16/08/2006 - 7:00
Os museus de arte moderna têm revelado uma nova face que traduz muito do mundo atual. Quem visita grandes instituições como o MoMA, de Nova York, o Georges Pompidou, em Paris, e o MAM, de São Paulo, não se depara apenas com obras de mestres contemporâneos como Picasso, Miró ou Botero. Expostos como obras de arte, encontram-se produtos da Bic, computadores da Apple, equipamentos de som da Bang & Olufsen, jóias da H.Stern, e outras peças desenvolvidas no chão de fábrica. A indústria vai, definitivamente, ao museu. Trata-se de um fenômeno cultural causado pelo que muitos podem chamar de segunda revolução industrial. Como a tecnologia avança a passos largos, a comunicação martela na cabeça dos consumidores diariamente e os serviços tornam-se uniformes em qualquer setor da economia, as empresas tiveram de se reinventar. A saída foi apostar fortemente no design. ?Hoje há uma preocupação em fabricar produtos com viés artístico?, diz Andrés Martin Hernandez, curador do Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM. ?É que as empresas sabem que, ao fazer um produto bonito, ele será o primeiro a conquistar a atenção do consumidor?, explica Helio Bork, representante da marca dinamarquesa Bang & Olufsen.
A questão é que estes produtos bonitos não só chamaram a atenção dos consumidores como também dos curadores. ?São peças contemporâneas que fazem as pessoas terem uma percepção diferente sobre o produto e também sobre a arte?, diz Hernandez, do MAM. O Smart, por exemplo, carro que está exposto no MoMA, é uma obra de arte. Os designers e engenheiros conseguiram criar um veículo minúsculo e ainda deixá-lo charmoso. Guto Índio da Costa, celebrado designer brasileiro, também trouxe modernidade e funcionalidade para um simples controle-remoto de ventilador. A peça, que está exposta no alemão Design Zentrum Nordrhein Westfalen, tem um único botão. Basta girá-lo para aumentar e diminuir a velocidade. ?Quando temos de fazer um produto que será fabricado em grande escala, é necessário adequar o desenho às máquinas?, diz Guto Índio da Costa. É uma equação que chama a atenção até mesmo de quem cresceu aprendendo a admirar obras concebidas por gênios dos pincéis.