Logo depois de assumir a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no domingo (20), o banqueiro Ilan Goldfajn virou quase um popstar na internet. Um vídeo de um homem dançando na arquibancada do show de Janet Jackson, no Barclays Center, em Nova York, foi atribuído a Goldfajn. Parecia, mas não era. Tratava-se de John Lawless, um DJ de Long Island. A inusitada comparação logo foi esclarecida, mas rendeu ao economista brasileiro alguns momentos de descontração nas redes sociais. Sem perder o rebolado, o verdadeiro Goldfajn tuitou na manhã da quarta-feira (23) e agradeceu pelo “empréstimo” dos passos de Lawless. “É essa a futura agilidade de um BID reenergizado! Conectividade a toda América Latina e ao Caribe!”, escreveu.

No BID, Goldfajn é quem irá ditar o ritmo da música, tentando sincronizar os passos de governos economicamente muito desiguais. A instituição é formada por 48 nações. Entre os membros estão 26 países da América Latina, EUA e Canadá, 16 europeus, China, Coreia do Sul, Japão e Israel.

No ano passado, o BID concedeu US$ 23,4 bilhões em empréstimos. Pelo DNA do banco, recebem prioridade de financiamento projetos ligados à infraestrutura, inovação, inclusão social e desenvolvimento sustentável. Por ser brasileiro e conhecer em profundidade das especificidades do País, existe uma expectativa de que Goldfajn seja mais sensível com o Brasil do que seus antecessores. O maior e mais importante banco de fomento das Américas está, pela primeira vez desde sua fundação, em 1959, sob o comando de um brasileiro. No dia a dia, seu maior desafio será analisar e aprovar projetos de interesse público em uma região com as principais economias predominantemente comandadas por governos de esquerda, inclusive o Brasil.

BUSCA POR IGUALDADE A expectativa é que, no comando do banco, o brasileiro estimule a liberação de recursos para que as nações pobres se desenvolvam.

CURRÍCULO Além do Brasão da República brasileira no passaporte, Ilan Goldfajn tem um currículo robusto. Filho de brasileiros, nasceu em Israel, veio criança para o Brasil e também tem nacionalidade brasileira. Formou-se em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e fez mestrado na área pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Ainda jovem, concluiu doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Entre setembro de 2000 e julho de 2003, Goldfajn foi diretor de política econômica do Banco Central (BC). Em 2016, durante o governo de Michel Temer, assumiu a presidência do BC, antes de ser nomeado como diretor do departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI) e presidente do Conselho Consultivo do Credit Suisse Brasil.

Apesar do perfil discreto e de posições moderadas, a nomeação de Goldfajn esteve na mira do governo eleito. Em uma ofensiva atabalhoada, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega chegou a pedir o adiamento da eleição afirmando que o brasileiro Ilan Goldfajn foi indicado por Jair Bolsonaro (PL) e que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), gostaria de apresentar outro nome. O BID ignorou Mantega.

COMPATRIOTA A nomeação de Goldfajn coloca o Brasil em um inédito patamar de comando em bancos internacionais e chama a atenção por ocorrer em paralelo à gestão do também brasileiro Marcos Troyjo, no Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics. O diplomata assumiu em 2020, para um mandato de cinco anos, a instituição multilateral composta por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Antes, Troyjo atuou como secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia. A sede do banco fica em Xangai, na China. Juntos, os Brics representam cerca de 42% da população, 23% do produto interno bruto, 30% do território e 18% do comércio do mundo inteiro. Para a criação do banco, os países que compõem os Brics se comprometeram a integralizar, cada um, 20% de um capital de US$ 10 bilhões, entre 2016 e 2022.

A partir de agora, com Troyjo no Banco dos Brics e com Goldfajn no BID, o País assume protagonismo em dois dos mais importantes bancos de fomento do mundo. São capazes de, se não dançarem, ao menos reger o show para que outros entes possam desenvolver novas músicas.