banqueiro Alfredo Setubal, sócio do Itaú, sempre sonhou em ser dono de uma butique. Não uma qualquer, dessas que vendem roupas e artigos finos, mas uma butique de investimentos. Nesse tipo de loja, as prateleiras são virtuais e os produtos, idem. Mas os clientes têm o mesmo perfil daqueles que procuram as melhores casas do ramo: querem atendimento personalizado e itens exclusivos, que não são encontrados nas grandes lojas de departamento. De olho nesse mercado, Setubal realizou seu sonho e criou uma nova empresa de gestão de investimentos alternativos. A Kinea nasce tendo o Itaú como sócio majoritário, mas será independente, com direito a escritório próprio e vitrine no Itaim Bibi, bairro chique bem distante da sede do grupo no Jabaquara, na zona sul de São Paulo.

Segundo maior gestor de fundos de investimentos do País, o Itaú terá 80% do capital da Kinea. Os outros 20% pertencerão aos sócios gestores, num modelo que envolve os profissionais até a medula e já é usado com sucesso no banco de investimentos Itaú BBA. A nova butique começa pequena, como convém, com capital de R$ 15 milhões e 16 funcionários. Será presidida por Márcio Verri, um executivo que foi incorporado ao Itaú na compra do BankBoston, em 2006, e que tinha ambições de abrir o próprio negócio. ?Unimos o útil ao agradável?, diz Setubal, vice-presidente do Itaú. Além de Verri, começam como sócios os gestores Aymar Almeida, Ricardo Alves, Carlos Martins e Sérgio Gabriele. Se eles trabalharem bem, em 2008 a Kinea atingirá o tamanho ideal, com ativos de R$ 2 bilhões a R$ 2,5 bilhões. Parece pouco para um gigante que faz a gestão de R$ 152 bilhões em fundos de investimento. E é. Mas aí é que está a graça do negócio. Para entendêlo, é preciso compreender o nome da própria empresa.

A marca Kinea foi inspirada na palavra grega kineticós. Trata-se da cinética, ramo da física que estuda os efeitos das forças sobre os movimentos do corpo. E o que isso tem a ver com a gestão de fundos em butiques de investimento? Tudo a ver, se os fundos em questão tiverem como ambição antecipar- se às forças econômicas que movem os mercados financeiros e afetam os ativos para cima ou para baixo ? como fazem os chamados hedge funds. Os fundos de hedge, ou multimercados, tentam aproveitar as oportunidades em torno dos mais variados ativos, de ações a títulos de renda fixa, de câmbio a commodities. Usam instrumentos financeiros sofisticados, como os contratos futuros e de opções, para alavancar resultados. São, por natureza, mais arriscados que os tradicionais fundos oferecidos por grandes bancos. A Kinea, portanto, será a porta de entrada do Itaú para os clientes que queiram correr mais riscos em busca de maiores retornos. ?Vamos oferecer hedge funds com mais volatilidade e mais alavancagem, o que complementa a nossa prateleira de fundos?, diz Setubal. ?Em média, a volatilidade dos fundos da Kinea será o dobro da dos fundos mais arriscados do Itaú?, estima Verri.

O alvo serão os clientes com mais de R$ 1 milhão para investir, não só do Itaú como também de outras instituições. Os concorrentes serão as butiques como a UBS Pactual WM, a Hedging Griffo, a Quest e a Mauá. A Kinea já está gerindo recursos de R$ 250 milhões para testar os modelos e estratégias. Em dois meses, deve abrir os dois primeiros fundos para captação junto ao Private Bank do Itaú. Em 2008, a empresa também atuará com fundos de incorporação imobiliária. Mais adiante, será a vez dos fundos de participações em empresas de capital fechado. Mas esta é outra história.