17/04/2015 - 8:32
A cartilha básica dos negócios para momentos de crise prevê que as empresas se preparem para o velho “menos é mais”. Para sofrer menos e ter mais rentabilidade, é de costume adotar estratégias de diminuição da oferta, com o fechamento de lojas e até demissões. A mineira Locamérica, locadora de veículos voltada para clientes corporativos, adotou uma estratégia oposta, a de vender mais durante a crise. No caso, a aposta está na ampliação das vendas de seus carros seminovos, diminuindo o ciclo entre a aquisição de um carro para sua frota de locação e o momento em que ele é revendido.
“Quanto mais rapidamente conseguimos vender os carros, menos perdemos com manutenção e depreciação”, afirma Luis Fernando Porto, sócio-fundador e presidente da Locamérica. A equação de Porto é simples. Como negocia grandes compras com as montadoras, conquista bons descontos. Com isso, o preço de seu seminovo, muitas vezes, é maior do que o valor pago pela Locamérica no zero km. A empresa conseguiu ainda baixar a idade média de sua frota de 19,1 meses para 16,9 meses. Segundo Porto, porém, a meta é atingir um índice em torno de 15 meses.
Para chegar a esse patamar, a locadora está investindo na abertura de revendas de carros seminovos e vai testar até um site. Atualmente, são 13 lojas próprias, e duas outras serão abertas neste ano. Com uma parte do esforço já realizado, a Locamérica tem atualmente 30% de sua receita vindo dos seminovos. A meta da empresa, que faturou R$ 629 milhões em 2014, é fazer com que esse negócio represente metade de suas receitas até 2017. A favor desse movimento está a conjuntura atual, que privilegia a venda de carros usados, à medida que o consumidor está se afastando das compras de novos.
Segundo a Anfavea, a associação das fabricantes de automóveis, as vendas de carros novos caíram 16% no primeiro trimestre do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Já os negócios com usados e seminovos subiram cresceram 1,3%, no mesmo período. No entanto, há alguns obstáculos no caminho da Locamérica para por de pé esse plano. A companhia fechou 2014 com caixa de R$ 206 milhões, mas há um total de R$ 456 milhões em dívidas a vencer até 2017.
Ao investir em remoçar e sofisticar sua frota, o endividamento da empresa subiu, e deixou pouco espaço para executar a estratégia de negócios. “Neste ano, vamos ter uma geração de caixa positiva, pela primeira vez desde o nosso IPO, em 2012”, diz Porto, que garante não ter sido pego desprevenido pela paradeira nos negócios. De acordo com ele, a crise já vinha sendo anunciada. “Ela só tem sido um pouco maior do que esperávamos e ainda não podemos precisar se já chegamos ao fundo do poço”, diz. “Mas começamos a alongar as dívidas e a buscar uma posição de caixa mais robusta para ultrapassar as turbulências.”