12/12/2007 - 8:00
Assim como ocorre com antigos conhecidos, algumas empresas refugiam-se num canto da memória e lá ficam, até que alguém cite seu nome. ?É mesmo, onde anda ela? Ainda existe??, é a indagação mais freqüente nesses casos. Essa é a reação quando se fala no nome Intelig, a operadora de telefonia de longa distância criada em 2000 como ?espelho? da Embratel, como rezava o modelo de telecomunicações idealizado pelo então ministro Sérgio Motta. A empresa surgiu com estardalhaço. O número 23 chegou a se fixar na mente dos consumidores, graças a campanhas publicitárias estreladas por personalidades como Adriane Galisteu, Deborah Secco e Letícia Spiller.
Ficou por aí. Sufocada por um endividamento milionário, paralisada pela indecisão dos sócios e incapaz de acompanhar as mudanças do setor, a empresa praticamente sumiu do mercado. ?Nos resultados que a Anatel divulga, a Intelig, dependendo do serviço, nem sequer aparece no ranking?, afirma Rinaldo Teixeira de Carvalho, especialista em telefonia fixa da Inatel.
Desde 2002, a Intelig está à venda, mas os pretendentes olham, analisam e logo desistem do negócio. ?Todas as empresas do setor já a avaliaram?, diz um profissional da área de telefonia. ?Mas o passivo é muito grande, a receita, pequena e a conta não fecha.? Segundo dados estimados pela Teleco, uma das principais consultorias em telecomunicações do País, a receita líquida da Intelig ficou estagnada no patamar de R$ 1 bilhão, entre 2002 e 2005.
Atualmente não se sabe o total das receitas. Procurada, a empresa não se manifestou. Nesse período, a participação de mercado despencou. No segmento residencial, encontra-se abaixo de 2%. No corporativo é traço. Os ativos da operadora até seriam atraentes para a concorrência. Afinal, com investimentos de R$ 2,8 bilhões, a Intelig implantou uma rede de 500 mil quilômetros de fibras óticas em todo o território brasileiro.
?Eles tentaram vender a operação, mas não conseguiram?, afirma o jornalista Ethevaldo Siqueira, especializado em telecomunicações.
?Há um excesso de oferta de infraestrutura de longa distância.? Nem mesmo o aumento da demanda mudaria esse quadro. ?Cada vez se investe menos em ampliação física da rede?, diz um executivo do setor.
?Hoje 80% do aumento de capacidade vem de ganhos de produtividade.? Pior: por conta da concorrência, o preço das chamadas de longa distância caiu para 20% do que era há quatro anos. No mesmo período, o megabyte de dados despencou para 25% do valor anterior.
O que poderia tornar a empresa mais atraente seria um saneamento financeiro.
Mas os três sócios (a inglesa National Gride, a francesa France Telecom e a americana Sprint) não chegam a um acordo sobre a forma de fazê-lo ? aliás, nem sequer decidiram se realmente seguirão esse caminho. Os problemas da Intelig praticamente coincidiram com o seu próprio surgimento. Na ocasião, a Embratel enfrentava sérias dificuldades devido ao envolvimento de seu controlador, o grupo americano MCI, em um dos mais sérios escândalos financeiros dos EUA. Assim, as operadoras locais no Brasil viram um vácuo no mercado de chamadas de longa distância, que procuraram ocupar. Pegaram a Intelig no contrapé ? fazendo investimentos pesados e sem receita suficiente para cobri-los.
Mais, lembra Carlos Parizotto, consultor de mídia e telecomunicações. ?A briga de tarefas foi tão intensa entre Embratel e Intelig que elas chegaram a trabalhar com prejuízo em alguns serviços?, diz ele. A Embratel foi parar nas mãos do mexicano Carlos Slim e hoje é uma empresa saudável. Já a Intelig … ela ainda existe?