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Uma onda avassaladora atinge os supermercados americanos e, em breve, deverá chegar também ao Brasil. Trata-se da invasão das prateleiras por uma série de alimentos com o selo ?baixo carboidrato? (low carb, em inglês). São produtos preparados de acordo com as teorias propagadas pelas famosas dietas de South Beach e do dr. Robert Atkins. Ambas pregam a redução do consumo de carboidrato como o principal passo para o emagreci-
mento. Com 64% dos americanos com mais de 20 anos acima do peso, a chegada dos novos produtos se tornou não apenas um fenômeno social, mas também econômico. Nos últimos dois anos, foram nada menos do que 1.558 lançamentos com o rótulo ?low
carb? na embalagem. Vão de cerveja, molho para salada, ketchup e amendoim a sorvete, cereais, biscoitos, doces e sobremesas. Megacorporações mundiais, como Coca-Cola, Unilever, Pepsico,
Sara Lee, Heinz e Kellogg, entre outras, já se mexem para atender
à crescente demanda. ?Depois do light, do diet, do baixo colesterol e da preocupação com a gordura, a onda atual é o baixo carboidrato?, afirma Aristides de Macedo, presidente da subsidiária brasileira da Kraft Foods, a segunda maior indústria de alimentos do mundo.
?Há um furor de fabricantes e consumidores para esse segmento,
que cresce a taxas de dois dígitos.?

 

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MACEDO, DA KRAFT: Mercado cresce dois dígitos por ano

 

Segundo levantamento da própria Kraft, esse é um mercado de mais de US$ 40 bilhões em vendas anuais. Por isso, na maior feira mundial de alimentação voltada para o setor supermercadista, realizada em Chicago, na primeira semana de maio, o grande destaque dos fabricantes era os novos produtos com baixo carboidrato. ?Mais da metade dos lançamentos da feira era de alimentos low carb?, diz Sydney Bratt, diretor da Gourmand, importadora de alimentos sediada em São Paulo. Segundo ele, muitos desses produtos não tardarão a desembarcar no País. ?Daqui a seis meses, no máximo um ano, esse tipo de alimento estará disponível para o consumidor brasileiro?, prevê Bratt. A própria Gourmand estuda, no momento, a importação de alguns desses itens. Bratt tem visitado vários fregueses para apresentar produtos e colher opiniões e encomendas dos interessados. Entre seus clientes estão grandes redes de supermercados como Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart, além de delicatessen e mercados chiques como os paulistas Santa Maria e Santa Luzia.

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BRATT, DA GOURMAND “Novos produtos chegarão ao País em um ano”

 

 

 

No Brasil, ainda é raro encontrar uma embalagem com a indicação de baixo carboidrato no mercado. Mas a febre que contagiou a indústria mundial de alimentos pode desembarcar aqui pelos braços das multinacionais que atuam no País. Lá fora, as empresas estão investindo milhões de dólares nessas novas linhas, mas ninguém revela seus números para não despertar a concorrência. Somente a Kraft lançou uma linha de oito produtos low carb na feira de Chicago, alguns até com nível zero de carboidrato. A fábrica de chocolates Hershey criou uma cobertura de chocolate para sorvetes com metade dos carboidratos da versão normal. A indústria de cereais Kellogg?s lançou uma versão low carb do Special K, um dos cereais mais vendidos nos Estados Unidos. A Frito-Lay, uma subsidiária da Pepsico, colocou nas prateleiras uma versão com menos carboidratos do salgadinho Tostitos. Já a gigante Unilever, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, desenvolveu uma linha com 32 produtos low carb, incluindo molhos de salada e o chá gelado Lipton. Sobrou munição até para alimentar a guerra das colas. Tanto a Coca-Cola quanto a Pepsi anunciaram, na semana passada, que irão lançar nos Estados Unidos refrigerantes com a metade do açúcar, calorias e carboidratos das versões tradicionais. A C2, da Coca, e a Edge, da Pepsi, devem chegar ao mercado americano a partir de junho, quando começa o verão no Hemisfério Norte. ?Ter produtos nessa linha de saúde e bem-estar é uma grande oportunidade de negócio que não significa só aumento de faturamento, mas também ganho de imagem?, afirmou Lance Friedmann, vice-presidente da Kraft.

A afirmação de Friedmann pode ser comprovada por qualquer um que ande pelos Estados Unidos. Os americanos estão com um sentimento próximo da repulsa em relação ao carboidrato, como se ele fosse o vilão-mor do sobrepeso que assola o país. Comer pão ou macarrão em público é encarado hoje quase como um sacrilégio. As cadeias de fast-food são as que mais sofrem e muitas andam às moscas. Para tentar atrair os seguidores de Atkins, o Burger King lançou um hambúrguer sem pão, só com carne e alface. O rival McDonald?s contratou um especialista em nutrição para incluir em seu cardápio itens mais saudáveis, muitos deles low carb. Já a italiana Barilla lançou uma cartilha no mercado americano falando dos benefícios das massas na dieta. Intitulada A verdade sobre as massas, a cartilha diz que as dietas de baixo carboidrato são perigosas e não passam de um modismo.

US$ 40
bilhões
é o mercado de alimentos com baixo índice de carboidrato
Modismo que, no Brasil, já rendeu ganhos para o mercado editorial. A Nova Dieta Revolucionária do Doutor Atkins, livro que deu origem à mania, foi lançado no País em 2000 e já acumula 56 mil exemplares vendidos. A Dieta de South Beach, obra do nutricionista americano Arthur Agatston, que ensina como emagrecer até seis quilos em duas semanas, é um fenômeno de vendas. Lançado pela Editora Sextante em outubro, já vendeu 130 mil cópias. O livro
está na lista dos mais vendidos no País há 20 semanas, 16 das quais em primeiro lugar, para a felicidade de Marcos Pereira, o dono da editora e seguidor de Agatston. ?Fiz a dieta de South Beach
para publicar o livro, perdi cinco quilos e mudei meus hábitos alimentares?, testemunha.

Resta convencer os especialistas e a comunidade médica da eficiência da dieta. Mesmo os mais críticos não param de receber consultas sobre o tema baixo carboidrato. ?Recebo todo dia uns três ou quatro pacientes que já chegam ao consultório pedindo este tipo de dieta?, relata o cardiologista Carlos Magnoni, diretor do Instituto de Metabolismo e Nutrição de São Paulo, o Imen. Para desgosto do médico, as duas secretárias do Imen já fizeram este regime ? contra
a recomendação dos especialistas do Instituto. Nesta semana, Magnoni participa de uma reunião com marqueteiros e publicitários que buscam suporte técnico para o lançamento, no Brasil, de uma linha de produtos low carb importados dentro de um mês. O con-
sultor Carlos Hackerott, sócio da RCS Consultores, confirma a movimentação, ainda sigilosa, de empresas nacionais e estrangei-
ras preocupadas em adequar suas linhas de produtos a essa nova onda. É uma prova de que a indústria está sendo obrigada a correr atrás de uma demanda nascida espontaneamente no País. O mesmo fenômeno já aconteceu no passado, com os produtos diet e light. Hoje, esses dois segmentos representam, juntos, 4,5% do faturamento total da indústria de alimentos no Brasil, que no ano passado somou R$ 157,3 bilhões. ?A exemplo dos light, diet e orgânicos, os low carb vieram para ficar e também vão se firmar
no nosso mercado de consumo?, prevê Hackerott.

 

RÓTULOS QUE VENDEM
DIET:Indica que um determinado nutriente ? como açúcar, gordura, proteína ou sódio ? foi substituído por outro. A intenção é desenvolver alimentos que atendam a consumidores que sofram de doenças como diabetes ou hipertensão. Nesses casos, o açúcar é substituído por um adoçante e o sal (cloreto de sódio) é trocado pelo cloreto de potássio.
LIGTH: O alimento com este selo teve a redução de, pelo menos, 25% de qualquer um dos ingredientes normais. Light não significa a eliminação total de calorias. Uma porção de margarina normal tem, por exemplo, 100 kcal. Já a versão light tem 75 kcal.
LOW CARB: Abreviação de baixo carboidrato. Ainda não há uma regulamentação aprovada pelos órgãos reguladores, como o americano Food and Drug Administration (FDA) e a brasileira Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para ostentar esta nomenclatura, as indústrias americanas estão reduzindo a porção de carboidrato dos alimentos, seguindo os preceitos da dieta do dr. Robert Atkins. Em troca, aumentam o conteúdo de fibras e substituem a glicose (açúcar) por adoçantes.
Fonte: Departamento de Nutrição e Saúde da UFV, Kraft Foods