no horizonte qualquer sinal de reversão dessa tendência. Ao contrário.

Diversas são as multinacionais com linhas de montagem aqui que estão cerrando as portas. E não é para menos. Já no primeiro bimestre deste ano 54% das companhias, ou mais da metade das unidades manufatureiras, experimentaram queda de produção. Por um motivo elementar: não há demanda. A capacidade instalada segue com folga e a prolongada estagnação pode levar, em breve, a mais desemprego e congelamento de investimentos na área, em um ciclo perverso. Se não há resultados, nem necessidade de expansão, a busca por sobrevivência leva ao encolhimento, com consequente perda de competitividade frente aos concorrentes externos, que seguem apostando em inovação e crescimento.

Há, decerto, alguns motivos adicionais que contribuem para o péssimo desempenho de recuo.
A radiografia feita pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) revela que o perfil das empresas locais está defasado em relação à tendência global de concentração em indústrias mais sofisticadas. Desde os anos 80, esse descompasso vem se verificando e se ampliando. O problema é mais grave no setor de transformação e bens intermediários. Por outro lado, o avanço acelerado de segmentos como o de serviços e varejo demonstra cabalmente uma virada de perfil do Produto Interno Bruto, com a prevalência de bons resultados em áreas mais suscetíveis a renovações. A avassaladora onda digital, de consultorias, fornecedoras de programas, geradoras de negócios via internet está tomando o topo da cadeia de lucros.

As indústrias ainda perdem com a burocracia tributária que tira, em média, todos os anos, cerca de R$ 37 bilhões de sua receita. Estudo da Fiesp mostra que as empresas da área gastam perto de 1,2% de tudo que faturam para manter complexas estruturas de atendimento às exigências do fisco e para acompanhar o infindável número de impostos em cascata. Nesse contexto, parece de fato um milagre a sobrevivência de uma atividade que despende na burocracia, segundo a pesquisa, 9,3 vezes mais que os seus concorrentes diretos mundo afora. Até que as autoridades percebam a urgência de uma virada completa da carga tributária e a necessidade de incentivos estruturais para o fortalecimento industrial não será possível mudar esse quadro.

(Nota publicada na Edição 1116 da Revista Dinheiro)