Um divórcio, duas empresas, 30 unidades perdidas e mais de R$ 10 milhões em dívidas de centenas de processos trabalhistas. Essa era a situação da Microcamp quando, em maio de 2017, Davi Tuffi, filho de Eloy Tuffi, fundador da companhia, assumiu a gestão da rede de escolas de informática. “Estávamos à beira da falência”, afirma o CEO. A passada de bastão foi essencial para que isso não acontecesse. Com expectativa de crescer 10% neste ano, a empresa aposta em um modelo de franquias com preços mais acessíveis, taxas de royalties menores e maior retorno aos investidores. “Queremos voltar ao auge até o fim do ano.”

A crise que a Microcamp atravessou a partir de 2013 era quase inimaginável três anos antes. Em 2010, Eloy afirmou que não venderia seu negócio por menos de US$ 250 milhões. Na época, a Microcamp resistiu a uma onda de aquisições no setor de ensino, rechaçou ofertas e fugiu de um assédio do Grupo Multi, dono das concorrentes Bit Company, Microlins e SOS Educação. Caminhar com as próprias pernas parecia possível para uma companhia que, em 2012, previa faturamento de R$ 220 milhões se somadas as receitas de todas as 160 unidades, próprias e franqueadas. Não saiu como planejado. Para a empresa, a crise financeira que se instaurou no País nos últimos anos prejudicou o negócio. Mas isso não foi o pior. Segundo Davi, o divórcio de seu pai causou a ruptura da companhia.

Das 60 unidades próprias, metade passou a ser comandada pela ex-mulher de Eloy. “Houve uma ruptura gigantesca. Eram duas empresas.” Ela passou a comandar as unidades em São Paulo e na Baixada Santista, enquanto o pai ficou a cargo do restante dos estabelecimentos. A administração das unidades que não pertenciam a ele passou a ser feita fora da holding de Campinas, sede da companhia. Isso teria gerado problemas administrativos que, com o tempo, se transformaram em centenas de processos trabalhistas. Com a execução judicial, a Microcamp passou a ter uma dívida de R$ 10 milhões. O plano é saldar o montante até o fim do semestre.

FRANCA EXPANSÃO A aposta da Microcamp é um novo plano de franquias
chamado Smart. Lançado no fim do ano passado, o modelo deve ter sua primeira loja montada em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. A expectativa é de que 30 unidades sejam montadas para novos franqueados até o fim de 2019. Metade delas já está em fase de negociação com cartas de intenção assinadas, diz a empresa.

Além da taxa de royalties ser de 2%, considerada baixa, o que atrai os investidores é o valor do investimento. Por serem unidades mais compactas, o montante mínimo necessário para iniciar e dar capital de giro para a operação é de R$ 98 mil. A ideia é que cada unidade tenha, no mínimo, 30 matrículas por mês. Assim, a partir do segundo ano, o faturamento mensal vai girar em torno de R$ 60 mil – já prevendo possíveis desistências de alunos. Para ajudar nas vendas, a holding vai encaminhar potenciais clientes para os estabelecimentos mais próximos e também vai acompanhar as franqueadas que não consigam atingir a meta de matrículas Davi, porém, não se preocupa com isso. “Eu não conheço uma unidade que não faça pelo menos 30 vendas por mês”, diz.

Todo esse plano considera o mercado hoje. O presidente da Associação Brasileira e Franchising (ABF), André Friedheim, afirma que as franquias desenvolvem modelos mais enxutos para se adaptar ao atual ambiente econômico. “O acesso a crédito no Brasil ainda é escasso, o que torna a ‘régua’ do investimento inicial mais importante”, diz. Segundo a ABF, o segmento teve crescimento nominal de 7% nos últimos três anos e deve voltar a crescer em dois dígitos. É o que espera a Microcamp para não ter que apertar o reset mais uma vez.