03/09/2003 - 7:00
Poucos lugares do mundo exercem tanto fascínio quanto Beverly Hills, a pequena cidade de 14 quilômetros quadrados e 34 mil habitantes ao lado de Los Angeles, na Califórnia. O lugar, cenário de palmeiras e lojas de luxo, tornou-se, desde o início do século, com o nascimento do cinema nos Estados Unidos, em lar dos atores e atrizes de Hollywood. Pense nos mais celebrados nomes e marcas do planeta. Todos têm ou tiveram alguma relação com Beverly Hills. Katharine Hepburn, Barbra Streisand, Raquel Welch, Steve Martin, Julia Roberts, a lista é imensa. Eles ostentaram em algum momento de suas vidas, na caixa postal, o CEP 90210 (título, no original, em inglês, do seriado Barrados no Baile). Na Rodeo Drive, a avenida do comércio refinado, grifes como Cartier, Chanel, Gucci, Armani e Tiffany?s reforçaram seus impérios. Tudo corria como num filme romântico, em que os protagonistas deveriam viver felizes para sempre, até que a recessão econômica dos anos 90 do século passado pôs a nocaute a cidade. Foram quase 15 anos de vitrines empobrecidas, hotéis vazios e decadência ? ainda assim elegante, é verdade. Entre os americanos dizia-se, de modo pejorativo, que Beverly Hills transformara-se em abrigo de idosos na aposentadoria.
Um mito do século XX perdia seu charme. Os poderosos locais decidiram, então, deflagrar uma campanha de revitalização. Deu certo. Mais de US$ 1 bilhão terão sido investidos em Beverly Hills até 2020. No mais recente censo americano, a cidade aparece com um recorde: foi a região com maior crescimento populacional entre os jovens com menos de 18 anos. ?Há dez anos, Beverly Hills não tinha crianças?, diz Pat Deutschman, um dos organizadores do censo. Há, hoje, 25% das residências com menores de 18 anos ? num crescimento de pelo menos 50% em relação à derradeira amostragem, em 1990. Os ares de juventude deflagraram uma mudança de comportamento e um novo tipo de consumo, saudável. Vê-se, hoje, vitrines com roupas para meninos e meninas, restaurantes modernos, arquitetos de olho no futuro e modismos que voltaram a brotar das ruas arborizadas e das vitrines. ?Há dois anos, parecíamos fadados a morrer, mas essa curva se inverteu?, diz Fred Hayman, um dos fundadores do sindicato de lojistas da Rodeo Drive. Armani, Prada e Chanel exibem coleções quase pueris e coloridas por trás dos vidros. Adeus à sisudez dos tempos difíceis.
Irving Berlin. A nova cara de Beverly Hills ajudou a impulsionar também o mercado imobiliário. As mansões que fizeram a fama de suas alamedas atravessavam um período complicado ? continuavam de pé, é evidente, mas estavam vazias, abandonadas por artistas que preferiam viver em outros lugares da Califórnia, como Malibu, ou na cosmpolita Nova York. Há, agora, um retorno com reflexo direto no preço de compra e dos aluguéis. Uma pesquisa divulgada na semana passada por um instituto de estudos dos aluguéis da Califórnia mostrou que, de um ano para cá, houve um crescimento de 19% nos valores pagos mensalmente. O preço médio de compra em Beverly Hills voltou a crescer ? está, hoje, na casa de US$ 1,1 milhão. Perde apenas para Malibu (US$ 1,2 milhão). O chão por onde circulava Julia Roberts em Uma Linda Mulher voltou a valer ouro. É um ambiente que permite aos americanos repetir, na ponta da língua, um dos clássicos de Irving Berlin, White Christmas, em que ele dizia: ?O sol brilha/A grama está verde/ As palmeiras e laranjeiras balançam ao vento/ Nunca houve um dia como este em Beverly Hills?.