24/11/2004 - 8:00
A American Express, dona da bandeira mais sofisticada do setor de cartões de crédito, acertou um golpe de mestre nas suas mais tradicionais rivais. Na segunda-feira 15, a companhia abriu um processo judicial contra Visa e MasterCard em uma corte do distrito de Manhattan, em Nova York, demandando indenização pelos prejuízos causados a ela por alegadas práticas de concorrência desleal das duas companhias. ?Queremos mudar a história da indústria americana de cartões?, disse à DINHEIRO Kenneth Chenault, presidente mundial da American Express. O ataque pegou as concorrentes de surpresa. Afinal, no último round da longa disputa judicial na qual a Amex enfrenta há oito anos as duas outras gigantes do dinheiro de plástico, ela já havia saído vitoriosa ? e a briga parecia encerrada. Há um mês, a Suprema Corte dos Estados Unidos negou o direito de Visa e MasterCard exigirem exclusividade dos bancos associados a elas e classificou tal prática como ilegal. Com a decisão, a Amex ganhou a pretendida liberdade de ação para se aproximar das instituições financeiras e avançar no mercado. Mas Chenault não se deu por satisfeito. ?Com o cartel, Visa e MasterCard prejudicaram o desenvolvimento da nossa bandeira e de todo o mercado por oito anos?, protesta Chenault. Agora, diz ele, chegou a hora do acerto de contas.
O processo não cita cifras para a indenização e nem os analistas americanos se arriscam a estimar um valor. O certo, contudo, é que o número deverá chegar à casa dos bilhões. Até porque a American Express também incluiu no processo os principais bancos associados a Visa e MasterCard nos Estados Unidos: J.P Morgan Chase, Bank of America, Capital One, U.S Bancorp, Household Bank, Wells Fargo, Providian National Bank e USAA Federal Savings Bank.
Ainda que juridicamente restrita aos Estados Unidos, a decisão da Suprema Corte e a ação da Amex inevitavelmente terão desdobramentos internacionais ? Brasil incluído. ?Os efeitos do fortalecimento da American Express no maior mercado do mundo chegarão ao Brasil?, prevê Álvaro Musa, presidente da Partner Consultoria, pensando sobretudo no topo da pirâmide nacional de consumo. Nos Estados Unidos, Visa e MasterCard, juntas, dominam 84% das operações realizadas com cartões de débito e crédito. A Amex tem apenas 9% e até agora esteve praticamente fora da rede bancária. No Brasil, as participações seguem praticamente as mesmas proporções, num negócio que movimenta R$ 48 bilhões anualmente. A expectativa por aqui é que os bancos multinacionais, e também parte dos brasileiros, repliquem o movimento americano, abrindo mais espaço para a Amex, o que pode mudar o jogo nos serviços private dos bancos ? uma vez que a marca American Express, no País, é fortemente identificada com o consumidor de alta renda.
Por ora, no entanto, o alarde feito pela Amex em torno de suas vitórias na Justiça americana é encarado com certo desdém pelas duas poderosas rivais. ?A American Express não tem como provar os prejuízos causados pela política de parceria da MasterCard com os seus bancos associados?, afirma um comunicado internacional da MasterCard. A Visa, por sua vez, se defende do golpe atacando. Para a concorrente, o problema da Amex nunca foi a falta de acesso aos bancos. O que falta é um bom produto de crédito.