23/11/2005 - 8:00
A jogada é publicitária. Mas por trás dela há um salto tecnológico de respeito. Confirmando um movimento antecipado em agosto pela DINHEIRO, o grupo Santander anunciou na quarta-feira 16 o fim do processo de integração dos sistemas de informática dos bancos que adquiriu no Brasil nos últimos anos e a adoção da marca Santander Banespa em suas operações no País. Em resumo, o banco passa a ter agora uma só plataforma tecnológica e uma só marca no Brasil todo. Para divulgar a nova identidade corporativa, o Santander contratou quatro craques da seleção brasileira como garotos-propaganda: Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Cafú. Armando Pompeu, vice-presidente de Marketing, informa que, no primeiro trimestre de 2006, o sistema tecnológico dos bancos estará integrado localmente e conectado à plataforma de TI do grupo no exterior, conhecida como Altair. ?Do ponto de vista tecnológico, o banco foi inteirinho reconstruído?, diz ele. ?Como nenhum dos sistemas que já tínhamos comportaria o volume de transações que o banco executa hoje, optamos por trocar tudo.? O investimento é de US$ 800 milhões.
Depois de anos no comando da área de varejo do Unibanco, Pompeu chegou em maio ao Santander para cuidar dos departamentos de marketing, pessoa física, distribuição e qualidade. Mais que tudo, porém, recebeu a tarefa de decidir o destino da marca Banespa, que esteve perto da extinção. ?As pesquisas que fizemos nos diziam que os clientes não deixariam o banco se eliminássemos o nome Banespa. Mas havia, sim, um certo orgulho pela marca brasileira?, revela Pompeu. Por ser o antigo banco estatal de São Paulo, o Banespa tem um perfil especial. Dos seus 6,9 milhões de clientes, um terço são funcionários públicos. Isso explica a fidelidade atípica à instituição. Cada cliente tem, em média, 8,7 anos de relacionamento com o banco. A média do mercado está entre 3 e 4 anos. ?Tirar a marca Banespa não nos traria ganho nenhum?, diz Pompeu.
De acordo com seu cronograma, nos primeiros meses de 2006 o Santander deve concluir a integração das suas agências, que serão reinauguradas com a marca Santander Banespa ? e decoradas com farto material promocional do ?quarteto mágico? futebolístico do banco. Até porque 2006 é ano de Copa do Mundo. E tudo o que o Santander quer é exposição voluntária de sua nova identidade. O investimento na marca será de US$ 100 milhões no próximo ano. Tudo para dar ao nome Santander Banespa o destaque que ele julga merecer no País. Com 2 mil pontos-de-venda no Brasil, o banco tem uma rede de agências capaz de fazer frente àquelas mantidas pelos maiores bancos brasileiros. ?Mas as pesquisas mostram que as pessoas não percebem isso?, nota Pompeu. Com a visibilidade garantida por Ronaldo e companhia, a meta é crescer mais rápido que a concorrência e brigar pela liderança.
O número de agências, porém, está no centro de uma polêmica envolvendo o processo de integração dos sistemas do banco. Desde a compra do Banespa, em 2000, o Santander mantém postos de atendimento com as duas bandeiras em áreas próximas umas das outras, simplesmente porque os sistemas de informação não se falavam. Com a integração, os funcionários do banco temem que isso mude. Pompeu garante que não há planos de fechamento de agências. Mas suas palavras não são suficientes para o Sindicato dos Bancários de São Paulo, que pleiteia um acordo formal de garantia de emprego. ?Nós gostaríamos de acreditar nesta promessa?, diz Rita Berlofa, funcionária do Banespa hoje na direção do sindicato. ?Mas não é esta a postura que temos visto.? Só no segundo semestre de 2004, 14 agências foram fundidas em São Paulo. E circulam nos corredores do banco persistentes rumores sobre uma redução de 10% do quadro de funcionários a partir da integração. ?Seriam, no mínimo, duas mil demissões?, calcula a sindicalista. ?Algo inadmissível no momento em que o Santander Brasil reporta lucros recordes à matriz.?