29/01/2015 - 19:00
Na década de 1990, com 22 anos, o administrador de empresas Rubem Arino desembarcou em Nova York com o cartão de visita de uma pequena corretora no bolso. A meta era apresentar a Hedging-Griffo a Wall Street. Duas décadas depois, em 2010, decidiu sair do mundo das finanças. Ao retornar de um sabático, investiu na ConsultaClick, empresa de agendamento de consultas do amigo João Paulo Ribeiro. Dela nasceu o Instituto Horas da Vida, cujo objetivo é prover atendimento gratuito e de qualidade para pessoas carentes.
Como foi a sua experiência na Hedging-Griffo?
Muito rica, em vários aspectos. Criamos a área de fundos, e o Luis Stuhlberger lançou o primeiro multimercado do País. Também fomos os primeiros em algumas operações internacionais com swaps.
Por que o sr. saiu da empresa?
Por uma combinação de fatores. Senti que era o fim de um ciclo profissional, queria conhecer o mundo fora do mercado financeiro e ter experiências na economia real.
Por que decidiu investir no ConsultaClick?
Tirei um sabático de dois anos e analisei vários projetos. O ConsultaClick, um portal que agenda consultas, me encantou, pois envolvia saúde, tecnologia e educação, além de uma dose de inclusão.
Como surgiu a ideia do Horas da Vida?
O ConsultaClick ganhou um prêmio de inovação de Harvard e recebemos uma consultoria da escola de negócios. Uma das sugestões foi que nos aproximássemos mais da sociedade. Essa é a semente do Horas da Vida, que foi criado em dezembro de 2012.
Como funciona?
Juntamos duas pontas: por um lado, excelentes profissionais, como o doutor Drauzio Varella, que têm brechas na agenda e, por outro, há milhares de pessoas sem acesso a atendimento médico. Para conciliar oferta e demanda, selecionamos ONGs que fazem uma triagem das pessoas que precisam de uma consulta. Os casos são analisados por uma junta médica, comandada pelo meu sócio João Paulo Ribeiro, médico e cofundador do instituto, que decide qual é o profissional mais indicado para o paciente.
Quantos médicos participam e quais são as ONGs parceiras?
Atualmente, contamos com mais de 500 profissionais da saúde e temos parcerias com 11 ONGs, como Apae, Grupo Cultural AfroReggae, Fundação Bachiana Filarmônica e Guga Kuerten. Em dois anos, já atendemos mais de seis mil pessoas com exames, consultas e palestras educacionais.
De onde vêm os recursos?
Contamos com a ajuda de parceiros e amigos, mas boa parte das despesas é paga por mim e pelo João Paulo. Esperamos dobrar o orçamento neste ano e chegar a R$ 1,5 milhão.
Quem são os parceiros?
Itaú, Instituto Sírio-Libanês, Instituto CSHG, Grupo Dasa, Óticas Carol e Universidade São Judas Tadeu, além das sociedades médicas.
Qual é o perfil dos pacientes?
A maior parte tem renda de até dois salários mínimos, 60% são mulheres e 40% homens com até 20 anos de idade.
Valeu a pena ter deixado o mercado financeiro?
No ano passado, recebemos o Michael, de 9 anos, que aparentava ter um grau leve de autismo. Antes de encaminharmos para um especialista, resolvemos levá-lo para um dos nossos mutirões de oftalmologia. Não era autismo: ele tinha nove graus de miopia, mas nunca havia feito um exame de vista. No fim do mutirão, ele veio correndo e me deu um abraço, aquele abraço de filho que envolve a cintura. Mudou a minha vida. Quando conto essa história sempre ouço: “Nossa, ele não enxergava nada”. Eu respondo que quem não enxergava nada era eu até criar o Horas da Vida. Essa é a minha taxa de retorno. Hoje sei o que eu buscava fora do mercado financeiro. Era o abraço do Michael.