A China já é a maior economia do mundo. Sim, é verdade. E não porque as economias ricas tenham sumido do mapa, afetadas por um tsunami financeiro. A afirmação consta de um relatório divulgado na terça-feira 29, pelo Banco Mundial, que faz uma comparação entre 199 países considerando o poder de compra, em moeda local, do dinheiro que circula dentro do país. Ou seja, a produção de riqueza não é transformada em dólares, mas ajustada pelo que ela pode comprar dentro da economia. Por esse critério, chamado de paridade de poder de compra (PPP, na sigla em inglês), a China se tornará, neste ano, a maior potência econômica global.

O estudo usa dados de 2011 e conclui que, naquele ano, os Estados Unidos ainda detinham a liderança, seguidos de perto pela China, que passou o ocupar o posto que antes era do Japão. Enquanto os EUA detinham uma fatia de 17,1% da economia mundial, a chinesa era de 14,9%. A chegada da China à dianteira se daria justamente em 2014, pelas projeções do Programa de Comparação Internacional do Banco Mundial, responsável pelo estudo. De fato, o ritmo de crescimento dos dois países tem sido bem diferente nos últimos anos. Projeção do Fundo Monetário Internacional aponta para uma expansão de 7,5% da China em 2014, enquanto os Estados Unidos devem crescer bem menos – 2,7%, mas ainda mais do que o Brasil, cuja expansão deve ser de apenas 1,8%.

Nos últimos anos também aumentou a fatia dos países em desenvolvimento no bolo total – efeito decorrente da crise, quando várias das nações mais ricas tiveram recessão ou crescimento muito baixo e demoraram a se recuperar, enquanto os emergentes mantiveram o ritmo. Em 2005, a economia chinesa correspondia a 43,1% da dos Estados Unidos. Em 2011, essa proporção havia dobrado para 86,9%. Nesse mesmo período, o PIB brasileiro passou de 12,8% do americano para 18,1%, enquanto países desenvolvidos, como Japão e Reino Unido, tiveram perda relativa. É claro que, quando se olha o PIB per capita, os chineses ainda têm muito a avançar.

Embora próximos em números absolutos, os dois países têm po­­pulações muito diferentes: são 300 milhões de americanos e 1,3 bilhão de chineses. Por essa comparação, os Esta­dos Unidos ficam na 12ª posição, enquanto a China vai para a 99ª e a Índia, que é a terceira na lista geral, desaba para a 127º no ranking que leva em conta o PIB per capita. O Brasil, o sétimo País no cômputo geral, com uma fatia de 3,1% do PIB mundial, está em 80º lugar no ranking de PIB per capita. Mas existe uma relevância na comparação dos números absolutos. Embora a riqueza de uma sociedade e seu padrão de vida sejam medidos pelo poder de consumo individual, muitas decisões são tomadas coletivamente pelos governos.

Assim, mesmo que cada chinês tenha menos de 10% da riqueza de um americano, as decisões tomadas pelo país têm um peso proporcional ao seu tamanho como um todo. Quando o governo do gigante asiático decide que vai comprar mais ou menos soja ou minério brasileiro, não importa que cada chinês tenha menos dinheiro do que cada brasileiro, americano ou europeu. É o governo chinês que decide onde vai aplicar os dólares de suas reservas internacionais – cujo destino tem sido, cada vez mais, os papéis do Tesouro americano. E essas decisões tomadas do outro lado do mundo vão se tornando mais e mais relevantes para todo o planeta. O que o país ainda não tem é o reconhecimento de sua importância no cenário internacional. Não deve tardar. A realidade sempre se impõe.