Em 1945, quando ninguém dava valor às pedras coloridas, como topázio, água-marinha, ametista e turmalina, ele tratou de pô-las no mapa da joalheria internacional. Em 1947, quando as empresas pouco se preocupavam com rigorosos processos de qualidade e pensavam apenas em vender, ele criou um certificado de garantia internacional que dava todo o suporte aos clientes em qualquer parte do mundo. Suas inovações não pararam por aí. Na década de 1960, quando nem se falava em globalização, ele abriu um escritório em Nova York e, de lá, espalhou sua bandeira por toda a Europa. Ele também ajudou a regulamentar o bagunçado mercado de ouro no Brasil na década de 80, imprimiu um rigoroso padrão de qualidade na indústria de jóias e levou seu nome ao Olimpo no mercado de luxo. Na sexta-feira 26 de outubro, aos 85 anos, ele se foi. Hans Stern, o homem que criou a joalheria H.Stern, empresa mais globalizada do Brasil, com presença em mais de 26 países, deixou um império e um legado impressionantes. De uma pequena loja no centro do Rio de Janeiro, fundada em 1945, ele criou uma gigante com 160 lojas próprias, 80 delas no Exterior, um faturamento estimado em R$ 400 milhões e exportações que ultrapassam US$ 50 milhões. ?Ele nunca se deixou deslumbrar por isso?, diz Richard Barczinski, presidente da H.Stern. ?Até a semana retrasada, ele ia trabalhar todos os dias e visitava as lojas da empresa.?

O caso de construção da marca H.Stern é mítico no mercado do luxo.

?É a grife brasileira mais forte dentro do segmento dela?, diz Gilson Nunes, diretor da Superbrands, empresa especializada em avaliação de marcas com escritórios espalhados em 75 países. Tanto é que ela é vista como uma das joalherias mais importantes do mundo. ?Ela está entre as cinco maiores do planeta em termos de faturamento e número de lojas?, diz Hécliton Santini, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM). ?A H.Stern puxou toda a indústria de jóias quando falamos em qualidade?, diz Santini. A empresa foi uma das primeiras a trabalhar coleções conceituais e a exigir padrões internacionais das terceirizadas que fabricavam jóias para ela. Além do produto e do marketing, Hans Stern foi fundamental no processo de regularização do mercado de ouro na década de 80. Na época, o ouro tinha dois preços, o oficial e o paralelo. Enquanto o primeiro era, por exemplo, cotado a R$ 100, o outro estava em R$ 150. ?Ninguém vendia pelo câmbio oficial?, diz Natan Blanche, responsável pela reestruturação do mercado de ouro no Brasil e, atualmente, sócio da consultoria Tendências.

O que acontecia? O preço oficial não era praticado e as empresas que trabalhavam dentro da lei, como a H.Stern, perdiam dinheiro. O Banco Central, então, instituiu que as empresas que exportassem poderiam entregar o valor da venda em dólares para o BC no Exterior e, assim, receberiam o equivalente em ouro no Brasil. ?Em um ano, as exportações saltaram de US$ 4 milhões para US$ 220 milhões?, diz Blanche. Hans Stern, uma das pessoas que colaboraram para isso, triunfou. De poucas palavras e reservado, o senhor Hans, como era chamado pelos três mil funcionários da joalheria, era visto como uma lenda. Nascido alemão, naturalizado brasileiro, ele veio para o Brasil em 1939, casouse em 1958 e teve quatro filhos, entre eles Roberto Stern, vice-presidente do conselho. Quanto ao futuro da empresa, ela seguirá firme.

Afinal, ela foi toda profissionalizada e está em plena expansão. ?Em novembro, vamos inaugurar uma segunda loja, em Moscou, próxima à Praça Vermelha?, diz Barczinski. ?Ele não gostaria que parássemos.? Em termos operacionais tudo continuará igual, mas a indústria, com certeza, perde um pouco do seu brilho.