No começo do ano, Sérgio Chaia, presidente da empresa de telefonia Nextel, estabeleceu cinco metas pessoais. Uma delas é a de que ele não pode ficar mais de 10% dos dias de 2010 de mau humor, o que significam 36 dias. Até o final de agosto, caminhava para cumprir o seu objetivo. Afinal, havia alterado seu estado de espírito em menos de uma semana. Mas isso pode mudar rapidamente, caso a empresa que dirige há mais de três anos não ganhe o leilão das faixas de frequência da banda H, a última chance para obter licença para operar a tecnologia móvel 3G no Brasil, prevista para acontecer até o final de 2010. Para a Nextel, vencer essa batalha é fundamental para o seu futuro no País. “É claro que temos um plano B, mas é importante vencer”, afirmou Chaia à DINHEIRO.

 

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“É claro que temos um plano B, mas é importante vencer o leilão da tecnologia 3G”

Sérgio Chaia, Presidente da Nextel do Brasil 

 

Com mais de três milhões de clientes, crescimento de 40% nos últimos quatro anos e a maior receita média por usuários do setor de telefonia brasileiro (US$ 60), os números da Nextel mostram uma empresa saudável e em crescimento acelerado. 

 

Seus clientes são considerados o filé mignon do segmento de telecomunicações – empresas e consumidores com alto poder aquisitivo. Na sua base, não existe celular pré-pago, como na dos rivais, responsável por baixa rentabilidade. Mas a companhia está amarrada a uma tecnologia caracterizada pelo barulhinho do rádio que, embora seja eficiente para a comunicação de voz, tem velocidades baixas para acesso a internet pelo celular.

 

Daí a necessidade de construir uma rede com tecnologia 3G, a exemplo do que já fez no Peru e Chile. No México, ela acaba de ganhar a licença. Na Argentina, a companhia também tem planos de operar uma rede de alta velocidade. “O nicho da Nextel é o de voz”, diz Bruno Baptistão Neto, analista da consultoria Frost & Sullivan. “Se ela quer se expandir, precisa entrar no mercado de dados e 3G. É uma questão de sobrevivência.”

 

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Esse é um mercado que tem crescido exponencialmente no Brasil nos últimos tempos. Em dezembro de 2009, havia 6,9 celulares e modems com tecnologia 3G em operação no País. Em apenas sete meses, esse número dobrou, chegando a 14,6 milhões em julho deste ano. Mesmo assim, isso representa apenas 7,5% do total de aparelhos móveis em uso no Brasil. 

 

Esse é um indicativo de que, mesmo chegando atrasada, a Nextel – ou quem vencer o leilão das frequências da banda H – vai encontrar um mercado longe da saturação e crescendo a taxas aceleradas. “A Nextel deve buscar uma estratégia diferenciada em 3G”, afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. “Ela não deve competir diretamente com as atuais empresas de telefonia.”

 

O mercado estima que o leilão da banda H deve contar com no mínimo dois e no máximo quatro participantes. Os principais rivais da Nextel devem ser a unidade portuguesa da Vodafone, a japonesa NTT DoCoMo e a GVT, que é controlada pela francesa Vivendi. Em nota enviada à DINHEIRO, a GVT negou que vai participar do leilão promovido pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

 

“O foco da empresa é na banda larga de ultravelocidades, oferta de conteúdos sobre a internet, preparação para entrar no mercado de tevê paga e na expansão territorial”, diz a nota. O mercado avalia que pode ser um blefe, uma estratégia para surpreender as outras empresas. 

 

Em 2007, quando foram vendidas as primeiras licenças de 3G, a Anatel arrecadou R$ 5,34 bilhões, um ágio de 86,67%. Neste novo leilão, a estimativa é de que o vencedor tenha de gastar bilhões de reais. A Nextel diz que nunca esteve tão preparada para vencer. Do contrário, o budista Sérgio Chaia pode ter de repensar suas metas pessoais.