O plano do governo era o seguinte: incentivo ao consumismo, sem se preocupar com a inflação, caixa liberado para projetos do PAC que dessem visibilidade e loteamento de cargos e verbas para ampliar a bancada de apoio. O Estado financiou a “nova matriz econômica” petista e torrou toda a riqueza acumulada com a estabilidade do real. Instabilidade nas regras, que mudaram ao sabor de interesses políticos, e descaso com o parque industrial complementaram o cenário de desastre. E veio a recessão. A maior e mais aguda desde a volta da democracia. O consumo médio das famílias brasileiras já é o pior em 15 anos. O investimento, motor de retomada, despencou.

A retração se consagrou com o PIB encolhendo 1,9% no segundo trimestre do ano. Deve fechar 2015 abaixo dos 2% negativos. A indústria opera atualmente com ociosidade recorde, na casa de 78,6%. E o que todos estão se perguntando hoje é como sair dessa encruzilhada?  Há uma certeza que vai se consolidando no meio produtivo: não virá do governo o caminho da retomada. Perdido em suas próprias confusões contábeis, ele deixou de lado o papel de indutor do desenvolvimento. Tornar a recessão menos dolorosa requer, portanto, criatividade e ousadia.

Mais do que simplesmente cortar estruturas e projetos, as empresas precisam se reinventar. Muitas terão de abdicar do modelo de importação de insumos e matérias-primas e buscar fornecedores locais. Por essa via também devem florescer novas oportunidades de negócios. A eficiência, traduzida não apenas em linhas mais enxutas, terá de ser perseguida com a capacitação técnica e a aposta nas parcerias. A matriz da recessão, sua raiz essencial, foram as administrações perdulárias e ineficientes que ocuparam o poder nos últimos anos. Seguir adiante requer ignorá-las. A dependência do Estado deve ser reduzida na medida do possível. Grupos que se envolveram nas jogadas erráticas do governo, chantageados para alimentar caixas partidários, estão pagando a conta e terão de rever procedimentos dentro de princípios mais transparentes, procurando outros clientes. Os recursos sumiram das fontes onde tradicionalmente brotavam, mas podem ser encontrados em nichos ou em opções antes pouco cogitadas como a exportação. Aceitar a paralisia é condenar a própria existência. Restarão os mais arrojados empreendedores que, ao invés de lamentarem o quadro recessivo, saem à cata das matrizes de crescimento. Com menos política e mais economia, o Brasil se recupera.

(Nota publicada na Edição 932 da Revista Dinheiro)