25/05/2001 - 7:00
Os planos de capitalização sempre tiveram uma péssima imagem. Colaboravam para isso sua baixíssima rentabilidade e as reclamações de consumidores que, ao final de um plano, recebiam menos dinheiro do que haviam aplicado. Também havia, claro, as denúncias de irregularidades envolvendo produtos como o Papa Tudo. O que ninguém nunca discutiu é que o negócio dava dinheiro. Por isso, nos últimos seis anos, todos os pesos pesados do mercado financeiro entraram nessa seara. Como resultado, o setor acumulou um crescimento de 96%. Foram 10% somente nos primeiros meses de 2001, ritmo que se mantido até o final do ano significará um faturamento de R$ 4,7 bilhões para o setor. Agora, as empresas avaliam que o número de consumidores bateu no teto. Sua preocupação é garantir a fidelidade dos clientes que já existem ? com planos mais confiáveis ? e oferecendo mais vantagens, para abocanhar clientes da concorrência.
O primeiro passo para ?limpar? os planos aconteceu em novembro de 2000, quando entrou em vigor a nova lei sobre o setor. No passado, quem investia R$ 100 corria o risco de resgatar, no final da aplicação, R$ 80. ?É uma vergonha, mas algumas empresas ainda trabalham assim?, admite Affonso Henriques, gerente da divisão de capitalização do Banco do Brasil (BB). Sob a força da lei, agora os títulos devem ser corrigidos pela Taxa Referencial (TR). Os grandões já passaram a corrigir os títulos pela TR mais juros de 0,5%, o equivalente à poupança. ?Quem não fizer isso vai perder lugar no mercado. O consumidor não é trouxa?, diz Henriques. Para manter o apetite do cliente, as empresas também estão aumentando a bolsa de prêmios por meio da reserva de capitalização. Parte dessas reservas é utilizada como prêmio. Neste ano, as reservas devem crescer 20%, totalizando R$ 6,6 bilhões. ?O prêmio é a melhor ferramenta de marketing. Por isso, decidimos aumentá-lo?, explica Rita Batista, presidente do comitê de capitalização da Federação Nacional das Empresas de Seguros (Fenaseg).
Apesar do aumento dos prêmios, as chances de ser agraciado com um prêmio ainda são muito pequenas. O Ourocap Millenium, do Banco do Brasil, é um título de capitalização de 60 meses. As chances de ser premiado, segundo o próprio BB, são de 0,0002689%, pouco melhores que a probabilidade de ganhar na Super Sena, que é de 0,0002444%. ?A chance é pequena, mas o brasileiro adora jogo?, diz Henriques, do BB, que compra títulos de capitalização há quase quatro anos e nunca foi sorteado. ?Temos pouco espaço para crescer. A prioridade não é mais conquistar novos clientes, mas fidelizar os existentes?, diz Rita. Calcula-se que 60% das pessoas que já adquiriram esses títulos continuam a comprá-los, ainda que de forma descontinuada. Hoje as indústrias oferecem produtos para todas as classes, das mais pobres às mais ricas. ? Cerca de 30% dos títulos são vendidos para as classes média e média alta?, diz Henriques. Basta lembrar que o Itaú vendeu toda a série de um papel com pagamento único de R$ 2,4 mil, cujo valor, por si só, já é seletivo.
No início dos anos 90, muitas empresas ganhavam dinheiro somente embolsando os descontos sobre os depósitos dos titulares. Depois, com o aperto da fiscalização da Susep, o xerife do mercado segurador, as empresas começaram a remunerar melhor e buscar outras estratégias de lucro. ?Hoje, a lucratividade vem das aplicações financeiras em bolsa, títulos públicos e privados e imóveis enquanto o dinheiro está em poder da instituição?, diz Rita. No ano passado o setor faturou R$ 4,4 bilhões, dos quais R$ 2,7 bilhões, ou 61,4%, foram pagos por clientes que permaneceram até o final do plano.