O alemão Frank Appel, CEO da Deutsche Post DHL, maior empresa de logística do mundo, com um faturamento de € 55,5 bilhões no ano passado, tem duas preocupações com a Copa do Mundo do Brasil, que será disputada entre junho e julho deste ano. A primeira é ver a seleção do seu país, comandada pelos craques Özil, Lan e Schweinsteiger, enfrentar o time brasileiro. Na única vez em que isso aconteceu, na Copa do Japão e da Coreia, em 2002, o escrete Canarinho levou a melhor, vencendo o confronto por dois a zero, gols de Ronaldo, e sagrando-se campeão mundial. A segunda grande preocupação de Appel, a maior delas, é manter as operações da companhia em pleno funcionamento por aqui. 

 

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Frank Appel, CEO: “Em nosso negócio, não toleramos atrasos. Por isso, sempre

esperamos o inesperado “

 

Enquanto alguns setores se animam com a possibilidade de gerar novos negócios durante o evento, para a DHL a Copa do Mundo só traz problemas. “O aumento da demanda por encomendas nesses eventos é pequeno”, afirmou o CEO à DINHEIRO, em visita ao Brasil, na semana passada. Ao mesmo tempo, o crescimento do fluxo de turistas e da demanda por voos pode prejudicar suas movimentações de carga e atrasar as entregas, para desespero dos clientes. As dificuldades da DHL estão relacionadas, principalmente, com os gargalos nos aeroportos brasileiros. Cerca de 600 mil turistas estrangeiros devem visitar o Brasil durante a Copa do Mundo, segundo estimativas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). 

 

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Carga pesada: centro de operações da empresa na Alemanha. O Brasil ganhará

mais uma unidade em maio

 

A esse contingente, somam-se cerca de três milhões de torcedores brasileiros que se deslocarão entre as 12 cidades-sede para acompanhar os jogos. As companhias aéreas solicitaram à Anac a criação de 1.973 voos para atender à demanda. Além disso, 42% das rotas existentes serão modificadas. Appel já teve uma prévia do que o espera daqui a alguns meses. Ao desembarcar no Brasil, na segunda-feira 3, ele enfrentou longas filas na imigração. A demora o fez chegar meia hora atrasado a um evento da empresa. Para alguém como ele, que, além de alemão, é o principal executivo de uma companhia de logística, a impontualidade é motivo de estranheza. 

 

“Em nosso negócio, não toleramos atrasos”, afirma Appel. “Por isso, sempre esperamos o inesperado.” Para garantir as entregas de encomendas no prazo, a DHL está ampliando sua capacidade instalada no País. Um novo centro de operações será inaugurado em maio, no aeroporto de Viracopos, em Campinas, interior de São Paulo. Em janeiro, a DHL começou a operar voos internacionais próprios para o aeroporto de Guarulhos. Desde que chegou por aqui, em 1978, a empresa fazia os transportes internacionais por intermédio de companhias aéreas parceiras. Estão programados voos diários para Viracopos vindos de Miami, nos Estados Unidos. 

 

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Sem espaço: aeroporto de Cumbica (SP) lotado. Fluxo de turistas exige mudança de rotas

 

O cuidado da DHL com os clientes brasileiros justifica-se. No ano passado, as receitas provenientes do Brasil alcançaram € 1 bilhão, ou cerca de R$ 3,2 bilhões. O esforços para evitar um apagão, no entanto, não se resumem aos aeroportos. O centro de distribuição da companhia em Louveira, próximo a Campinas, que atende a fabricante de artigos esportivos Nike, dobrou de tamanho, chegando a 50 mil m². As três divisões da companhia – DHL Suply Chain, que terceiriza operações logísticas, DHL Express, de entregas rápidas, e DHL Global Forwarding, de transporte marítimo – estão traçando um mapa de riscos e conversando com os clientes para elaborar planos de contingência. 

 

“Vamos antecipar as entregas”, afirma Joakim Thrane, que dirige a DHL Express no País. “Também podemos enviar encomendas para outros aeroportos e completar a viagem por via terrestre.” Durante a Olimpíada de Londres, em 2012, a DHL enfrentou uma situação parecida. A cidade recebeu cinco milhões de turistas a mais do que o usual. Para não ficar presa no meio da multidão, a empresa fez uma parceria com a JogPost, startup especializada em encomendas rápidas, cujo diferencial é não usar nenhum tipo de veículo de entrega, apenas corredores. “Temos experiência nesse tipo de situação e vamos garantir as entregas”, diz Appel. A julgar pelo que aconteceu na capital britânica, nem que seja a pé. 

 

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