O ESCRITÓRIO DO PRESIDENTE DA Lenovo no Brasil, Marcelo Medeiros, localizado no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo, mais parece um showroom da empresa chinesa, gigante da área de computadores com faturamento global de US$ 16,4 bilhões. Ali, um visitante pode ver os lançamentos que a Lenovo prepara no País. E concluir que o executivo, formado em ciência da computação e ex-funcionário da IBM no Brasil, tem pela frente uma maratona até o fim do ano. Medeiros tem fôlego. Ele gosta de apresentar pessoalmente, um a um, os produtos expostos. Sobre sua mesa, ao lado dos dois computadores que usa no trabalho diário, mantém um notebook enrolado em um tecido aveludado. Em um estilo que sugere um truque de mágica, Medeiros saca uma moeda e, depois, desenrola o equipamento novinho. É um modelo X300, lançamento mundial da empresa, que pesa 1,2 quilo. “O notebook tem a altura de uma moeda de 25 centavos”, diz ele, fazendo uma demonstração inquestionável. “Mas conseguimos tudo isso sem perder a resistência…” Antes que a frase termine, Medeiros levanta o X300 a cerca de 40 centímetros da mesa e solta-o de lá de cima. Tchum!!!! Apesar da queda, o notebook parece intacto. Em seguida, para que não haja dúvidas, o executivo se levanta e, calmamente, põe o computador no chão. Então, sobe nele, com os dois pés, como um campeão em seu pódio. “Tem muita resistência e durabilidade”, completa.

A apresentação está apenas começando. Como hábil vendedor, Medeiros reservou o melhor para o final. São as novidades que dizem respeito ao mercado brasileiro. A Lenovo Brasil, companhia que só vende, no momento, computadores para o mercado corporativo, vai entrar no varejo no início de 2009 e oferecer seus produtos para as pessoas físicas, anuncia. Neste terreno, a multinacional chinesa vai enfrentar as concorrentes de peso que encara no mundo todo, como Dell, HP, Toshiba, além da brasileira Positivo, a líder do mercado nacional. Segundo o executivo, somente em 2007, 5,7 milhões de pessoas no País compraram seu primeiro computador. “O aumento de renda das classes C e D aqueceu ainda mais o mercado”, diz ele. “Hoje, o Brasil já é o quinto maior mercado consumidor do mundo neste setor, atrás apenas dos Estados Unidos, China, Japão e Grã-Bretanha.” Ou seja, há espaço para entrar e competir. Para a estréia no varejo nacional, Medeiros mostra que tem energia para uma prova acirrada. Retoma a apresentação e aperta a tecla de seu computador. Surge na tela um filme publicitário no qual um homem, depois de viver solitário em uma ilha, é resgatado, mas ao voltar para casa barbudo e magro não é reconhecido nem pela mulher e nem pelo cachorro. O sujeito maltrapilho corre para seu notebook e liga o equipamento. Nesta hora, por um visor especial, o notebook reconhece o rosto de seu dono e lhe dá boas-vindas. “Sim, vamos lançar um notebook que vai reconhecer o proprietário pelo rosto. Ninguém vai mais precisar de senha”, afirma ele.

MADE IN BRAZIL: o desktop Lenovo 3000 Série E foi desenvolvido com a participação de brasileiros e já está sendo fabricado no País
Mas o que pode lhe garantir uma medalha é a novidade que está na sala Michelangelo, contígua à sua, com paredes e porta de vidro. No centro, sobre uma mesa, está o desktop Lenovo 3000 Série E, que tem DNA brasileiro, e destina-se a atender o mercado de pequenas e médias empresas. Não é uma máquina qualquer: é o primeiro computador da Lenovo desenvolvido no Brasil com a ajuda de engenheiros brasileiros. Juntamente com o equipamento, a empresa precisou criar uma rede de fornecedores para a produção, que será feita em unidades de Campinas. “O Série E foi desenvolvido em três fusos horários: o de Pequim, dos Estados Unidos e o de São Paulo”, diz Medeiros, referindo-se aos técnicos dos três países envolvidos no projeto. “Mas nasceu aqui no Brasil, onde será produzido e de onde será exportado.” É uma mudança significativa no modelo de atuação da empresa no País. Até agora, a Lenovo do Brasil era praticamente uma montadora de componentes importados. O projeto, que a transforma numa fabricante de fato, foi impulsionado por números que mostram a força do mercado: 3,4 milhões de desktops serão comprados este ano por pequenas e médias empresas do País. “O mercado brasileiro é muito atraente, por isso decidimos produzir aqui e ir para o varejo”, declara Medeiros.

 

Fundada em 1984, por 11 cientistas da computação que trabalhavam em uma oficina de fundo de quintal em Pequim, a Lenovo ganhou projeção mundial — e notoriedade — em 2005, quando para surpresa do mundo dos negócios adquiriu a Divisão de Computação Pessoal da IBM, até então sinônimo de computadores pessoais. A tacada transformou-a numa potência global, com centros de desenvolvimento e pesquisa fora da China, no Japão e nos Estados Unidos. Suas vendas cresceram 27% no ano passado. Sua mais recente surpresa veio com a Olimpíada. A Lenovo conquistou, depois de disputa com outras empresas, a condição de produzir a tocha oficial da Olimpíada de Pequim. Bolou um artefato com design moderno capaz de proteger as chamas do vento e da chuva. “A tocha acesa resiste a ventos de até 65 quilômetros por hora”, elogia Medeiros. Mas esta foi apenas uma descrição – o maratonista da Lenovo não quer vender tochas olímpicas.