29/04/2022 - 8:56
Diz a sabedoria popular: na massa de pão, quanto mais se bate, mais cresce. E essa é a receita que Bolsonaro usa para sustentar um crescimento que já vem sendo sentido nas últimas pesquisas de intenção de voto. Só que nem toda massa reage da mesma forma. E se Bolsonaro é o pão, a economia é o suflê. Nesse caso é preciso condições ideais de temperatura, proporções perfeitas dos ingredientes e o tempo exato de forno. Sem destreza em sua condução, a economia até pode crescer rápido, mas vai murchar (ou pior, nem chegar a crescer). E isso prova que é impossível usar fórmulas idênticas no pão e no suflê e esperar o mesmo resultado. Todo cozinheiro sabe disso.
Com a política da sova, Bolsonaro escolheu que receita quer seguir. Seus efeitos já são sentidos. Depois de voltar a subir o tom e afrontar o STF, ofender seus oponentes e atacar a imprensa, as últimas pesquisas eleitorais revelaram que o presidente tem ganhado fôlego. As pesquisas do DataFolha, Poder360, XP e ModalMais mostraram em abril que o percentual que separa Lula (primeiro colocado) de Bolsonaro tem caído entre 1 e 4 pontos porcentuais, dependendo da análise. Um resultado positivo para a campanha do presidente, que não havia conseguido o mesmo efeito com a ampliação do Auxílio Brasil e estava com a imagem arranhada pelo desempenho dos preços dos combustíveis. É a prova de que ódio gera engajamento (e identificação).
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Mas e o suflê? O dólar, mesmo com o preço do petróleo caindo ao longo da semana, voltou a subir no Brasil, e tem oscilado próximo de R$ 5 nos últimos dias. Para se ter uma ideia, no dia 20 a moeda norte-americana custava R$ 4,61. Seis dias depois o preço passou para R$ 4,9, uma alta de 6,5% em menos de uma semana. Desde o começo da guerra da Ucrânia, a moeda brasileira voltou a se valorizar, muito em função do aumento da demanda por commodities e da entrada de dólares que deixavam a Rússia. Mas só isso não basta para sustentar uma moeda valorizada. O jogo interno do País também precisa ajudar, e a escalada das crises institucionais que envolvem Executivo e Judiciário tem prejudicado a moeda brasileira. Na queda de braço entre Bolsonaro e Alexandre de Moraes (ministro do STF) quem perde é a economia.
Outro sintoma de que as coisas não vão bem é a inflação, que em abril veio galopante (e assustadora). O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo 15), considerado uma prévia da inflação oficial (IPCA), registrou alta de 1,73% em abril, após ficar em 0,95% em março. Essa é a maior variação para o mês de abril em 27 anos, quando o índice foi de 1,95%. O resultado também é a maior variação mensal do indicador desde fevereiro de 2003 (2,19%).
Considerando o acumulado dos últimos 12 meses, o índice foi de 12,03%, acima dos 10,79% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores e da meta do Banco Central para a inflação neste ano, de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos —ou seja, variando entre 2% e 5%. No ano, o IPCA-15 acumula alta de 4,31%. Os dados foram divulgados esta semana pelo IBGE.
E, mesmo revelados os fatos, se ainda houver alguma dúvida sobre Bolsonaro gostar mais do pãozinho que do suflê é só lembrar que, logo após ter sido eleito, ele apareceu em público devorando um pão com leite condensado. E as padarias pelo Brasil logo passaram a oferecer o “Pão à Bolsonaro”. Resta torcer para que nós brasileiros não sejamos obrigados a engolir o pão que o diabo amassou.