Pergunte ao executivo Andreas Deges, presidente da Audi no Brasil, como ele gostaria de ver a empresa daqui a cinco anos e você ouvirá a seguinte história. Anos atrás, uma senhora entrou numa concessionária em Xangai, na China, e mostrou-lhe uma bolsa e um batom, ambos da mesma cor. “É essa tonalidade que quero que predomine no interior de meu A6”, exigiu ela. “E nós atendemos”, afirma Deges, um alemão bem-humorado de 42 anos, nascido em Dusseldorf. “Quero poder fazer o mesmo no Brasil.” Trata-se, realmente, de um bom momento para fazer planos. A Audi vive num período de transição, talvez o mais profundo desde seu desembarque há 12 anos, pelas mãos de Leonardo Senna.

Em setembro do ano passado, o último exemplar do A3, o modelo que se confunde com a marca no imaginário do consumidor local, saiu das linhas de montagem da fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná. As últimas unidades ainda podem ser encontradas nas concessionárias. Mas, assim que terminarem, a Audi muda sua cara no Brasil – de uma fabricante local passa a ser uma importadora de veículos. Se um A3 brasileiro podia ser arrematado por algo entre R$ 70 mil e R$ 80 mil, a versão importada não sai por menos de R$ 110 mil. Deges ainda possui outro desafio pela frente: a estagnação nas vendas dos chamados carros de luxo superior. Em 2006, a marca comercializou 804 unidades, atrás de suas duas principais concorrentes, a Mercedes-Benz, com 2.199, e a BMW, com 2.043. “Provavelmente não vamos aumentar o volume de vendas no Brasil em 2007”, diz Deges. “Mas certamente nossos clientes vão adquirir modelos com mais tecnologia e mais caros.”

Embora o antigo A3, mais barato, ainda esteja no mercado, o valor de vendas dobrou no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2006. Para seduzir o cliente mais endinheirado, Deges aposta na trilogia formada por produtos, marketing e serviços.

Nos últimos meses, a Audi passou a oferecer o utilitário Q7 e o A3 Sportback. Na próxima semana, lançará o novo TT, o compacto esportivo da marca que se tornou um sucesso na Europa. Até o final do ano, chegarão às concessionárias o Audi Roadster, o TT conversível, e o Supersport A8, versão esportiva da station wagon. A abordagem ao consumidor foi redesenhada. Agora, diz Deges, será a vez do que ele chama de “marketing de acupuntura”. “Nossas ações tocarão em um único ponto, mas todo o corpo sentirá”, diz ele. Em vez de campanhas de massa, a empresa privilegiará a participação em eventos como as reuniões do empresário João Dória Júnior e o Rio Boat Show. “Ali encontrarei meus clientes”, diz Deges. “Não vendemos produtos, e sim estilo de vida.”

O terceiro ponto da estratégia da Audi apóia-se na prestação de serviços. “O brasileiro gosta de personalizar seus veículos e vamos aproveitar esse anseio”, afirma Deges. Atualmente, 60% dos clientes da empresa colocam algum tipo de acessório nos carros, desembolsando entre R$ 10 mil e R$ 12 mil. O objetivo é aumentar esses índices. O espelho, nesse caso, é a China, segundo maior mercado da marca no mundo. Lá, a Audi mantém uma parceria com uma empresa independente para personalizar seus modelos. Os A6 produzidos em território chinês são 30 centímetros mais longos do que os similares alemães. Os bancos, mais altos e macios. E o aparelho de karaokê são itens quase obrigatórios. No Brasil, esse cenário começa a ser construído. A experiência de Deges ajudará. Ao longo de sua carreira, ele se tornou uma espécie de cidadão do mundo. Trabalhou em países como Cingapura, Hong Kong, Estados Unidos e China, onde morava quando foi convocado para assumir as operações no Brasil em novembro de 2006.

US$ 31 BILHÕES
é o faturamento mundial da Audi, que lançará o novo esportivo TT no Brasil no final deste mês