O ex-contador Paulino Pavan contribuiu com a Previdência Social durante 39 anos, 11 meses e 17 dias. Hoje aposentado, Pavan, que completa 80 anos em agosto, recebe bem menos do que teria direito. ?Sempre paguei sobre 15 salários mínimos, mas me aposentei com oito e hoje recebo R$ 1.200, o equivalente a quatro salários mínimos?, diz ele. Enquanto vê seus rendimentos caírem, Pavan acompanha com indignação a evolução do seu custo de vida. Só com medicamentos e plano de saúde para ele e sua esposa Maria, o casal consome R$ 500 por mês ? o equivalente a mais de 40% da renda mensal. ?A inflação é bem maior para nós que chegamos à terceira idade?, constata Pavan. ?É na velhice que gastamos mais com remédios, médicos e outros serviços de saúde?.

Pavan está certo. A comprovação foi feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que criou o Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade, o IPC-3i, que mede a variação de preços para famílias com pelo menos 50% dos indivíduos com 60 anos ou mais. Divulgado a cada trimestre, o IPC-3i acumula uma alta de 6,58% nos últimos 12 meses. No mesmo período, o IPC tradicional subiu 6,27%. A diferença entre as duas taxas de inflação fica ainda mais evidente em um prazo mais longo. De 1994 a 2004, enquanto os preços subiram 176,51% no país como um todo, para a turma da terceira idada a alta foi de 226,14% (leia tabela abaixo). Na avaliação do economista André Furtado Braz, da FGV, o grande vilão da inflação da terceira idade foi o aumento das tarifas públicas. ?Como os idosos ficam mais em casa, eles gastam mais luz, água, gás e telefone do que a média da população?, afirma Braz. Há, ainda, outros custos que pesam mais na conta dos aposentados. Um exemplo clássico é a área de saúde, que leva 15% do orçamento dos idosos, contra 10,36% da renda da população em geral. Só em gastos com medicamentos, os velhinhos comprometem 4,48% da renda, mais que o dobro do resto da população. ?Os aposentados ainda gastam mais com habitação e alimentação, pois precisam de mais cuidados e de comidas especiais?, observa Braz, da FGV.

Para piorar, os reajustes dos benefícios pagos pela Previdência Social têm ficado abaixo dos principais índices de inflação (leia tabela). ?Nos últimos anos, nem a inflação oficial temos recuperado?, afirma João Batista Inocentini, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical. ?Até o reajuste do salário mínimo supera os nossos aumentos?, critica. Segundo os dados do Sindicato, existem hoje no Brasil cerca de 23 milhões de aposentados, que recebem um benefício médio de R$ 472 do INSS. Já a última Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), realizada pelo IBGE em 2003, revelou que a renda per capta dos brasileiros com 60 anos ou mais é de R$ 422. ?O ideal seria usar um índice específico, como o IPC-3i, como parâmetro para os reajustes da terceira idade?, defende o professor Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV. ?Só assim os idosos manteriam seu poder de compra?.

Na lanterna
Reajuste dos aposentados perde de todos os índices, inclusive do salário mínimo (de maio/95 a maio de 2005)