16/09/2021 - 8:09
O mundo dá provas cada vez mais contundentes de que a cobrança por boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) acontecerá de maneiras diferentes quando se trata dos países ricos entre si e entre eles e os em desenvolvimento. A evidência veio em forma de imagem. Um registro feito pelo grupo Sea Shepherd mostra 1.428 golfinhos-de-face-branca cruelmente mortos e expostos em uma praia da Ilhas Faroe, território da Dinamarca. Ou seja, em plena Europa – continente cujo os principais líderes bradam em alta voz serem os expoentes da luta por um novo modelo de economia baseado na preservação do planeta.
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Antes que alguém caia na fácil armadilha do “se eles podem, nós também podemos”, o que as demais autoridades globais deveriam fazer é cobrar de lá as boas práticas que eles exigem que sejam feitas aqui, na Tailândia, na Indonésia, nas Filipinas. É pressionar para que os países do continente adotem o que o mercado financeiro chama de Walk The Talk – em livre tradução algo como fazer o que fala. Mas até o fechamento deste artigo, as únicas autoridades a se pronunciar sobre o fato foram as da própria ilha.
Em entrevista à BBC, o presidente da Associação de Baleeiros das Ilhas Faroé, Olavur Sjurdarberg, admitiu que a matança foi excessiva. Mas defendeu que a prática faz parte da tradição local e que a caça de animais para alimentação humana é menos cruel do que manter gado ou porcos presos para posterior abate. A questão é que se o discurso por uma economia que respeite as limitações do planeta for para valer e não uma ferramenta disfarçada de protecionismo econômico, a desculpa de tradição local não cola.
Diante do crime ambiental o que o planeta teve foi silêncio. Nenhuma palavra da União Europeia, nem da China ou dos Estados Unidos. Até dos países pressionados pela Europa a serem mais sustentáveis a resposta foi o silêncio. Se bem que neste último caso, a réplica poderia ser pior. Afinal, se não há registros de recorde de matança de golfinhos nas nações da América Latina África ou Ásia, há o de assassinatos de ambientalistas. Dos 227 ativistas pelo meio ambiente mortos no ano passado (número jamais visto), 65 foram na Colômbia, 30 no México, 29 nas Filipinas e 20 no Brasil. A lista dos dez países mais perigosos para ambientalistas termina com a Índia e seus quatro assassinatos. Nenhum registro na Europa.