17/06/2011 - 21:00
Ele resolveu legalizar os automóveis que circulam de maneira irregular em seu país. Veículos roubados ou mesmo contrabandeados, trazidos principalmente de países como o Brasil e o Chile, converteram-se, da noite para o dia, em produtos lícitos, com documentação em dia e aptos para uso sem risco de confisco pela polícia local. Numa estimativa conservadora, existem mais de dez mil carros surrupiados de brasileiros – e vendidos lá por bandidos em troca de drogas – circulando por cidades como a capital La Paz.
Cerca de quatro a cada dez automóveis da frota boliviana têm essa origem. A frouxidão de controle nas fronteiras, a conivência corrupta de fiscais e a vista grossa do governo permitiram o avanço de um esquema escandaloso de tráfico de carros em que os mais prejudicados são os reais proprietários daqui, empresas seguradoras e a indústria automobilística como um todo. O fanfarrão Morales, que gosta de praticar populismo com o patrimônio alheio, já havia encampado alguns anos atrás uma refinaria de petróleo da Petrobras.
Nacionalizou a planta na marra e na mão grande. E com pouca, quase nula, resistência de autoridades brasileiras. Agora, mais uma vez, se percebe certo descaso diplomático com esse confisco. O Brasil se cala em nome do quê? Da propalada boa vizinhança? Se as relações com os parceiros latinos têm que ser pautadas por um misto de passividade e gordos prejuízos para os cidadãos, melhor seria o caminho da retaliação.
Morales está estimulando abertamente, sem protestos, um complexo de ilícitos que dá renda e mercado a ladrões, receptadores e a uma ampla gama de marginais – muitos deles operando diretamente dos presídios. A perigosa concessão pode ainda mergulhar o continente, mais profundamente, no labirinto da ilegalidade e do subdesenvolvimento. De onde o Brasil vem, a todo custo e com muito esforço, tentando sair nos últimos anos.