04/03/2015 - 17:15
Um pouco antes de o relógio cravar 11h, na quarta-feira 25, o empresário paulistano Ricardo Roldão, 44 anos, sócio e CEO do Atacadista Roldão, rede de atacado e varejo com 20 lojas e faturamento de R$ 2,1 bilhões, circulava pelos corredores da filial situada no Butantã, bairro da zona oeste da capital paulista. Em princípio, tratava-se de mais uma de suas expedições para checar o desempenho da equipe, um ato corriqueiro para um empresário para quem a velha máxima “O que engorda o boi é o olho do dono” continua mais atual do que nunca.
Um detalhe, no entanto, chamou a atenção. Desta vez, Roldão estava acompanhado de dois executivos: Alexandre Primo Battaglini e José Rafael Vasquez, diretor de marketing e superintendente da empresa, respectivamente, com os quais trocava ideias, destacando pontos positivos e itens que precisariam ser melhorados. O passeio pela filial, na qual foi produzida a foto que ilustra esta reportagem, é emblemático. “A palavra de ordem na empresa é descentralizar as decisões”, afirma Roldão. “Antes eu cuidava de tudo: do layout até a definição da quantidade e do tipo de mercadoria que seriam colocados à venda em cada loja.”
Essa nova postura começou de forma tímida em meados de 2013 e ganhou força ao longo do ano passado. O objetivo do empresário é preparar a empresa para dar seu maior salto desde sua fundação, em 2000, no embalo do crescimento das redes de atacarejo, que atendem tanto o consumidor individual quanto os pequenos revendedores e o food service. Para isso, Roldão vem fazendo mudanças significativas na empresa criada pelo pai, João Roldão, que começou a vida vendendo linguiça a bordo de um Fusca. A agenda inclui o estabelecimento de um sistema de governança corporativa, no qual o dia a dia das operações será tocado por executivos.
O recrutamento começou com Vasquez, egresso da subsidiária da rede americana Walmart, onde comandava as bandeiras de atacado. Batagglini, por sua vez, fez carreira na na consultoria alemã GfK e na brasileira Dotz. Outra profissional vinda do Walmart é Karina Tenório, ex-diretora-geral da bandeira Maxxi, nomeada diretora comercial. Mais: as contas da empresa têm passado pelo escrutínio da auditoria KPMG e o conselho de administração, presidido por Eduardo, irmão de Roldão, vem sendo encorpado com nomes como o do especialista em commodities Fernando Falco. “Em 18 meses pretendo me dedicar apenas à parte estratégica, deixando o dia a dia para os executivos”, diz Roldão.
O pacote, que tem por objetivo preparar a rede até para a abertura do capital, inclui também a expansão geográfica das operações, hoje concentradas no Estado de São Paulo. A meta é abrir 11 filiais até o final de 2016, metade do que foi feito em 14 anos. Para isso, as unidades de São José dos Campos e de Atibaia, que serão inauguradas neste ano, funcionarão como ponta de lança para a entrada no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, devido à proximidade desses dois Estados. “Temos de ir aonde o consumidor está”, diz Roldão. As cinco novas lojas previstas para 2015 deverão consumir R$ 40 milhões.
O otimismo contrasta com os prognósticos negativos para a economia em 2015. “Desde que abrimos as portas, temos crescido na faixa acima de dois dígitos”, afirma. Para 2015, a meta é elevar o faturamento em 20% em relação ao ano passado. Uma parte se dará por conta da expansão, mas o empresário confia em um bom desempenho das vendas. Sua crença decorre das especificidades de sua clientela que inclui, ainda, famílias numerosas que tendem a voltar a fazer compras mensalmente. “A concentração maior nos gastos com alimentação faz com que os consumidores busquem redes com preços mais agressivos”, diz o consultor Claudio Felisoni de Angelo, professor da Universidade de São Paulo (USP).
“E o atacarejo acaba sendo a resposta natural a esse movimento.” Roldão garante que a transição está sendo feita com critério e planejamento. Os cuidados incluem uma atenção especial à família. Para entender melhor seu papel nesse processo, ele se matriculou em cursos no Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e passou a devorar livros sobre o tema. Formado em administração, com especialização em finanças, o empresário diz que as mudanças já foram assimiladas por todos os herdeiros do patriarca João. “Nós nascemos para morrer, enquanto as empresas para ter longevidade.”