28/10/2009 - 8:00
Norton Commando: cada exemplar da nova motocicleta da marca custa US$ 21,1 mil
Em 1952, quando o jovem médico Ernesto Guevara e o bioquímico Alberto Granado partiram da Argentina para fazer uma travessia pelos países da América do Sul, eles eram apenas dois desconhecidos. A única lenda que os acompanhava era a “La Poderosa”, uma valente Norton 500 cilindradas, a famosa motocicleta britânica cultuada com fervor pelos amantes de máquinas sobre duas rodas. Anos mais tarde, é verdade, Guevara virou Che, o mítico guerrilheiro que, ao lado de Fidel Castro, desceria a Sierra Maestra para comandar a revolução cubana em 1959. Isso só fez crescer a reputação da Norton, retratada com destaque no filme Diários de Motocicleta (2004), de Walter Salles. Apenas a reputação. Durante os últimos 15 anos, a marca esteve no limbo, sem produzir uma única máquina, um único ruído. Há um ano, porém, essa história começou a mudar.
Depois de escutar que o grupo americano que detinha os direitos da marca pretendia vender tudo para uma empresa que fabricava roupas, o jovem milionário inglês Stuart Garner, 40 anos, pegou um voo para os Estados Unidos decidido a resgatar o ícone britânico. “Foram apenas cinco dias do início das conversas até a conclusão do negócio. Paguei alguns milhões de dólares e trouxe a marca de volta para casa”, disse Garner à DINHEIRO (leia entrevista). Os primeiros modelos fabricados começaram a ser entregues no fim de setembro e Garner confirmou que já negocia a vinda da marca para o Brasil.
“Temos pedidos de várias empresas querendo nos representar. Estamos selecionando quem será o nosso distribuidor. O que posso dizer é que até 2010 já estaremos no mercado brasileiro.” Além das motocicletas, a empresa planeja vender roupas com a grife Norton no País. “Já estamos assinando um acordo com uma empresa de licenciamento”, diz Garner. O mercado brasileiro é um terreno fértil para as marcas de motocicletas de luxo. Segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo), só a Harley Davidson, por exemplo, vendeu 5.194 exemplares no ano passado – 2.806 unidades a mais do que o anotado em 2007. A BMW, por sua vez, vai montar motos na Zona Franca de Manaus e sublocar uma área na fábrica da novata Dafra. “Em 2008, foram vendidas 21,2 mil motos acima de 400 cilindradas, quase o dobro do que em 2007”, diz Moacyr Alberto Paes, diretor-executivo da Abraciclo.
“Quem tem uma moto de menor cilindrada sempre almeja uma melhor.” O desafio de Garner é devolver à Norton o papel de protagonista no universo da velocidade e fazer com que ela seja desejada. “Quando as marcas têm uma boa história para contar, o retorno é mais fácil”, diz Julio Moreira, sócio da Top Brands, consultoria especializada em avaliação de marcas. Fundada por James Lansdowne Norton, em 1898, a Norton produziu sua primeira motocicleta em 1902. Não tardou para conquistar fãs e chegou a vender 100 mil unidades para o Exército britânico durante a Segunda Guerra Mundial.
Uma das grandes proezas da Norton foi marcar presença – como protagonista – no Isle of Man TT, corrida que acontece na Ilha de Man, próxima da Inglaterra, e que reúne os maiores pilotos do mundo.
Tradicional para o mundo das motos como a prova de Le Mans é para o automobilismo, essa corrida garante uma espécie de atestado de qualidade para quem a vence. A Norton já levou 19 canecos para casa, um número batido pela Honda apenas este ano. Detalhe: a marca inglesa ficou afastada das pistas nos últimos 15 anos. “Estamos investindo e, em 2010, estaremos prontos para competir com eles”, rebate Garner. Uma fábrica de 1,4 mil metros quadrados foi erguida no circuito de Donington Park para criar as mais potentes máquinas. O primeiro modelo que acaba de sair do forno é o Commando 961, exemplar com design retrô e que custa 13 mil libras (US$ 21,1 mil). “Temos capacidade para produzir mil unidades por ano”, avisa Garner. A julgar pela demanda, é pouco. “Fomos contatados por oito mil pessoas interessadas em comprar.”
Além das Pistas: a empresa também vende roupas com a marca Norton
Antes de levar a Norton “de volta para casa”, como Garner gosta de frisar, ele era desconhecido entre os amantes da velocidade. É, entretanto, um empresário notório por grandes façanhas. Vamos a elas: aos 16 anos, abandonou a escola e começou a trabalhar até que montou uma empresa de fogos de artifício, a Fireworks International, hoje a maior da Inglaterra. Estabelecido, com dinheiro no bolso, criou a Klever Kids, uma empresa que fabrica carrinhos e outros artigos para bebês, e ainda adquiriu uma reserva ecológica em Botsuana. A Norton foi a sua mais recente aquisição e, diante da trajetória de quem a partir do zero criou tudo isso, não é de se espantar se ele levar a marca de 0 a 300 km/h em um curto espaço de tempo.
“O Brasil é muito importante para a Norton”
Stuart Garner, o dono da Norton Motorcycles, falou à DINHEIRO sobre a marca que havia caído no ostracismo, a compra da grife e os planos de vir para o País
Como foram as negociações para a compra da Norton?
Foram muito rápidas. Do começo ao fim, demoraram apenas cinco dias. Foi logo depois do colapso do Lehman Brothers. Eu queria fechar o negócio logo e, em outubro de 2008, já estava com a Norton nas mãos.
Quanto o sr. investiu?
Não revelo o número exato, mas posso dizer que foram alguns milhões de dólares.
O que o sr. fez para ressuscitar a marca?
Trouxemos a produção de volta para a Inglaterra, para gerar mais interesse na marca e no projeto.
Como o sr. analisa esse primeiro ano à frente da Norton?
Foi um primeiro ano incrível. A marca é conhecida mundialmente e o retorno foi mais rápido do que esperávamos.
Qual é a moto mais importante da Norton?
Atualmente é a Commando. Produzimos o motor, o chassi e todos os componentes na Inglaterra e finalizamos a moto na nossa fábrica.
Quantas serão produzidas por ano?
Temos capacidade para fabricar mil unidades por ano e existem cerca de oito mil pedidos para comprar a moto em todo o mundo.
Há distribuidores em outros países?
Hoje temos distribuidores nos Estados Unidos, no Canadá, no Japão e na Europa. Mas, para você ter uma ideia da força da marca, temos 300 pedidos de pessoas que querem se tornar revendedores.
O sr. pretende trazer a marca para o Brasil?
Sim, o Brasil é um mercado muito importante para a Norton e apresenta uma fantástica oportunidade de crescimento. Temos pedidos de várias empresas interessadas em nos representar. Estamos selecionando quem será o nosso representante. O que posso dizer é que até 2010 já estaremos no mercado brasileiro. Fora isso, estamos para assinar um acordo com uma empresa de licenciamento para vender roupas da Norton no Brasil.