Quem circula pelos 600 mil m² do terreno da Refinaria de Petróleos Manguinhos, no bairro de mesmo nome, na zona norte do Rio de Janeiro, se depara com um cenário cheio de contrastes. De um lado, equipamentos da década de 1950, época em que a indústria de petróleo dava seus primeiros passos no Brasil. Boa parte deles está inoperante e coberta de poeira. A poucos metros dali, tanques de armazenagem de combustível e uma série de equipamentos de refino, adquiridos há 20 anos, são alvo da atenção constante das equipes de manutenção. Essa dualidade ilustra a trajetória recente da companhia fundada pelo clã carioca Peixoto de Castro, cujos integrantes já figuraram entre os barões do petróleo da América Latina. 

A Manguinhos viveu dias de glória até a década de 1990. A partir de então, entrou em decadência, até fechar as portas no final de 2008, quando foi arrematada, na bacia das almas, pelo advogado e empresário paulista Ricardo Andrade Magro por apenas  R$ 7 milhões em dinheiro e a conta de um passivo de R$ 72,8 milhões. Passados três anos, a situação de insolvência está se revertendo. Em julho, a dívida foi renegociada com deságio de 38%. Os R$ 45,2 milhões remanescentes serão quitados em cinco anos. “Quando assumimos o negócio, a empresa estava desacreditada”, diz Paulo Henrique Menezes, vice-presidente comercial da Manguinhos. “E, apesar de faltar muita coisa para ser feita, avançamos bastante.” 

 

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Menezes integra o time de executivos incumbidos de recolocar a companhia nos eixos, pelo grupo Andrade Magro, que fatura R$ 2 bilhões e atua nas áreas de logística e de derivados de petróleo. A lista de empresas da Andrade Magro, inclui a AM Gestão, a Fera Energia e a Tiger Oil. Desde que assumiu a gestão, as receitas de Manguinhos cresceram duas vezes e meia, fechando em R$ 854 milhões. Isso se refletiu no valor de mercado da empresa na Bolsa de Valores de São Paulo, que saltou de R$ 25 milhões, em 2008, para os atuais R$ 900 milhões. A volta ao lucro, no entanto, deve ocorrer somente no último trimestre de 2012. “É o tempo de maturação de nossa estratégia”, diz Carlos Henrique Lopes, vice-presidente financeiro de Manguinhos. Em 2010, a companhia perdeu R$ 159 milhões. 

 

A dificuldade em sair do vermelho está na baixa margem de lucro. Para reverter essa situação, estão sendo adotadas inúmeras mudanças estratégicas. A principal delas é a diversificação. Atualmente, 90% da receita da Manguinhos é obtida com os derivados de petróleo, como a produção de gasolina e o tratamento do óleo cru.  Os 10% restantes são compostos da venda de gases, como o GLP, e produtos químicos. A meta é dobrar, para 20%, até 2012, a participação de outros insumos com maior valor agregado na receita global. Um deles é o propeleno, um gás usado nos sprays aerossóis, que hoje é importado da Argentina pelo setor. Outro alvo da companhia é a área de combustíveis renováveis, que será operada pela recém-constituída Bio-Manguinhos. 

 

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Em reformas: o vice-presidente Paulo Henrique Menezes

é um dos artífices da reformulação da refinaria,que exige R$ 140 milhões de investimentos 

 

Seu portfólio incluirá biodiesel, glicerina, metanol e o greenjet, querosene de aviação feito a partir de fontes renováveis, como a cana-de-açúcar. Isto está sendo possível graças ao investimento de R$ 140 milhões nas suas instalações no período 2009-2011.

Trata-se de um cenário bem diferente do que vigorou na fase anterior à mudança do controle, em  2008, quando Manguinhos  se dedicava exclusivamente ao refino de petróleo, ficando nas mãos da  Petrobras, ao mesmo tempo fornecedora do óleo e concorrente na produção de derivados. “Não dá para viver exclusivamente como refinador no Brasil”, diz Oswaldo Telles, analista-chefe do banco Banif.  

 

Segundo Telles, enquanto vende o petróleo a preço de mercado, a estatal comercializa seus derivados por um valor que leva em conta os interesses do governo. “A Petrobras pode fazer isso porque compensa eventuais prejuízos com as suas refinarias com os ganhos na área de extração”, diz ele. Para outros analistas, Manguinhos possui vantagens competitivas interessantes. A refinaria está em local privilegiado. Fica às margens da avenida Brasil, principal ligação entre a zona norte e o centro do Rio de Janeiro, e a três quilômetros do porto. Sua infraestrutura despertou a atenção da holandesa Astra Oil Trading, que negocia a compra de participação na divisão de armazenamento líquido. “Só falta definir o preço”, diz Menezes.

 

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