Localizada no norte da Espanha, em pleno País Basco, a cidade portuária de Barakalda tem sua história marcada por disputas com os vizinhos. Desde o século XI, o município não poupa esforços para garantir receitas com o uso de seus portos, numa competição ferrenha para exportar a produção agrícola e das usinas siderúrgicas da região. Se o local de nascimento molda a personalidade de um indivíduo, o banco Santander Brasil escolheu a pessoa certa para sua presidência. Formalmente empossado em junho, o engenheiro industrial Jesús Zabalza nasceu em Barakalda há 55 anos. Depois de concluída a integração das operações locais do Santander com as do ABN Amro, no fim de 2012, cabe agora ao banco brigar com a concorrência por uma fatia mais generosa do disputado mercado brasileiro. 

 

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Jesús Zabalza, novo presidente do banco Santanter Brasil: “Enfrentamos um mercado

mais competitivo e com clientes mais exigentes”

 

E Zabalza parece ser o homem talhado para essa difícil missão. ?Nossa nova diretriz, agora, é crescer constantemente e com sustentabilidade?, diz ele. Executivo de carreira no Santander, onde está desde 2002, ele marcou sua trajetória por uma forte expansão comercial dos bancos em que atuou. Seu primeiro emprego foi no Banco de Vizcaya, onde começou a trabalhar em 1982. Dez anos mais tarde passou para o Banco Central Hispano, que se fundiria com o Santander no ano 2000. No Central Hispano, ele conheceria duas pessoas essenciais para sua indicação ao cargo. Uma delas foi o hoje aposentado Francisco Luzón, seu patrono na organização. 

 

A outra foi Marcial Portela, seu antecessor no Santander Brasil, outro dos homens de confiança de Luzón e do controlador, o banqueiro Emilio Botín. Portela, que permanece no conselho do banco por aqui, foi um dos principais responsáveis pela indicação de Zabalza. Uma análise no perfil dos dois executivos mostra que a mudança no Santander não será apenas facial. Nascido em 1945, o sociólogo Portela dedicou boa parte de sua carreira a atividades internas, como sistemas e recursos humanos, uma experiência valiosa na hora de finalizar a integração de dois bancos com culturas tão díspares como o espanhol Santander e o holandês ABN Amro. Jesús Zabalza sempre foi o homem da multiplicação das vendas. 

 

Antes de ligar-se ao Central Hispano, ele foi o responsável pelo varejo do banco La Caja em Madri, onde comandou um forte crescimento das receitas e dos lucros. Poucos anos depois, assumiu o comando das operações do Santander na América Latina, com exceção do Brasil. Sua passagem foi marcada por crescimento acelerado, pesado corte de custos e aumento das receitas. Zabalza comandou a abertura de capital da subsidiária mexicana do Santander. Em 2012, a rentabilidade patrimonial dessa unidade foi de 18%, superior aos 11,4% do Santander Brasil no primeiro semestre. Ao assumir a filial brasileira, Zabalza herda a principal fonte individual de receitas do banco. 

 

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No primeiro semestre, o resultado do Santander Brasil respondeu por 25% do total no mundo, ante 26% dos demais países da América Latina ? hoje mais importante do que Europa e Estados Unidos nas contas da instituição. O executivo também enfrentará uma concorrência muito mais acirrada do que está acostumado. ?Enfrentamos um mercado cada vez mais competitivo, com margens mais apertadas e clientes mais exigentes?, diz Zabalza, em seu português correto e ainda carregado de sotaque. ?Buscaremos aumentar nossa importância para os nossos 28 milhões de clientes. Queremos ser o primeiro banco de cada um deles, não importando sua faixa de renda.? 

 

O Santander tem diversas vantagens competitivas em relação a seus dois principais concorrentes privados. A principal é a de ser um banco mais barato. Com uma rede de 2.393 agências (comparadas a 4.600 no Bradesco e 3.800, no Itaú), o Santander tem custos bem inferiores aos similares nacionais. Outro ponto positivo é o acesso a tecnologias já testadas em mercados menores na América Latina ? México e Chile, por exemplo, têm uma tradição em pagamentos móveis e em cartões pré-pagos, duas das frentes mais promissoras para os bancos por aqui. 

 

O desafio é melhorar sua base tecnológica, investindo em ferramentas e sistemas que permitam a venda cruzada dos produtos atualmente mais rentáveis no varejo bancário ? seguros massificados, planos de previdência e de capitalização. Nesse campo, seus concorrentes diretos são muito fortes. Ao divulgar o lucro de R$ 2,92 bilhões do primeiro semestre na terça-feira 30, Zabalza fez sua primeira aparição pública no cargo e demonstrou confiança nos números e perspectivas. Comemorou o retrocesso na inadimplência, que vem atormentando os banqueiros desde 2011. O total de créditos problemáticos recuou de 6% para 5,2% da carteira total de empréstimos. O crescimento do crédito foi mais significativo no segmento de grandes empresas. 

 

Nesse caso, o avanço de 10% em relação a junho de 2012 foi provocado pela apreciação do dólar e representa uma pressão adicional sobre as margens de lucro, pois é no crédito para as grandes corporações que os bancos ganham menos. Sob o comando de Zabalza, os pilares da estratégia de crescimento serão dois. Um deles são as pequenas e médias empresas, repetindo a experiência do executivo no México. O outro é a empresa de captura de transações de cartão de crédito GetNet, cuja aquisição foi anunciada em meados de junho. ?Atualmente, a GetNet captura 5% das transações com cartão do mercado, e nossa meta é chegar a 7% até dezembro e a 20% em três anos?, diz Zabalza. ?Essa é nossa principal aposta no crescimento a curto prazo.?

 

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