A petroleira OGX, do empresário Eike Batista, entrou com pedido de recuperação judicial. A solicitação foi feita na quarta-feira 30, na Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, em medida de urgência. Caso seja aceito, o recurso protegerá a companhia, cujas dívidas chegam a R$ 11,2 bilhões, da cobrança de credores. Por 180 dias, as ações e execuções contra a petroleira serão suspensas. Com isso, Batista ganha tempo para elaborar um novo plano de ação para tentar colocar a OGX de volta nos trilhos. Essa estratégia terá de ser apresentada aos credores em até 60 dias. Para dar certo, terá de haver um acordo entre quem deve e quem cobra. 

 

126.jpg

Após a queda: Eike Batista terá 60 dias para apresentar

um plano de recuperação aos credores

 

Antes da decisão, a incerteza sobre o futuro da OGX era mais aguda. Pior seria um pedido de falência. “A recuperação judicial é uma ferramenta para evitar um mal pior”, afirma o advogado Artur Lopes, de São Paulo, especializado nesse tipo de recurso. “A falência seria um processo muito mais longo.” Com a recuperação judicial, Batista ganha uma nova chance para transformar a OGX, que sempre foi sua menina dos olhos – e ponto central da estratégia traçada para o grupo EBX –, em uma empresa menor, mas viável. Sua esperança está depositada nas operações da petroleira no campo de Tubarão Martelo, cuja produção deve ser iniciada neste mês. 

 

Tubarão Martelo possui reservas estimadas em 88 milhões de barris de petróleo e seria capaz de gerar receitas de US$ 11 bilhões, de acordo com a petição protocolada na Comissão de Valores Mobiliários pelo advogado da OGX, Sérgio Bermudes. “Se conseguirem entregar 30 mil barris por dia, existe alguma forma de a OGX se tornar viável financeiramente”, afirma Adriano Moreno, analista da corretora Futura Investimento. “Agora, começa uma nova história.” Para dar início à extração, no entanto, é fundamental que a companhia reorganize seu passivo. Sem a recuperação judicial, isso seria impossível, e todos os envolvidos no negócio perderiam muito mais dinheiro. 

 

127.jpg

Ex-Mr. Oil: homem de confiança de Batista, Paulo Mendonça

foi o responsável pela escolha dos blocos da OGX

 

Com esse moderno instrumento legal – é a versão brasileira do Chapter 11, dos EUA –, as empresas com problemas de caixa conseguem manter os ativos essenciais para sua operação, mantêm o pagamento de impostos, os empregos diretos e indiretos e o fluxo de pagamentos aos fornecedores. Se for bem-sucedida, a estratégia beneficia os credores, que recebem de volta os empréstimos concedidos, num prazo mais longo e mais seguro. Nos últimos meses, Batista tentou negociar com credores. O processo foi confuso, com várias trocas de interlocutores. Desde meados de outubro, a Angra Partners, comandada por Ricardo Knoepfelmacher, coordenava as discussões pelo lado da OGX. 

 

Na terça-feira 29, a empresa anunciou que não conseguiu chegar a um acordo com credores externos, detentores de bônus que somavam US$ 3,6 bilhões e tinham vencimento em 2018 e 2022. Entre eles estavam os fundos Pacific Investment Management Co (Pimco) e a BlackRock. Foi sua última cartada na mesa de negociações, antes de decidir-se pelo pedido de recuperação judicial. Em setembro, a petroleira tinha em caixa US$ 82 milhões. Mas precisava honrar US$ 89 milhões com fornecedores. Na prática, só há dinheiro para sobreviver até dezembro. As ações da OGX despediram-se do Ibovespa, principal índice da bolsa paulista, na quinta-feira 31, cotadas a R$ 0,13. 

 

128.jpg

Negociador: Ricardo K, da Angra Partners, comandava

as negociações com os credores  

 

Elas continuarão sendo negociadas, mas com a observação “em situação especial”. O valor de mercado da companhia hoje está na casa dos R$ 500 milhões. No seu auge, em 2010, ela chegou a valer R$ 75 bilhões. Não há como negar que Eike Batista, que já foi considerado o homem mais rico do Brasil, cometeu uma série de erros. Sua trajetória ficou marcada pelo excesso de otimismo (veja quadro ao final da reportagem). Criada em 2007, a petroleira iniciou uma intensa campanha de captação de recursos, atraindo milhares de investidores, no País e no Exterior. 

 

Ela investiu US$ 10 bilhões em uma ousada estratégia de exploração, que chegou a perfurar 120 poços. Batista confiava plenamente no sucesso da estratégia. Ele costumava dizer que tinha reunido um “time dos sonhos” do setor petroleiro, por isso nada podia sair errado. O principal nome dessa equipe era o de Paulo Mendonça, apelidado de “Mr. Oil”, que foi responsável pela escolha dos blocos comprados pela OGX. “Batista veio com discursos empolgantes e bons projetos, mas que não foram executados como se deveria”, afirma Pedro Galdi, analista da corretora SLW. “A empresa foi se endividando, consumindo caixa e sem gerar receita.” 

 

Graças à recuperação judicial, o empresário terá uma nova chance para reinventar seus negócios. Não será o primeiro. Numa situação semelhante à da OGX, a Delta Airlines, vergada por uma dívida de US$ 6,5 bilhões, apelou em 2005 para o Chapter 11, ganhando um tempo e condições favoráveis para se recuperar. Dois anos depois, voava em céu de brigadeiro. Mais recentemente, em 2009, no auge da crise financeira mundial, foi a vez de a GM, a segunda maior montadora do mundo, apelar para o mesmo expediente, pressionada por um mega endividamento de US$ 127 bilhões. Com apoio do governo, a companhia voltou à normalidade em 2011. 

 

129.jpg

 

 

 

“Meia Bolívia” de gás

 

A compra da OGX Maranhão pelo banqueiro Pedro Moreira Salles injeta R$ 344 milhões na OGX

 

A entrada do fundo Cambuhy, do banqueiro Pedro Moreira Salles, na OGX Maranhão, braço nordestino da petroleira de Eike Batista, dará um fôlego providencial à OGX. Moreira Salles, um dos principais acionistas e presidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco, pagou R$ 344 milhões por uma fatia majoritária de 73% do capital da OGX Maranhão, que Batista chegou a afirmar ter “meia Bolívia” em volume de reservas de gás natural. 

 

130.jpg

 

Ele está associado na empreitada ao grupo alemão E.On, que assumiu em março passado o controle da MPX, empresa de energia do grupo de Batista, rebatizada com o nome de Eneva. Uma de suas primeiras providências para dinamizar a OGX Maranhão será promover um aumento de capital de R$ 250 milhões. Criado em 2011, com um capital inicial de US$ 1 bilhão, tem entre seus sócios, além de Moreira Salles, Pedro Bodin, do grupo Icatu, e os executivos Marcelo Barbará e Marcelo Medeiros, que trabalharam no Banco Garantia, de Jorge Paulo Lemann.