05/01/2001 - 8:00
Quando a Antarctica decidiu, em 1997, fechar a centenária fábrica da cerveja Bohemia em Petrópolis, um grupo de empreendedores comemorou com entusiasmo. Dois anos antes, esse grupo havia fundado a Cervejaria Petrópolis, no município vizinho de Pedro do Rio. A cerveja ganhou o nome de Itaipava, outra cidade da Serra Fluminense, e vem sendo vendida com os mesmos apelos que fizeram a boa fama da Bohemia. As águas cristalinas que brotam das nascentes das montanhas conferem um sabor especial à cerveja. E no folclore dos cervejeiros, a origem, e a conseqüente pureza, da água é o principal fundamento para se fazer uma boa loira gelada. O segundo requisito pede um mestre cervejeiro de reconhecida sensibilidade. Já a cevada e o lúpulo, os outros ingredientes, podem ser comprados de diversos fornecedores.
Com a transferência da produção da Bohemia para a fábrica da Antarctica em Jacarepaguá, no sul do Rio de Janeiro, a Itaipava passou a ser vendida como a única de Petrópolis, cidade que teve D. Pedro II e boa parte da família imperial como reconhecidos bebedores da cerveja local. A origem está correta, mas, a despeito de muitos funcionários, as ligações com a Bohemia param por aí. Até porque a Itaipava é produzida em modernos tonéis de aço, enquanto a Bohemia brotava de antigos panelões de cobre. E o mestre cervejeiro da nova marca, o alemão Roland Reis, veio da Brahma. Segundo informações da Prefeitura de Petrópolis, quando fechou suas portas na cidade, a Bohemia produzia cerca de 300 mil dúzias de garrafas por mês e não tinha espaço físico para ampliar o engarrafamento. A prefeitura diz que os últimos dados da Itaipava indicavam 600 mil dúzias ao mês. O que dá 7,2 milhões de garrafas.
O Sindicato das Indústrias de Cerveja (Sindcerv) afirma que a boa água pode ser fabricada. Após filtragens, as indústrias adicionam alumínio, sódio, aminoácidos, mais ou menos sais, que melhoram a qualidade do líquido. O Sindcerv reconhece, no entanto, que se a água pode ser obtida de forma abundante, sem precisar de muito tratamento, a empresa reduz custos de produção, além de contar com um poderoso instrumento de marketing.
Apostando na mística da Serra Fluminense, o presidente da Cervejaria Petrópolis, Paulo Vilela Pedras admite que suas vendas aumentaram significativamente nos últimos quatro anos. ?Ficamos muito felizes com o fim da Bohemia na cidade?, reconhece Vilela Pedras. Ele, no entanto, inventa mil desculpas para não revelar números de produção, investimentos e capital da empresa. Diz que a fábrica, que já tem 400 funcionários, foi financiada por um grupo de investidores de São Paulo de olho em um mercado que cresce sempre. Na Prefeitura de Petrópolis a informação é de que os empresários são portugueses.
No ano passado foram produzidos 8,2 bilhões de litros de cerveja no Brasil, um aumento de 4,5% em relação a 1999, quando a produção bateu em 7,8 bilhões de litros. Em 2000, o faturamento dos fabricantes de cerveja chegou a R$ 11 bilhões, dos quais 72% ficaram com a AmBev, 14% com a Kaiser, 9% com a Schincariol e os outros 5% com as demais marcas, como Belco, Cintra e Malta. Lembrando que 1% desse mercado representa um faturamento de R$ 110 milhões ao ano, o executivo Vilela Pedras informa que toda a diretoria da empresa está sendo reestruturada para dar ainda mais agilidade a uma estrutura já enxuta. Ele garante que, ainda este ano, pretende colocar a marca em todas as regiões do País.
Existe, porém, uma outra máxima entre os cervejeiros que diz o seguinte: deve-se beber a cerveja o mais próximo possível do local no qual ela é fabricada. Quanto menos viajar, mais terá seu sabor preservado. O único país que se aproxima desse ?ideal? é a Alemanha, onde muitos bares e restaurantes produzem o próprio chope. Mas quem já bebeu a Itaipava, mesmo longe de Petrópolis, garante que ela é mais saborosa e desce melhor ou tão bem quanto as melhores cervejas do Brasil.