25/11/2022 - 3:40
Logo depois de assumir a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no domingo (20), o banqueiro Ilan Goldfajn virou quase um popstar na internet. Um vídeo de um homem dançando na arquibancada do show de Janet Jackson, no Barclays Center, em Nova York, foi atribuído a Goldfajn. Parecia, mas não era. Tratava-se de John Lawless, um DJ de Long Island. A inusitada comparação logo foi esclarecida, mas rendeu ao economista brasileiro alguns momentos de descontração nas redes sociais. Sem perder o rebolado, o verdadeiro Goldfajn tuitou na manhã da quarta-feira (23) e agradeceu pelo “empréstimo” dos passos de Lawless. “É essa a futura agilidade de um BID reenergizado! Conectividade a toda América Latina e ao Caribe!”, escreveu.
No BID, Goldfajn é quem irá ditar o ritmo da música, tentando sincronizar os passos de governos economicamente muito desiguais. A instituição é formada por 48 nações. Entre os membros estão 26 países da América Latina, EUA e Canadá, 16 europeus, China, Coreia do Sul, Japão e Israel.
No ano passado, o BID concedeu US$ 23,4 bilhões em empréstimos. Pelo DNA do banco, recebem prioridade de financiamento projetos ligados à infraestrutura, inovação, inclusão social e desenvolvimento sustentável. Por ser brasileiro e conhecer em profundidade das especificidades do País, existe uma expectativa de que Goldfajn seja mais sensível com o Brasil do que seus antecessores. O maior e mais importante banco de fomento das Américas está, pela primeira vez desde sua fundação, em 1959, sob o comando de um brasileiro. No dia a dia, seu maior desafio será analisar e aprovar projetos de interesse público em uma região com as principais economias predominantemente comandadas por governos de esquerda, inclusive o Brasil.
CURRÍCULO Além do Brasão da República brasileira no passaporte, Ilan Goldfajn tem um currículo robusto. Filho de brasileiros, nasceu em Israel, veio criança para o Brasil e também tem nacionalidade brasileira. Formou-se em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e fez mestrado na área pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Ainda jovem, concluiu doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Entre setembro de 2000 e julho de 2003, Goldfajn foi diretor de política econômica do Banco Central (BC). Em 2016, durante o governo de Michel Temer, assumiu a presidência do BC, antes de ser nomeado como diretor do departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI) e presidente do Conselho Consultivo do Credit Suisse Brasil.
Apesar do perfil discreto e de posições moderadas, a nomeação de Goldfajn esteve na mira do governo eleito. Em uma ofensiva atabalhoada, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega chegou a pedir o adiamento da eleição afirmando que o brasileiro Ilan Goldfajn foi indicado por Jair Bolsonaro (PL) e que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), gostaria de apresentar outro nome. O BID ignorou Mantega.
COMPATRIOTA A nomeação de Goldfajn coloca o Brasil em um inédito patamar de comando em bancos internacionais e chama a atenção por ocorrer em paralelo à gestão do também brasileiro Marcos Troyjo, no Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics. O diplomata assumiu em 2020, para um mandato de cinco anos, a instituição multilateral composta por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Antes, Troyjo atuou como secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia. A sede do banco fica em Xangai, na China. Juntos, os Brics representam cerca de 42% da população, 23% do produto interno bruto, 30% do território e 18% do comércio do mundo inteiro. Para a criação do banco, os países que compõem os Brics se comprometeram a integralizar, cada um, 20% de um capital de US$ 10 bilhões, entre 2016 e 2022.
A partir de agora, com Troyjo no Banco dos Brics e com Goldfajn no BID, o País assume protagonismo em dois dos mais importantes bancos de fomento do mundo. São capazes de, se não dançarem, ao menos reger o show para que outros entes possam desenvolver novas músicas.