O carro-chefe logo mostrou ao que veio. O Pinot Noir Gran Reserva ? Rio Negro, da vinícola argentina Humberto Canale, estava com um frutado intenso e paladar com toques de pimentas e nozes. Um aroma suave e ataque na boca superior à permanência imprimia o tom. Assim apresentou-se a estrela de uma recente degustação das melhores safras do Mercosul oferecida à Corte brasiliense. Ministros do STF e do STJ, senadores, deputados e mais de 30 embaixadores estavam entre os 1,2 mil convidados que foram à embaixada da Argentina. Ao leve som de tangos, eles saborearam 400 garrafas de vinhos, entre Pinot Noir, Merlot e Malbec, e aplaudiram com furor as amostras da produção dos 13 principais vinicultores argentinos. ?O vinho fino argentino é de uma qualidade extraordinária?, avalia Guillo Barzi, proprietário da centenária vinícola Humberto Canale.  ?Estamos em Brasília para mostrar o nosso potencial, que pode concorrer com qualquer bordeaux francês?. Mas a visita dos hermanos à capital federal é, na verdade, apenas o início de uma grande ofensiva ao mercado de vinhos do País. Produtores de 786 diferentes rótulos, eles querem fazer do Brasil seu principal parceiro no setor. Experiência para conquistar mercado, os argentinos têm de sobra. O índice de garrafas dedicadas à exportação chega a 90% da produção. Sem contar que enfrentam, hoje, os mais renomados produtores do mundo: espanhóis, franceses e chilenos.

A idéia da Argentina de fazer do Brasil a sua jóia da coroa nos vinhos tem como principal empecilho os donos do mercado: os chilenos, com mais de 37%. Os vinicultores do Chile exportam para o Brasil há 20 anos e a qualidade dos rótulos tem prestígio nacional. Como prova disso, só no primeiro semestre deste ano foram US$ 7,75 milhões em importações. Os vinhos chilenos são considerados campeões de relação custo-benefício. No Chile, não há grandes custos para tratamento químico e a mão de obra é mais barata que a européia. Um bom exemplo da qualidade da produção é o Cabernet Sauvignon da Montes Alpha, com aromas alicorados e sabores concentrados e persistentes a chocolate, que está entre os líderes absolutos de venda. Mas os produtores argentinos estão confiantes. Apostam nas facilidades do Mercosul. Os importados argentinos chegam ao Brasil sem pagar impostos. Há três anos, essa medida tem refletido expressivamente no mercado. Os argentinos, que ocupavam a quinta colocação dos países que mais exportam vinhos para o Brasil, passaram para a segunda posição em 2004. No primeiro semestre deste ano, as vendas argentinas aumentaram em 6%, e agora eles possuem 34% do mercado ? US$ 6,5 milhões em importação, 11,2 milhões de litros de vinho. No Brasil, a indústria do vinho arregaçou as mangas. Exigem que o governo coloque barreiras aos argentinos à invasão supostamente de qualidade duvidosa. ?Os argentinos fazem milagre?, diz Danilo Cavagni, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura. ?Não sei como eles conseguem pôr uma garrafa de R$ 8 no mercado?.

Os argentinos rebatem as críticas dos produtores nacionais. Eles asseguram que os vinhos de baixa qualidade são raros e que os brasileiros aprenderam a degustar e entender a alma de um bom vinho. As estratégias arquitetadas pelos primos do Rio de La Plata foram espelhadas nas ações do Chile quando desembarcou no Brasil. Sessões de degustação, conquista de franqueados e revendedores em pontos estratégicos, além do eixo Rio-São Paulo, e a melhoria na qualidade da uva e do produto final. Além de produzirem clone – similares aos vinhos chilenos ? apostaram na peculiaridade da uva Malbec. Elas são aclamadas internacionalmente, com avaliação superior a 90 pontos pelos mais respeitados críticos. Os vinhos refletem a essência da uva. O frutado lembra ameixa e groselha. ?Esses vinhos são magníficos e de uma singularidade única?, diz Victor Levy, proprietário da importadora argentina Grand Cru. A rede tem lojas espalhadas em dez estados e representa as melhores vinícolas de Mendoza e da Patagônia. Em Brasília, a terceira capital consumidora de vinhos argentinos do País, as especialidades da unidade são as produções das pioneiras e mais tradicionais vinícolas. ?Trabalhamos com a linha top do mercado?, diz Regina Ferraz, franqueada da Gran Cru na capital federal. ?Afinal, os brasileiros sabem que vinho não é como sabonete. Existe uma cultura por trás de cada rótulo?.

Seis ótimas safras


Malbec 2002
, Edición Limitada
R$ 170
Mendoza
Vinícola
Enrique Foster
Vinho de personalidade. Vermelha intensa
e paladar com toques de menta e hortelã.

 

Pinot Noir Gran Reserva ? Rio Negro
R$ 106
Patagônia
Vinícola
Humberto Canale
Aroma suave, com frutado intenso e notas de diversas especiarias. O paladar é redondo.

 

 

Montmayou Grand Vin 2002
R$ 175
Mendoza
Vinícola
Fabre Montmayou
Encorpado, aromas de frutas vermelhas bem
maduras. Equilíbrio entre tanino e acidez.

 

 

Estiba Reservada 1999
US$ 69,50*
Mendoza
Vinícola
Catena Zapata
Safra com rara mistura de 95% de uvas Cabernet
e 5% de Malbec, a jóia argentina.

*Mistral (011-3372-3401)

 

 

Andeluna Malbec 2004
R$ 44
Mendoza
Vinícola
Familia Reina
Encorpado e estruturado. Cor intensa e aroma amadeirado.

 

 

Malbec Selección de Bodega 2002
R$ 177
Mendoza
Vinícola
Doña Paula
Doce, madeirado e levemente encorpado. Cor rubi
intensa, aroma herbáceo.