06/06/2007 - 7:00
QUEIROZ, O “JÚNIOR DA ARISCO”: com a DM, ele passa a ser o Júnior do Melhoral,da Monange, do Biotônico Fontoura, do Gelol, daVitasay ..
Morizono: de balconista a milionário
O “Júnior da Arisco” não é Júnior nem é “da Arisco”. Ele é João Alves Queiroz Filho, o empresário que assumiu o papel de lenda viva, seja pela aversão à exposição pública, seja pela capacidade de erguer colossos corporativos a partir do zero. O mito começou a ser construído com a criação da Arisco e ganhou força com a venda da empresa para a Unilever por US$ 500 milhões. Foi retomado com a construção da Assolan e reforçado com a aquisição da Etti por R$ 90 milhões. Na semana passada, o Júnior da Arisco consolidou de vez sua imagem de negociante de grandes e inesperadas tacadas.
Por US$ 750 milhões, o grupo Hypermarcas, comandado por ele, arrematou a DM Farmacêutica, fabricante de medicamentos com forte apelo popular, como Melhoral, Vitasay, Biotônico Fontoura e outros tantos. Com isso, tornou-se o controlador da maior empresa brasileira de bens de consumo, com cerca de 30 marcas, cinco fábricas e receita bruta anual em R$ 1,6 bilhão. À frente dela, apenas as gigantes multinacionais Unilever e Procter&Gamble. Júnior também se caracterizou por dar um passo de olho no seguinte. Não será diferente desta vez. Seu próximo movimento será a abertura de capital da empresa. No dia 2 de abril, a fabricante encaminhou um pedido de registro de companhia aberta à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). O dinheiro arrecadado nessa operação poderá ter dois destinos. Um deles é bancar novas investidas no mercado de bens de consumo. A outra é amortizar as parcelas anuais que serão pagas ao empresário Nelson Morizono, até agora dono da DM.
A ida ao mercado de capitais, porém, não é mandatória. Isso porque Júnior já garantiu boa parte dos recursos necessários para a aquisição se associar com Mouren, fundo de investimentos controlado por três ex-banqueiros mexicanos, Esteban Malpica, Alfredo Harp Helu e Roberto Ramirez. O trio esteve no comando do Banco Nacional do México, o Banamex, até 2001, quando a instituição foi vendida para o Citigroup por US$ 12,5 bilhões.
US$ 750 milhões foi o valor gasto pela Hypermarcas para comprar a DM
Para adquirir a DM, eles desenharam, com auxílio do Citibank e Merrill Lynch, uma complexa engenharia financeira. Os mexicanos adquiriram 25% da Hypermarcas por US$ 250 mihões. Com esse capital e mais US$ 500 milhões do próprio bolso, Júnior arrematou 100% da DM. Malpica, Helu e Ramirez são “colegas de trabalho” de Queiroz Filho há pouco tempo.
Seu fundo de investimentos tem uma parceria com o empresário brasileiro na área imobiliária desde abril, com a criação da incorporadora de imóveis Bramex. Para fechar a operação nesta semana, em São Paulo, um representante dos banqueiros esteve reunido com os advogados de Júnior para detalhar pontos da carta de fiança a ser assinada pelo empresário brasileiro.
ALFREDO HELU: ex-banqueiro mexicano fecha seu segundo negócio com Júmior
NELSON MELLO: braço direito de Queiroz, o executivo continua no comando da operação
Mesmo com a compra da DM, o apetite da Hypermarcas parece não ter acabado: há rumores de que a Niasi, fabricante de cosméticos com as marcas Risqué e Biocolor, já teria sido sondada pelo empresário. A companhia adquiriu 15 empresas em seis anos em estratégias milimetricamente desenhadas. O fundo dos mexicanos não irá interferir no dia-a-dia da companhia. Os negócios continuarão sendo pilotados por Nelson Mello, o presidente da Hypermarcas e homem de confiança de Júnior desde os tempos da Arisco. Seu desafio será manter um ritmo de crescimento acelerado Antes da compra da DM, as metas para a Hypermarcas já eram ambiciosas. Neste ano, seu faturamento deveria bater em R$ 750 milhões (foram R$ 502 milhões de 2006). Até 2010, chegaria a R$ 2 bilhões. Cinco anos atrás, quando a Monte Cristalina comprou a Assolan, a marca faturava menos de R$ 30 milhões. No primeiro bimestre do ano, ela foi responsável por 43% das vendas da empresa, ou R$ 215 milhões. Júnior levará para a DM a fórmula que garantiu o sucesso da Hypermarcas, baseado em um eficiente sistema de distribuição. A empresa atende três mil pontos-de-venda diretamente e outras 275 mil lojas por meio de distribuidores e atacadistas.
Além da Assolan e Etti, a empresa é dona dos adoçantes Finn, dos sabões Assim, do detergente Sim e da linha para cabelos Éh!. “Eles são ágeis, agressivos e têm boa relação com o varejo”, diz Alberto Serrentino, sócio da Gouvêa de Souza & MD.
Para Eugenio Foganholo, da Mixxer Consultoria, ainda há outro fator relevante nesse negócio: a boa vontade do comércio varejista com essa aquisição. “Cria-se um jogador de peso num mercado concentrado”, diz ele. Por isso, a Hypermarcas pode incomodar os grandes grupos internacionais que mandam no mercado de bens de consumo no País. Mas ainda é uma briga de desequilíbrios evidentes. A Unilever tem 12 fábricas no Brasil e 50 marcas.
Fatura R$ 9,5 bilhões ao ano. A Procter & Gamble opera com mais de 50 marcas. “Nós devemos ‘bater’ um no outro por conta da linha de medicamentos para resfriado, por exemplo. Mas acho que o foco deles não passa pela área farmacêutica, especificamente.
Eles querem ter atuação ampla e há espaço para isso no mercado”, diz Pedro Silva, diretor de relações exteriores da Procter. A criação de um grande grupo em bens de consumo a partir de aquisições já fazia parte dos planos de Júnior nos últimos anos, conforme antecipou DINHEIRO, ao apresentar a Hypermarcas ao mercado em fevereiro deste ano.
Depois que se desfez da Arisco, em 2000, o empresário obedeceu a uma quarentena, formalizada em um contrato chamado de No Compete. Logo que o prazo expirou, comprou a Etti em 2005, que se juntou a um portfólio de produtos que já incluía a Assolan, desde 2002. Nunca parou de farejar novos negócios. Sua mais recente presa, a DM Farmacêutica, chamou a atenção por ser um fenômeno de mídia – são R$ 217 milhões em ações de marketing em 2006, segundo o Ibope Monitor, ou quase a metade do que a AmBev gasta em publicidade. Fundada na década de 70 por Nelson Morizono, um ex-balconista de farmácia e jogador de golfe, a DM tem em sua linha de produtos de forte apelo popular: Avanço, Benegrip, Biotônico Fontoura, Doril, Melhoral e Monange. Por conta desse perfil, caiu como uma luva nos planos de Júnior, um colecionador de marcas “adormecidas”, que, em suas mãos, acordam para não mais hibernar.