O semblante triste do vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, durante um anúncio no Palácio de Miraflores, em Caracas, na quarta-feira 12, refletia o tom das palavras que viriam a seguir: “O país deve se preparar para uma recuperação complexa e dura do presidente Hugo Chávez”, disse Maduro, visivelmente emocionado. Chávez foi operado na terça-11, em Cuba, numa tentativa de debelar um câncer no abdômen. Foi uma mudança significativa em relação ao dia anterior, quando o vice apareceu sorridente, em cadeia nacional de rádio e televisão, para comemorar o sucesso da cirurgia. 

 

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Dupla afinada: antes de se internar, Chávez recomendou aos venezuelanos que votem em Maduro

nas eleições que serão marcadas para o próximo mês

 

A mensagem foi recebida como um sinal de que o presidente reeleito pode não assumir o novo mandato, no dia 10 de janeiro. Se isso acontecer, uma nova eleição será convocada em 30 dias, e Maduro pode concorrer como candidato. O encaminhamento da sucessão foi decidido pelo próprio Chávez. “Num cenário que obrigaria a convocar eleições presidenciais, elejam Maduro como presidente”, apelou o presidente no domingo 9, ao anunciar sua quarta cirurgia, desde que começou a tratar o câncer, em junho do ano passado. Filho de um líder sindical, Nicolás Maduro, de 50 anos, começou sua vida política como líder estudantil. 

 

Na década de 1980, foi motorista de ônibus da concessionária de metrô de Caracas, e fundou uma associação informal de funcionários, numa época em que a empresa proibia a organização sindical. Na época, aderiu ao Movimento Bolivariano Revolucionário, fundado por Chávez. Anos depois, tornou-se um dos mais ativos membros do Movimento Quinta República, partido que elegeu Chávez, em 1998. Desde 2006, é o ministro das Relações Exteriores, e responde pela política externa de confronto com os Estados Unidos, e de maior aproximação de países menos alinhados com os americanos, como o Irã. Maduro é definido como mais moderado do que Chávez. 

 

A imagem deve-se mais a seu estilo pessoal, do que a suas convicções, acredita o analista político venezuelano Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela, de Caracas.“Ele é ponderado no modo de falar, mas sempre insiste que é um revolucionário”, diz Romero. Junto ao Brasil e aos demais parceiros no Mercosul, à exceção do Paraguai, sua avaliação é positiva. Como Chávez, Maduro defende a integração regional e foi muito elogiado pela forma como trabalhou a entrada da Venezuela no Bloco. No entanto, a despeito desses atributos, ainda é uma incógnita se o vice será capaz de mobilizar o chavismo, conquistar o eleitorado e vencer a eleição presidencial.

 

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