DINHEIRO ? O presidente da Fiat e da Anfavea, Cledorvino Belini, disse recentemente que a falta de pneus é o que mais preocupa as montadoras. Ele tem razão em se preocupar?


GIANO AGOSTINI ? Em 90 anos de Brasil, nunca deixamos de entregar aquilo que vendemos. Realmente, deve ter havido algum descompasso entre as montadoras e os fornecedores quando o mercado cresceu muito acima do esperado.  Mas, se analisarmos o que aconteceu no ano passado, podemos dividir 2009 em duas partes. O primeiro semestre foi de estabilidade, sem grandes surpresas. No segundo semestre houve o início de uma retomada. Só que no início de 2010 houve um salto muito forte. Alguns, eventualmente, podem ter sido surpreendidos. Naquele momento, quando nós desenhávamos a estratégia da empresa para 2010 e 2011, projetamos cenários otimistas, realistas e pessimistas. Então, escolhemos o otimista. Nós nos preparamos para uma disparada da indústria. Conseguimos acompanhar. Acertamos.  

 

 

DINHEIRO ? Os outros fabricantes erraram? No começo do ano havia caminhão saindo da fábrica sem pneus. 


AGOSTINI ? As montadoras vão investir R$ 12 bilhões em aumento da produção. É evidente que cada fornecedor se preparou de uma forma para essa expansão do mercado. Nós, da Goodyear, conseguimos atender a todas as expectativas do mercado. Quem comprou da Goodyear teve o pneu entregue. 

 

 

DINHEIRO ? O setor de pneus vai conseguir acompanhar o ritmo das montadoras?   


AGOSTINI ? Acredito que sim. Nós, com certeza, estaremos preparados para o que vier. Nos últimos três anos, renovamos 95% de nossa gama de produtos. É prova de que estamos muito alinhados com o mercado. Produzimos desde pneus de tratores até pneus de avião.  

 

 

DINHEIRO ? O dólar barato, segundo uma ala do empresariado, tem tirado a competitividade da indústria. O sr. concorda?  


AGOSTINI ? Dentro daquilo que a gente chama de estrutura de custo, existem parâmetros que estão sob nosso controle e parâmetros que a gente não controla. O câmbio não nasce dentro da indústria. Pre-cisamos ter uma política de busca contínua por performance, seja na otimização de custos, seja na redução da energia consumida na produção ou na procura por alternativas de matérias-primas. Tudo isso a gente controla. É o que nos faz competitivos. O preço do dólar, não. Por isso, a indústria precisa se ajustar ao câmbio.  

 

 

DINHEIRO ? O Brasil proibiu a importação de pneus usados e sobretaxou os chineses. Qual medida ajudou mais?  


AGOSTINI ? A concorrência no Brasil está ficando cada vez mais acirrada. É normal. Em um país que se destaca, que cresce, todos querem participar. Para nós, e para todas as empresas, isso faz parte do dia a dia. A concorrência chinesa está dentro dessa lógica. Mas faz parte. Somos uma empresa multinacional que atua em todas as partes do mundo, com realidades distintas. Então, nós estamos acostumados com a disputa. No caso da sustentabilidade, sempre foi uma preocupação nossa. Temos área de recauchutagem, fazemos reciclagem e novos produtos. Garantimos ao consumidor um pneu seguro. 

 

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“A agricultura é um negócio espetacular para o setor de transporte”

Colheita de cana-de-açúcar no interior de São Paulo

 

 

DINHEIRO ? O Brasil, historicamente, era um consumidor de pneu barato e de carros populares. Isso mudou. Hoje o País já tem espaço para carros maiores e de pneus mais sofisticados. Como a indústria se ajusta a essa nova realidade?  


AGOSTINI ? Sempre nos ajustamos ao que o mercado precisa. Não estamos dedicados apenas ao setor de alta performance ou ao de pneus mais populares. Estamos de olho naquilo que será mais demandado e nos antecipamos às necessidades.   

 

 

DINHEIRO ? O ritmo recorde de produção de veículos no País se reflete, na mesma proporção, na indústria de pneus? 


AGOSTINI ? Existe uma relação direta, sim. Para o Brasil, isso é muito bom. A consolidação da indústria automobilística do País na quarta posição do ranking mundial, à frente até da Alemanha, é algo que merece aplausos. Isso gera movimento na economia, gera crescimento, desenvolvimento de empresas e de pessoas. Nosso compromisso é acompanhar essa evolução. 

 

 

DINHEIRO ? Para muitos setores, o Brasil é a estrela em crescimento de vendas. Isso acontece na indústria de pneus?


AGOSTINI ? Além do crescimento do mercado, tem a parte da inovação. Nunca houve tantos novos modelos de veículos colocados no mercado. E, mais do que isso, veículos desenvolvidos no País, com engenharia própria. Isso fez com que trabalhássemos no codesign, dentro das montadoras. Hoje, engenheiros de fabricantes de pneus, inclusive da Goodyear, integram as equipes de engenharia das montadoras. Isso acontece para que possamos desenvolver pneus adaptados a cada projeto.

 

 

DINHEIRO ? Não era assim antes?


AGOSTINI ? Antes a indústria de pneus recebia a encomenda pronta, com medidas já definidas. Agora participamos de forma intensa e somos mais pró-ativos nos projetos. Assim, a sintonia tecnológica é maior. Essa é uma parceria muito positiva.   

 

 

DINHEIRO ? Qual setor da economia puxa mais a produção de pneus?


AGOSTINI ? A Goodyear atua e aposta nos quatro grandes segmentos em que está presente: linha leve, que é para carros de passeio, linha pesada, agricultura e fora de estrada, puxada principalmente pela mineração. Em nosso país, concentramos os esforços nesses segmentos. Em unidades, o volume de produção da linha leve é superior ao da linha pesada. Mas as vendas de pneus para transporte têm apresentado expansão muito positiva. Acho que não temos como eleger apenas um setor. Seria injusto.   

 

 

DINHEIRO ? Algum deve empolgar mais. 


AGOSTINI ? O Brasil é líder mundial em produção de alimentos. Isso, evidentemente, faz da agricultura um negócio espetacular para o setor de transporte. A frota de veículos cresce de forma impressionante, o que amplia o potencial de crescimento da linha leve. Ou seja, para o nosso setor, existem atividades de grande potencial.  

 

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“Imaginamos que o mercado iria disparar. Estávamos preparados. Acertamos”

Linha de montagem da Nissan, no Paraná

 

DINHEIRO ? Qual a orientação da matriz para a subsidiária brasileira?


AGOSTINI ? Não existe uma orientação da matriz para o Brasil. Há uma orientação da subsidiária brasileira para a matriz. É o inverso. Assim, trabalhamos juntos. Estamos aqui para demonstrar para eles o potencial do País em vários segmentos e como a Goodyear pode se posicionar nesse cenário. São vários os exemplos. Se olharmos para o volume de investimento que está a caminho por conta da Copa do Mundo e da Olimpíada, é algo espantoso que vai movimentar toda a economia. Em toda e qualquer grande obra, o transporte será fundamental. Então nossa linha de transporte de carga precisa ter atenção especial. Mostramos para a matriz toda essa evolução e recebemos sinal verde.    

 

DINHEIRO ? A operação brasileira tem conquistado espaço no balanço global?


AGOSTINI ? Na América Latina, o Brasil é destaque. No ranking global de produção de pneus, o País também é destaque. Assim, a Goodyear do Brasil também é destaque do grupo. A nossa operação aqui tem chamado a atenção da corporação. Nos últimos anos, o mercado brasileiro se tornou mais relevante para dezenas de setores da economia, entre eles o nosso. 

 

 

DINHEIRO ? A falta de infraestrutura não é um problema?


AGOSTINI ? A necessidade de melhoria da infraestrutura abre novos horizontes. Temos grandes projetos que impulsionam o País a se tornar mais visível no mundo, o que antes não havia. Por conta de tudo isso, criamos um centro de desenvolvimento de novos produtos no Brasil, construímos um centro de provas dentro da nossa fábrica, temos um amplo programa de desenvolvimento de profissionais, entre várias iniciativas. Tudo isso deu mais agilidade para a gente desenvolver parcerias com as montadoras. Tudo isso é reflexo do bom momento que estamos vivendo.  

 

 

DINHEIRO ? A Goodyear parou de fabricar autopeças, como correias dentadas. Por que deu um passo atrás?


AGOSTINI ? Não recuamos, apenas tomamos uma decisão estratégica. Antes fabricávamos vários artigos industriais, como correias e mangueiras, além de outros componentes de borracha. Tempos atrás, abrimos mão dessa unidade. Vendemos. Por uma questão de estratégia corporativa, decidimos focar nossa atuação em pneus aqui no mercado brasileiro.     

 

 

DINHEIRO ? A Goodyear planeja ampliar a produção no País? 


AGOSTINI ? Temos no Brasil fábricas em Americana e Santa Bárbara, ambas no interior de São Paulo, e outra na capital. Também temos alguns centros de montagem que trabalham em parceria com as montadoras. Em vez de entregar o pneu, entregamos o conjunto montado, tudo pronto. Essas três unidades dão conta das vendas atuais e também da demanda futura. Nosso compromisso é atender às necessidades dos nossos clientes. Em toda a nossa história no mercado brasileiro, nunca deixamos isso de lado. Não será agora.