08/06/2005 - 7:00
O ex-contador Paulino Pavan contribuiu com a Previdência Social durante 39 anos, 11 meses e 17 dias. Hoje aposentado, Pavan, que completa 80 anos em agosto, recebe bem menos do que teria direito. ?Sempre paguei sobre 15 salários mínimos, mas me aposentei com oito e hoje recebo R$ 1.200, o equivalente a quatro salários mínimos?, diz ele. Enquanto vê seus rendimentos caírem, Pavan acompanha com indignação a evolução do seu custo de vida. Só com medicamentos e plano de saúde para ele e sua esposa Maria, o casal consome R$ 500 por mês ? o equivalente a mais de 40% da renda mensal. ?A inflação é bem maior para nós que chegamos à terceira idade?, constata Pavan. ?É na velhice que gastamos mais com remédios, médicos e outros serviços de saúde?.
Pavan está certo. A comprovação foi feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que criou o Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade, o IPC-3i, que mede a variação de preços para famílias com pelo menos 50% dos indivíduos com 60 anos ou mais. Divulgado a cada trimestre, o IPC-3i acumula uma alta de 6,58% nos últimos 12 meses. No mesmo período, o IPC tradicional subiu 6,27%. A diferença entre as duas taxas de inflação fica ainda mais evidente em um prazo mais longo. De 1994 a 2004, enquanto os preços subiram 176,51% no país como um todo, para a turma da terceira idada a alta foi de 226,14% (leia tabela abaixo). Na avaliação do economista André Furtado Braz, da FGV, o grande vilão da inflação da terceira idade foi o aumento das tarifas públicas. ?Como os idosos ficam mais em casa, eles gastam mais luz, água, gás e telefone do que a média da população?, afirma Braz. Há, ainda, outros custos que pesam mais na conta dos aposentados. Um exemplo clássico é a área de saúde, que leva 15% do orçamento dos idosos, contra 10,36% da renda da população em geral. Só em gastos com medicamentos, os velhinhos comprometem 4,48% da renda, mais que o dobro do resto da população. ?Os aposentados ainda gastam mais com habitação e alimentação, pois precisam de mais cuidados e de comidas especiais?, observa Braz, da FGV.
Para piorar, os reajustes dos benefícios pagos pela Previdência Social têm ficado abaixo dos principais índices de inflação (leia tabela). ?Nos últimos anos, nem a inflação oficial temos recuperado?, afirma João Batista Inocentini, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical. ?Até o reajuste do salário mínimo supera os nossos aumentos?, critica. Segundo os dados do Sindicato, existem hoje no Brasil cerca de 23 milhões de aposentados, que recebem um benefício médio de R$ 472 do INSS. Já a última Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), realizada pelo IBGE em 2003, revelou que a renda per capta dos brasileiros com 60 anos ou mais é de R$ 422. ?O ideal seria usar um índice específico, como o IPC-3i, como parâmetro para os reajustes da terceira idade?, defende o professor Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV. ?Só assim os idosos manteriam seu poder de compra?. ![]()
Na lanterna
Reajuste dos aposentados perde de todos os índices, inclusive do salário mínimo (de maio/95 a maio de 2005)