O empresário Otávio Piva de Albuquerque, dono da importadora Expand, descobriu o vinho no final da década de 1970. Em viagem ao Chile, ele provou um tinto da safra de 1952, o ano de seu nascimento, oferecido pelo produtor Arturo Cousiño. Logo no primeiro gole, Piva se encantou com seus aromas e não tardou para que ele passasse a importar os rótulos da vinícola Cousiño Macul para o Brasil. E foi nesta história antiga, que ele gosta de contar aos amigos, que Piva buscou inspiração para o que chama de nova fase de sua empresa.

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Novo brinde: na sede da Expand, em Pinheiros, Otávio Piva apresenta os rótulos do país andino, que acabaram de chegar ao Brasil

Depois de amargar a saída de vinhos importantes de seu portfólio, como os da italiana Marchesi di Antinori e da argentina Zuccardi, além do fim da exclusividade na importação dos rótulos da gigante chilena Concha y Toro, a Expand investe para superar a crise que a fez perder a liderança no mercado de importação de vinhos no Brasil e lança um vinho próprio, batizado de Don Arturo, elaborado no Chile.

O nome escolhido é uma clara homenagem ao primeiro produtor a apostar no sonho do então jovem Piva. No seu início, a Expand representou a Cousiño Macul no Brasil, antes de se tornar a importadora exclusiva da Concha y Toro. São três vinhos, o branco elaborado com a uva chardonnay e dois tintos, um cabernet sauvignon e um carménère, esta a uva emblemática do país andino, que acabaram de chegar ao mercado brasileiro. Cada garrafa será vendida a R$ 19,80 e marca a aposta da Expand na categoria batizada de reservado, de vinhos básicos, de pouca complexidade.

Os planos são vender 20 mil caixas de 12 garrafas até o final deste ano e mais 80 mil caixas em 2011. Somente no ano passado, os rótulos reservados das vinícolas chilenas Concha y Toro, Santa Carolina, Santa Helena e San Pedro venderam, juntos, mais de 800 mil caixas, de 12 garrafas cada uma, no Brasil. ?Os reservados somam o maior volume, quase um terço do total dos vinhos chilenos que entraram no Brasil em 2009?, afirma Piva. No ano passado, o país andino liderou a importação no Brasil com cerca de 2,4 milhões de caixas de vinho.

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Aposta chilena: feitos com as uvas carménère, chardonnay e cabernet sauvignon, os reservados Don Arturo custam R$ 19,80, cada um

A estratégia de Albuquerque é comercializar uma bebida acessível, mas com qualidade maior do que a oferecida pela concorrência. ?Vendemos por menos de R$ 20, um vinho que vale R$ 40?, afirma ele. Na degustação, o vinho comprova a teoria de Piva. É um bom custo-benefício. Ele aposta que o Don Arturo pode lhe trazer os mesmos dividendos do episódio conhecido como vinho da garrafa azul. Não será fácil. Na década de 1980, Piva sugeriu a um produtor do vinho branco alemão que produzisse sua bebida para o Brasil em garrafas na cor azul. Foi uma revolução. Dos cerca de 2 milhões de caixas que o País importava na época, 1,2 milhão delas eram deste vinho.

O Don Arturo foi moldado pensando no consumidor brasileiro, num modelo diferente do que Piva teve com o seu primeiro projeto de ter seu próprio vinho. Na década passada, ele se associou aos donos do grupo vinícola português Dão Sul para fazer brancos e tintos no Vale do São Francisco, no Nordeste. Dois anos atrás, os portugueses compraram a parte de Piva no negócio, num episódio que marcou o início da saída de várias vinícolas do portfolio da importadora brasileira.

Hoje, com estrutura mais enxuta ? até a sede mudou, passando da nobre Vila Olímpia para um prédio no bairro de Pinheiros, em São Paulo ?, Piva fala em apostar no Don Arturo e nas marcas de pequenos produtores, conhecidos como vinhos de butique, entre eles a Domaine de La Romanée-Conti, o mais badalado produtor da Borgonha, e os premiados Casanova di Neri, da Itália, e Achaval Ferrer, da Argentina.

E, ao contrário do que se pode pensar, não é a Cousiño Macul que vinifica os rótulos chilenos de Piva, mas sim o Viños e Bodegas Córpora, que pertence ao grupo Córpora, que atua na área de agroindústria e turismo (são donos dos hotéis de luxo Explora). ?Os vinhos Don Arturo são produzidos na vinícola de Totihue?, informa Lídia Cortez, gerente comercial do grupo.

Nos vinhos, o grupo Córpora elabora bebidas exclusivas também para clientes nos Estados Unidos e na Alemanha e a sua parceria com a Expand é uma forma de aumentar a sua presença no Brasil ? mesmo com um número menor de vinícolas, a Expand tem um cobiçado canal de distribuição, com 40 lojas pelo Brasil. Em 2007, o grupo chileno exportou 17,9 mil caixas de 12 garrafas de vinho para cá. No ano passado, foram 25,3 mil caixas. Se a aposta de Piva der certo, a Córpora também sairá ganhando.