A expectativa para a abertura de capital da Uber na bolsa de Nova York (Nyse) era a melhor possível. Chamado por alguns de “IPO da década” dentre as empresas americanas, a companhia de aplicativos de transporte estimava ser avaliada entre US$ 80 bilhões e US$ 120 bilhões. Conseguiu, mas por muito menos do que sua projeção máxima apontava. O IPO da empresa ficou avaliado em US$ 82 bilhões. A título de comparação, o Facebook levantou, em 2012, um total de US$ 16 bilhões, conseguindo uma valorização de US$ 104 bilhões. Na década passada, o destaque foi o Google, que atingiu valor de US$ 205 bilhões.

Para o grande evento da Uber, no entanto, os ânimos estavam acirrados dentro e fora do pregão. Nas ruas, motoristas do aplicativo preparavam protestos em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil. Eles planejavam parar suas jornadas por, pelo menos, oito horas. Aqui, a movimentação, batizada de Uber Off, era ainda mais ambiciosa. Estava planejada para durar 24 horas. A reclamação dos motoristas era que não ganhariam nada com o dinheiro a ser levantado pela empresa fundada por Travis Kalanick e Garrett Camp.

Além disso, eles alegam que as condições de trabalho se deterioraram nos últimos tempos. O aumento do combustível, o pagamento de taxa de 25% do valor da corrida à empresa e a falta de reajustes dos preços do aplicativo estariam pressionando os ganhos dos trabalhadores. A Uber opera em mais de 60 países e em 700 cidades pelo mundo. “É um cenário muito confuso, porque não está claro quem é quem nessa relação, entre as pessoas que trabalham para a Uber e a empresa”, diz Daniel Domeneghetti, analista da Dom Strategy Partners. “Mas a minha leitura é que o mercado de capitais não vai levar isso em conta.”

Bilhete premiado: o fundador Travis Kalanick deve ser o maior beneficiado com o IPO na bolsa de Nova York (Nyse)

Nas mesas de negociação, as preocupações estavam em como a abertura de capital seria conduzida pelo banco Morgan Stanley. Na última revisão do preço das ações na quinta-feira 9, a Uber esperava alcançar uma avaliação entre US$ 80,5 bilhões e US$ 91,5 bilhões, uma abordagem mais cautelosa em relação às primeiras expectativas. Com o valor arrecadado de US$ 82 bilhões, a empresa levantou US$ 8,1 bilhões com as 180 milhões de ações colocadas à venda, com preços de US$ 45 cada, próximo ao mínimo de sua meta que era US$ 50. Este valor, no entanto, ficou abaixo do conseguido pela chinesa Alibaba (que tomou US$ 25 bilhões em 2014) e do Facebook (US$ 16 bilhões, em 2012).

Antes do negócio, a Uber revelou mais dados sobre sua operação. Em 2018, o faturamento subiu 42% para US$ 11,3 bilhões, mais de US$ 1 bilhão vindo da operação brasileira. Mas também a empresa teve prejuízo de US$ 1,1 bilhão no primeiro trimestre deste ano. O motivo são os gastos crescentes. Em 2018, os investimentos somaram US$ 14,3 bilhões, 19% acima em relação ao ano anterior.

A maior preocupação era se a empresa seria afetada pelo efeito Lyft. A sua maior concorrente nos EUA fez IPO no fim de março. Mas suas ações, que saíram cotadas a US$ 72, passaram a valer menos de US$ 53 depois de um anúncio de prejuízo trimestral de mais de US$ 1 bilhão. A queda de mais de 26%, previam alguns analistas, poderia contaminar as expectativas quanto à Uber. Essa e outras respostas serão conhecidas nos próximos dias.