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“A partir de Porto Real, vamos ocupar os espaços deixados por outras empresas”

 

 

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“Não repetimos o insucesso da Audi e da Volks, cujas marcas concorrem entre si”

 

 

DINHEIRO ? Como vai funcionar a nova fábrica?
JEAN-MARTIN FOLZ ?
Haverá duas etapas sucessivas de desenvolvimento e crescimento da planta industrial, permitindo um aumento na oferta de empregos na PSA Peugeot Citroën e, também, nas empresas fornecedoras de peças no resto do Brasil. Nossa fábrica de Porto Real começa a operar com 600 pessoas, mas até o final do ano deveremos manter 1.000 empregos diretos, com a produção de 24 mil carros. Na etapa final de desenvolvimento da planta industrial, capaz de construir 100 mil carros por ano, teremos uma oferta de 2.500 empregos diretos. Na cadeia produtiva, a fábrica será capaz de criar até 20 mil novos empregos.

DINHEIRO ? Indústrias como a Ford, que já anunciou a redução de sua produção automobilística, e a Chrysler, que está fechando uma unidade industrial no Paraná, parecem céticas em relação ao mercado. Qual é a sua avaliação?
FOLZ ?
No momento, o mercado brasileiro e o sul-americano estão em crescimento, enquanto o norte-americano está em baixa e o da Europa, estável. Considero que as melhores chances de mercado estão aqui. Mas a verdade é estamos numa situação de conquista em todos os países onde atuamos. Temos uma taxa de crescimento muito elevada. Em 2000, a PSA Peugeot Citroën teve um aumento de 34% em suas vendas fora da Europa, sobre um total de 480 mil veículos comercializados. Nenhum outro grupo teve desempenho igual. Nossa meta é alcançar, dentro de dois ou três anos, apenas fora da Europa, um volume de vendas anual de 700 mil veículos. No Brasil, nossas vendas em 2000 foram de 31 mil unidades e pretendemos comercializar, este ano, 45 mil veículos, aumentando a participação no mercado de 2,1% para 3,6%. Queremos chegar a uma participação de 5% em 2004. Vamos concorrer nos espaços deixados pelas outras empresas.

DINHEIRO ? Como?
FOLZ ?
Estamos confiantes na nossa capacidade de crescer, porque o mercado brasileiro é muito semelhante ao europeu quanto aos tipos de automóveis preferidos pelos consumidores e ao interesse deles na qualidade dos veículos. O mercado europeu ainda demonstra possibilidade de crescimento, mas, repito, existem maiores chances de crescer aqui. O Brasil passou por uma crise nos anos de 1998 e 1999, mas hoje retomou um certo crescimento. É por isso que acreditamos ser possível atingir em breve um nível de compras que corresponda à realidade brasileira.

DINHEIRO ? Qual a participação prevista para o Brasil no faturamento mundial da empresa?
FOLZ ?
O faturamento total do grupo no mundo foi de US$ 41 bilhões no ano passado, sendo US$ 6 bilhões nos países onde estamos presentes fora da Europa e em torno de US$ 400 milhões no Brasil. A tendência de inflação baixa e de redução nas taxas de juros deverá aumentar o consumo de bens, como o automóvel, permitindo prever por aqui um aumento nas vendas do setor automobilístico. Há, portanto, boas perspectivas de mercado no País.

DINHEIRO ? O mercado mundial está em baixa?
FOLZ ?
De uma maneira geral, não. O mercado norte-americano aumentou no ano 2000 em relação a 1999. Na Europa, o mercado vem respondendo bem à oferta nos últimos dois anos. Então, é errado dizer que de uma maneira geral as vendas estejam em retração. No Brasil e na China, por exemplo, estão em alta. Acontece que em países como a Argentina há uma certa retração, mas de uma maneira geral o mercado cresce.

DINHEIRO ? Qual o reflexo na Peugeot Citroën da união entre a Daimler e Chrysler?
FOLZ ?
Desde a fusão das duas, em abril de 1998, o nosso grupo tem mantido a mesma estratégia. Pensamos que as fusões não são uma boa solução frente à mundialização dos mercados. Dois anos atrás, quando dissemos isso, as pessoas pensavam que éramos loucos. Hoje, pensam que somos um pouco menos loucos. A verdade é que temos uma taxa de crescimento importante e, também, um valor importante na bolsa de valores, o que não é o caso da Daimler e da Chrysler. Em nossa estratégia, o número de carros vendidos não é o único fator de sucesso no mercado automobilístico, porque eles não são como as commodities. Pelo contrário, o mercado não está se direcionando para modelos específicos de pequenos carros, que seriam iguais no mundo todo. Está explodindo agora para carros de modelos diferentes, que se adaptem melhor ao gosto do consumidor. O importante agora não seria produzir de cinco a sete milhões de carros, mas levar o mercado de maneira mais atraente, com a oferta de novos modelos com a maior freqüência possível e o mais rápido possível, para nos tornarmos mais competitivos. Nosso tamanho não é um obstáculo para o nosso crescimento no mercado. Não somos um pequeno produtor de automóveis. Vamos produzir neste ano 3 milhões de automóveis. Somos o sexto produtor mundial de carros, com cerca de 5% do mercado, sendo que éramos o nono fabricante mundial três anos atrás.

DINHEIRO ? A estratégia do grupo parece ser a de andar na contramão do mercado. É isso?
FOLZ ?
A qualidade dos nossos produtos tem escapado do eixo das dificuldades do setor automobilístico justamente pela atração exercida por eles junto ao consumidor. Se optamos pelo crescimento, é porque optamos também pela inovação. Esta inovação é tanto em termos de produto automobilístico, quando em tecnologia. Lançamos diversos novos modelos ao longo do ano, como o Peugeot 206 e o 607, o Citroën Xsara Picasso e o novo Citroën Xsara. Nas próximas semanas, vamos apresentar o Peugeot 307. Investimos muito em inovações tecnológicas, por isso lançamos novas linhas de motores diesel, que não são populares no Brasil, mas muito bem aceitas em outros países. Desenvolvemos uma nova geração de motores diesel HDI. Nossa nova linha de motores a gasolina HPI funciona com injeção direta, mas com uma mistura pobre. Há o lançamento, ainda, de um filtro de partículas do escapamento, que corresponde à grande preocupação do grupo com o meio ambiente e a preservação da qualidade do ar.

DINHEIRO ? Qual é o índice de nacionalização de peças e componentes na fabricação dos veículos da Peugeot Citroën no Brasil?
FOLZ ?
Queremos prosseguir em nossa política de ?brasileirização? dos componentes dos nossos carros. Essa política se estende aos motores. Queremos ter uma taxa elevada de fornecimento de peças e componentes brasileiros. Essa taxa no Brasil é hoje de 50% de nacionalização e pretendemos atingir rapidamente de 70% a 75%, provavelmente em dois anos. Para isso temos projetos de produzir motores aqui. Só não foi definido o prazo para isso acontecer.

DINHEIRO ? A fábrica de automóveis do grupo na Argentina sofrerá esvaziamento com a entrada em operação da nova unidade brasileira em Porto Real?
FOLZ ?
Fizemos uma opção tanto industrial quanto comercial pelo Mercosul. Mas isso deve ser feito dentro do respeito ao regime automotivo que regula este mercado. Para isso, precisa haver um equilíbrio nas trocas entre os países, o que requer nossa presença na Argentina e no Brasil. Nossa situação hoje ainda não é a ideal, porque se apresenta como uma conseqüência de nossa história, na qual, anteriormente, produzíamos carros apenas na Argentina. Nosso objetivo é fazer com que as duas fábricas, lá e aqui, estejam perfeitamente integradas. Vamos direcionar as fábricas a determinados tipos de plataformas. Numa plataforma poderão ser fabricados modelos diferentes, ou um mesmo modelo em diversas plataformas. Porto Real terá uma plataforma para veículos pequenos, enquanto nossa fábrica na Argentina ganhará uma plataforma para veículos médios, como o Xsara. Isso será feito na medida em que houver uma renovação da frota. A velocidade vai depender do comportamento do mercado.

DINHEIRO ? Haverá algum critério especial na seleção dos fornecedores da fábrica de Porto Real?
FOLZ ?
Os fornecedores que virão serão aqueles com interesse em se instalar no Rio de Janeiro, que poderão fornecer tanto para nossa fábrica como para as de Minas Gerais. A maior parte dos grandes fornecedores já está presente no chamado Tecnopólo, mas a nossa intenção é a de continuar a ?abrasileirar? nossa produção. Assim, a escolha dos fornecedores vai obedecer este tipo de critério.

DINHEIRO ? A administração das duas marcas da Peugeot Citroën se dará de maneira separada ou unificada no mercado brasileiro?
FOLZ ?
A nossa organização envolve duas marcas. Nas áreas de vendas e marketing, as políticas de produtos e de preços são feitas dentro das marcas de forma independente. Agora, as políticas administrativa, de finanças, de recursos humanos e de compras são uma parte comum ao grupo. Temos um patrimônio composto por duas marcas generalistas. Queremos que elas sejam complementares. Temos o exemplo do insucesso da Volkswagen e da Audi na Europa, que voltaram atrás na união. Nossa experiência é diferente da Volks com a Audi, cujas marcas eram e são concorrentes entre si numa mesma área. Mesmo tendo marcas generalistas, temos concorrência em alguns segmentos de mercado, por isso tentamos personalizar estas marcas, através de modelos diferentes. A marca Peugeot está, por exemplo, associada a padrões de elegância e esportividade. À Citroën tem imagem de conforto, volume e adaptabilidade. Poderemos futuramente lançar um pequeno carro associado à imagem da Citroën.

DINHEIRO ? Houve acordo com a Renault no Brasil para fornecimento de motores?
FOLZ ?
Acertamos com a Renault uma parceria no fornecimento de motores. O motor do Peugeot 206 será produzido pela Renault e fornecido para montagem em Porto Real, em padrões estabelecidos pela nossa empresa. A ampliação desta parceria ainda está em negociações.