A canadense Alcan, uma das maiores produtoras de alumínio e embalagens do mundo, tinha, em maio de 2004, um problemão e apenas 180 dias para resolvê-lo. Deveria se desfazer de duas de suas operações de laminados. Só para se ter idéia do tamanho do abacaxi, essa área de negócios respondia, sozinha, por nada menos que 25% do faturamento da companhia, que foi de US$ 24,9 bilhões no ano passado. A pendenga surgiu depois que a Alcan comprou duas concorrentes ? a suíça Algroup e a francesa Pechiney ? e os órgãos antitruste determinaram que uma de suas operações de laminados dos Estados Unidos e outra da Europa deveriam ser vendidas. Os executivos da Alcan não precisaram pensar muito para concluir que isso seria uma grande perda para os acionistas. Então encontraram a seguinte solução: em vez de simplesmente se desfazer dos negócios, deram vida a uma nova companhia, batizada de Novelis, que ficou responsável por toda a divisão de laminados da Alcan no mundo. E, para deixar os acionistas satisfeitos, deu as ações da nova empresa para eles. A Novelis Inc. iniciou suas atividades globalmente em janeiro deste ano. Nasceu líder mundial em laminados e já anuncia a injeção de US$ 26 milhões no Brasil.

?Nascemos e temos o DNA da Alcan, mas somos independentes?, explica Tadeu Nardocci, presidente da Novelis do Brasil. Apesar de terem os mesmos acionistas, a ?empresa-mãe? Alcan e a Novelis têm conselho administrativo e gestão diferentes. ?As empresas atuam em mercados distintos. A Alcan lida com commodity, que é o alumínio. A Novelis é de transformação?, acrescenta o executivo, que trabalhou na Alcan por 25 anos antes de assumir a presidência da Novelis do Brasil. ?A mudança, na prática, significa mais foco no negócio de laminados e no desenvolvimento desse mercado. Esperamos ampliar o ritmo de crescimento em 5% ao ano?, diz Nardocci. No Brasil, a lista de clientes herdada da Alcan é vasta. São mais de 100 compradores diretos, em sua maioria fabricantes de latas de alumínio para bebidas e montadoras, e outros 12 mil clientes. Com isso, a empresa recém-nascida lidera o mercado, com participação de 50% no Brasil e 18% no resto do mundo (nos EUA, ela ainda perde para a americana Alcoa).

A larga vantagem pode ser explicada por uma característica que diferencia a unidade brasileira das demais: a Novelis do Brasil manteve uma linha completa de produção, da bauxita ao laminado. Antes da separação, a área de laminados respondia por 90% do faturamento da Alcan no País. Por isso, a herança que a nave-mãe deixa para a Novelis foi generosa. Ela inclui, além do faturamento de US$ 620 milhões em 2004, duas refinarias de transformação da bauxita em alumina e alumínio e duas fábricas de laminação. Para garantir que a eficiência dos negócios por aqui se mantenha, a Novelis destinou, para 2005, os US$ 26 milhões. Vai aumentar a capacidade das fábricas. E espera deixar a mãe orgulhosa, como uma boa filha prodígio.