07/12/2005 - 8:00
Há uma nova Xerox no Brasil e não se trata de uma mera cópia da original. Nos últimos cinco anos, forçada por uma gigantesca perda de mercado, a multinacional americana reviu sua estratégia e reinventou para si mesma uma nova imagem. E deu certo. “Esse é o ano da virada”, afirma Olivier Ferraton, presidente da Xerox do Brasil há 10 meses. Com três áreas de atuação ? escritórios, gráficas e serviços ?, a companhia viu nas multifuncionais coloridas uma das oportunidades de recuperar o abalado prestígio. Em 2005, a venda de equipamentos rendeu aumento de 22% na receita da empresa. A estratégia da Xerox foi levar ao varejo impressoras de maior valor agregado, como as versões a laser e coloridas, até então consideradas inacessíveis para o consumidor comum. A intenção é aumentar ainda mais a participação nesse mercado, do qual a Xerox tem 54%. É no setor de serviços, porém, que a companhia realmente encontrou sua tábua de salvação. Segundo a consultoria IDC, a Xerox do Brasil, assumiu a liderança no chamado outsourcing (terceirização) de impressão. Apesar de não divulgar números locais, a Xerox afirma que a operação brasileira está fechando 2005 com algum lucro, depois de ter ficado no zero no ano passado. A expectativa é que os valores cresçam 15% até 2007.
?Na França costumamos chamar oportunidades de ?casinhas de cachorro??, afirma o francês Ferraton. ?No Brasil não temos casinhas, mas sim mansões.? A estratégia parece fazer sentido para os analistas. ?Os brasileiros são muito focados em preço e como os serviços de terceirização tendem a reduzir custo, esse mercado tem crescido bastante nos últimos anos?, diz Reinaldo Sakis, analista da IDC Brasil. ?A Xerox está conseguindo manter a liderança no setor, mesmo com a chegada de novos concorrentes e de a diferença ser pequena?. É claro que a Xerox não foi a única empresa a aproveitar essa tendência de mercado. Muitas de suas concorrentes estão adotando estratégias e discursos parecidos. ?A economia com a terceirização da impressão pode gerar economia de até 30%?, afirma Luis Giovanni Faria, executivo da área de impressoras da IBM, principal concorrente da Xerox no setor. Faz parte ainda dos planos da Xerox do Brasil investir em aquisições de empresas menores, especializadas na prestação de serviços, como estratégia de crescimento no País. Até o início do ano que vem Ferraton deve anunciar uma dessas aquisições, que, segundo ele, já está em fase final de negociações.
A crise e a ressurreição da Xerox não são fenômenos exclusivamente brasileiros. Em todo o mundo a companhia amargou, desde 2001, uma forte queda de venda, associada a uma enorme crise de liquidez ? causada pela necessidade de pagar nos EUA uma multa de US$ 10 milhões por erros contábeis, a maior da história por violação aos informes financeiros. Isso forçou a mudança de foco. O slogan da empresa passou a ser The Document Company. O aluguel de máquinas copiadoras passou a segundo plano. A empresa passou a se dedicar à venda de equipamentos (sobretudo de grande porte) e à prestação de serviços em larga escala. E assim a situação de crise começou a ser revertida. No ano passado as contas empataram. Agora a companhia vai voltar ao lucro, ainda que pequeno. O que não volta mais é o tempo em que a Xerox dominava o mercado de forma soberana e produzia, no laboratório de Palo Alto, na Califórnia, inovações como o mouse, que ditavam os rumos da indústria de tecnologia. A Xerox que saiu da crise está mais sólida, mas ainda luta para não ser uma cópia pálida de si mesma.
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US$ 3,8 bilhões Foi quanto faturou a Xerox em todo o mundo no terceiro trimestre fiscal |